domingo, 1 de novembro de 2009

O show que jamais aconteceu

“This is It”, documentário póstumo sobre a turnê jamais realizada de Michael Jackson tem um valor muito mais sentimental do que artístico. É um filme para os fãs, como o próprio diretor Kenny Ortega, mais conhecido por ter feito dois filmes da série “High School Musical”, faz questão de ressaltar logo no seu início.

Ortega não está ali para criar controvérsias ou algo que desabone o patrão, mas apenas para reforçar, como se isso fosse possível ou necessário, o mito. Não que Michael Jackson, falecido há quatro meses, não o seja. Alguém que dominou a música no seu tempo, criou canções memoráveis e, na minha modesta opinião, dois discos espetaculares – “Thriller” (1982) e “Bad” (1987) – ultrapassa a mera barreira de Rei, como ele ficou conhecido. Só que um artista como Michael merecia um documentário (e mesmo um filme) melhor do que uma mera compilação de apresentações para o vazio sem os aplausos que ele sempre mereceu.

Não que “This is It” não tenha os seus méritos. Ele tem vários. O primeiro é o de mostrar Michael na intimidade de sua criação artística. Todos já estavam cansados de conhecer a figura extravagante que vivia no rancho de Neverland e não queria crescer. Só que o artista genial que detinha o controle de toda a criação artística do seu show é apresentado aos relés mortais agora.

O trabalho mostra a preocupação obsessiva de Michael em agradar os fãs fazendo com que as músicas sejam tocadas exatamente como eles a conheciam. Até as coreografias procuram ser parecidas com as do passado. Basta comparar com vídeos antigos do cantor. Michael por vezes é duro e discute com alguns membros da equipe, mas logo em seguida diz que faz tudo “com amor” ou “por amor” e manda um “Deus te abençoe” para desarmar qualquer um da sua equipe. Músicos e dançarinos, aliás, que só o idolatram e ocupam o espaço no filme para exaltá-lo.

Michael tinha total conhecimento de sua música nota por nota, verso por verso e cada ligeiro desvio era percebido pelos seus aguçados ouvidos e logo em seguida o cantor pedia para que tudo fosse corrigido. “É por isso que nós ensaiamos”, dizia ele.

O trabalho de Ortega também tem o mérito de mostrar um pouco de como seria a turnê de despedida de Michael. Nota-se que ele preparava um show a altura do seu talento e que pudesse ser grandioso e inesquecível. Algo que ia desde efeitos visuais em canções como “They don’t really care about us”, passando pela roupa que estava sendo especialmente feita para ele usar apenas em “Billie Jean” e chegando aos tradicionais clipes usados em “Earth Song” e “Smooth Criminal”, quando Michael “contracenaria” com Rita Hayworth num dueto com 60 anos de diferença em que o cantor invadiria a cena mais famosa da atriz, o strip-tease (escandaloso para a época) de “Gilda” (1946).

Tudo isso ficou apenas na intenção e algumas coisas acabaram sendo concluídas não para o show, mas para o filme que está ai para homenagear Michael Jackson e seus fãs.

E eles dificilmente sairão do cinema decepcionados. Afinal, aqueles ensaios ganharam ares de registros históricos, pois foram as últimas vezes em que se viu Michael Jackson cantando e dançando antes de sua morte. O cantor parecia satisfeito e feliz com o que estava preparando. E, apesar de algumas desafinadas, parecia em forma, ao contrário do que se escreveu dias depois de sua morte, quando alguns jornais sensacionalistas pintaram uma realidade assustadora devidamente desmentida pelas primeiras imagens divulgadas por Ortega.

Se o documentário pode ter alguns senões quanto a sua qualidade, isso não importa muito. A pecha de “filme feito para os fãs” alivia qualquer crítica mais severa. Ali em “This is It” está Michael Jackson na intimidade de sua música e entre a sua criação. Pela última vez. E só por isso já vale a pena pagar o ingresso.

Como o que fica é o grande artista que Michael foi, divirta-se abaixo com alguns exemplos:


"Smooth Criminal" - turnê History

"Wanna be startin something" em 1997

"Jam"

"Just can't stop loving you" - turnê Dangerous - 1992

"Man in the Mirror"

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