domingo, 27 de setembro de 2009

A primeira vez no festival

Sempre tive certo preconceito contra o Festival do Rio. Aliás, posso ampliar isso. Sempre tive problemas com grandes eventos. Quem já teve o trabalho de ler as quatro linhas de como eu me descrevo aí do lado sabe que eu sou fanático por cinema, música e futebol (além de outros esportes que eu poupei de citar). Grandes eventos, no entanto, provocam uma ebulição interna de sentimentos díspares. Eles são o ponto alto para um apaixonado, mas também o irritam por fazê-lo conviver com a, digamos, farofada.

A euforia absurda e a falta de intimidade com o tema dos sem noção incomoda alguém que passa, novamente “digamos”, o ano roendo o osso e na hora do grande filé tem que aturar esses malas. É um sentimento que quem é apaixonado por futebol entende por ter que aturar durante a Copa do Mundo um bando de manés que durante quatro anos ignoram o bom e velho esporte bretão e, não mais do que de repente, mergulham num ardor cívico e desfilam a sua paixão de 30 dias banhada em verde e amarelo para as TVs verem (e faturarem).

Também sabe o que estou falando aquele amante da música que divide o momento máximo que é um festival de rock com várias bandas que ele sempre sonhou em assistir com aqueles que passaram por ali para verem e ser vistos, fazerem uma figuração ou simplesmente estarem ali por que é “in” estar ali. E nós, os apaixonados, só conseguimos imaginar que eles são é completamente out.

Sobre o Festival do Rio, além do temor de encontrar criaturas semelhantes, tinha - ou melhor, tenho - uma implicância por ser um evento que só privilegia quem não trabalha. Essa é a única explicação para que os melhores filmes só passem em horários e dias que ninguém em condições normais pode ver. Ou até anormais, como no caso dos jornalistas.

Um dos principais filmes do evento deste ano, “Bastardos Inglórios”, novo trabalho de Quentin Tarantino (que, aliás, estará no Rio), é praticamente impossível de se ver. “Bastardos Inglórios” tem como sessão mais acessível à de quarta-feira, dia 7, no Odeon, às 21h45m. Mas como sair do cinema à 0h13m para voltar para casa e acordar cedo para trabalhar no dia seguinte? Para quem trabalha no período tarde/noite, então, é inviável. O filme ainda passa na quinta-feira, dia 8, na Barra da Tijuca, um lugar completamente alheio ao resto do Rio de tão distante que é (pelo menos para quem não tem carro), no Leblon, e no Espaço de Cinema, em Botafogo em dois horários inconvenientes para um dia de semana do trabalhador: 16h15 e 23h15.

O que eu quero dizer com isso é que pelo menos deveria haver mais opções de dias e horários. Filmes importantes passando nos fins de semana ou, já que é um festival, por que não fazer sessões diurnas ao lado das tradicionais vespertinas e noturnas?

Mas sou voto vencido nisso tudo. O Festival do Rio é um merecido sucesso com sua seleção de filmes sempre ótima (eu a cada ano tenho vontade de assistir a uns 60 ou 70 dos 300 filmes da programação) e eu vou continuar sendo um parcialmente excluído nesta festa. A menos que eu passe a tirar férias em setembro e seja um “sem trabalho” por duas semanas.

Apesar disso tudo, a minha primeira impressão do festival foi a melhor possível. Ele é mais generoso com o cinéfilo do que é a Copa do Mundo com o fanático por futebol ou os festivais de rock são com o roqueiro. Claro que a minha acertada primeira escolha, um filme do Godard do qual falarei no próximo post, ajuda. Por outro lado, a plateia é bem mais interessante.

Fiz as pazes com o Festival do Rio e pretendo freqüentá-lo no próximo fim de semana e nos próximos anos. Sempre menos do que eu gostaria, mas na medida em que a minha realidade permite. Infelizmente.

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