domingo, 20 de setembro de 2009

Quando um prefeito rouba a cena

A melhor coisa do filme “O seqüestro do metrô”, novo trabalho de Tony Scott ora em cartaz, é o prefeito vivido por James Gandolfini (o Tony Soprano da famosa série da HBO). Cínico e debochado, ele parece ter sido inspirado nos políticos que tanto conhecemos aqui do lado de baixo das Américas.
Ao comentar o final do seu mandato, ele, curto e grosso, diz que está contando os dias para viajar para Saint Tropez e nunca mais andar de metrô. Em seguida, diante da pergunta feita por um assessor se ele se pronunciaria sobre um possível ataque terrorista no metrô para acalmar a população, avisa que não pretende fazer isso porque não é candidato a reeleição e deixou em casa sua fantasia de Rudolph Giuliani, o famoso ex-prefeito de Nova York. Por fim, quando questionado se torce pelos Yankees, uma instituição do baseball e uma marca dos nova-iorquinos, é em primeiro lugar sincero dizendo que não, para depois dizer que “sim, é claro”. Ninguém precisa me contar. O personagem de Gandolfini foi inspirado na política brasileira. Esse é o tipo de coisa típica de pindorama.

Se Gandolfini rouba a cena pelo seu humor, cabe a John Travolta (Ryder) trazer um pouco de seriedade ao blockbuster de Scott que é mais um filme a ter como pano de fundo a crise econômica internacional.

Ex-figurão de Wall Street, daqueles que levavam modelos de bundas lituanas para torrar dinheiro na Islândia – logo naquela ilha que quase afundou, pelo menos economicamente - Ryder é uma dessas vítimas do mercado que resolve usar seus conhecimentos para faturar uma grana gratuita e engordar ilicitamente sua conta bancária.

Para isso, ele seqüestra um dos vagões do metrô e repete o bordão de 10 entre 10 vilões do tipo: “Dêem-me o resgate ou mato os reféns”. O dinheiro em questão é algo em torno de US$ 10 milhões que devidamente aplicado numa operação que só contadores e operadores da bolsa entendem multiplicam para algo em torno de US$ 300 milhões. Nada mal.

Só que no meio do caminho havia o nosso herói, no caso o operador do metrô Walter Garber, vivido por Denzel Washington. Figurinha sempre presente em filmes de Scott – já havia filmado com o diretor os longas “Chamas da Vingança” (2004) e “Deja Vu” (2006) – Washington aqui não vive seus melhores dias, mas dá conta do recado num filme relativamente óbvio e com pouca inspiração.

Sob o ponto de vista do desafio, “Deja Vu” era mais interessante, mas do último filme para este, restou a Scott apenas alguns recursos com a câmera que funcionavam melhor naquele longa da historinha tão intrincada quanto dura de engolir. Contudo, é cinema. Quem disse que tudo tem que ser viável.

“O seqüestro do metrô” é mais simples e linear. Contudo, não vai nenhum milímetro além da mera diversão cinematográfica. Se é isso que você procura, vale a pena gastar o dinheiro do ingresso. Do contrário, procure algo mais denso na programação do jornal.

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