sábado, 12 de setembro de 2009

Uma marca totalitária

No momento em que são lembrados os 70 anos do fim da II Guerra Mundial, o nazismo ainda é uma triste cicatriz presente na sociedade alemã. Um fardo que os mais velhos carregam para mostrar aos jovens que aquilo jamais poderá voltar e uma dor que estes mesmos jovens não querem nem ouvir falar, cansados que estão do velho discurso e de terem que pagar por algo que eles não foram culpados.

Enquanto malucos neonazistas ainda proliferam pela Europa – principalmente Áustria, Itália e Alemanha – a chanceler alemã, Angela Merkel, vem a público dizer que “causamos interminável dor ao mundo. Sessenta milhões de mortos foi o resultado”.

A coincidência da data com a que “A Onda”, filme de 2008 estreou no Brasil, permite um paralelo, pois o diretor Dennis Gansel opta por tocar neste ponto e “atualizar” o tema já abordado no filme de Alexander Grasshoff, de mesmo nome, mas feito em 1981, que abordava uma experiência real feita numa escola americana.

Na essência, os dois filmes são similares. Para mostrar para alunos céticos que a humanidade não está livre de ter de volta um regime totalitário como o nazismo, um professor resolve fazer uma experiência na escola criando uma convivência baseada em poder, disciplina e superioridade. Com os alunos aos poucos seduzidos e embarcando na experiência, ele vai chegando ao limite com a criação de um movimento – A Onda – que tem símbolo, uniforme e cumprimento tal qual o nazismo.

O resultado é assustador. E é apenas no desfecho que os dois filmes se diferem. Com vantagem para o trabalho americano, mais impactante do que a película alemã. Por outro lado, o ínterim é vantajoso para o filme de Gansel. Afinal, abordar tais questões na Alemanha tem um peso infinitamente maior.

Por ser exatamente no país onde todo aquele horror começou, Gansel se permite a ir além, abordando no roteiro o conflito destes jovens sendo doutrinados com seus pais, bastante liberais porque conviveram com quem foi testemunha ocular do regime nazista. Essa liberdade, porém, acaba incomodando alguns deles, que exigem mais disciplina para resolver os problemas.

Esta disciplina e o comando acaba resolvendo questões sérias no ensaio de uma peça de teatro e gerando novas amizades. Tudo sob o olhar invisível da Onda comandada pelo professor e roqueiro Rainer Wenger (Jurgen Vogel).

Aos poucos também seduzido pelo próprio poder, Wenger, porém, acaba se vendo envolto na teia que criou. E para sair dela, são necessárias medidas extremas que causam marcas indeléveis. Wenger acabaria, portanto, sendo tragado pela Onda. Uma derrota da sua autocracia.

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