sábado, 28 de novembro de 2009

Os bastidores de Woodstock

Depois do excelente documentário “Woodstock” (1970), ficou difícil encontrar o que mais se podia fazer para retratar o mítico festival ocorrido há 40 anos. Se o filme registrava quase tudo o que acontecia no palco e nas suas longas imediações naqueles três dias de paz, amor e música, o cineasta taiwanês Ang Lee precisava buscar um outro olhar sobre o festival que mudou o mundo (da música).

Escolheu os bastidores e contar a história do jovem Elliot Tiber (Demetri Martin), que presidia a Câmara do Comércio de Bethel e resolveu mesmo meio que sem querer realizar o festival na fazenda de Max Yasgur (Eugene Levy) naquele ano de 1969.

Filme mais leve e cômico de Ang Lee, “Aconteceu em Woodstock” não se concentra no óbvio da história do concerto que reuniu craques como The Who, Janis Joplin, Crosby, Stills, Nash e Young e Jimi Hendrix. A música aqui é um eco longínquo que reverbera de um ponto para onde a pequena revolução hippie aconteceu naqueles dias mágicos que quase que por milagre deram certo. Ang Lee, aliás, não lança mão na trilha sonora de nenhuma música conhecida de qualquer artista que tenha brilhado no festival, deixando claro que pretende mergulhar em como aquilo tudo foi feito, nas minúcias daquela loucura.

O seu ponto de partida é exatamente Tiber, um jovem gay que não consegue se assumir diante da ditatorial mãe, Sonia Teichberg (Imelda Staunton), e que numa canetada oferece a Michael Lang (Jonathan Groff) a oportunidade de fazer na sua cidade o tão sonhado concerto depois das rejeições de Woodstock e Walk Line.

A partir deste contato Woodstock é viabilizado e os próximos momentos se ocupam em mostrar em como tudo foi feito. Usando a técnica de dividir a câmera exatamente como Michael Wadleigh fez no seu documentário, Lee mostra a maneira quase improvisada, mas bastante organizada de como tudo foi feito ao mesmo tempo em que expunha o contraponto entre a cultura hippie e a conservadora dos americanos, principalmente de Bethel, que tentaram impedir a realização do evento, mas foram engolidos pela invasão de meio milhão de hippies.

A reconstituição de Lee é bastante fiel ao que é mostrado no documentário. Está tudo lá, mas numa visão bastante idealizada, que é a imagem que Lee já reconheceu que tinha do festival quando tinha 15 anos em 1969. Assim vemos sem preconceito as drogas, as pessoas tomando banho pelada nos lagos, os banhos de lama, os problemas causados pela chuva, que atrasou alguns shows e eletrificou tudo o que fosse feito de metal por perto, os protestos contra a Guerra do Vietnã, a liberdade, o sexo e a diversidade de grupos e estilos que reunia de freiras a motoqueiros naquele estilo Hell’s Angels.

É uma visão um tanto romântica de Woodstock? Sim. Mas os relatos de quem esteve lá nunca foram muito diferentes. Afinal aquele foi um momento único na história da música e da cultura mesmo. E para enfatizar isso, Lee coloca perto do encerramento do seu filme um diálogo bastante pragmático. Quando Tiber já resolvido a se emancipar duplamente da família pergunta a Lang "e agora?", Lang, um dos mentores da ideia de Woodstock, responde: "Agora vem o dinheiro. Todo mundo precisa ganhar dinheiro. Provavelmente vamos processar uns aos outros".

Nada mais correto para um festival que virou uma marca, perdeu aqueles ideais de 1969 e pode até ganhar uma edição brasileira no futuro. O sonho de um mundo de total desprendimento material e muita paz e amor durara apenas três inesquecíveis dias.

Nenhum comentário: