
Achei “Match Point” (2005) um filme apenas razoável e “Scoop” (2006) ainda abaixo daquele, apesar da presença de Ian McShane, que abrilhanta o filme como um jornalista morto que aparece para uma jovem jornalista vivida por Scarlet Johansson para dar uns conselhos. Não vi o elogiadíssimo (sempre) “Sonhos de Cassandra” (2007), pois ficou pouquíssimo tempo em cartaz. Aliás, parece que hoje em dia para ir ao cinema você precisa correr mais rápido do que o Usain Bolt. Mas isso é papo para outro dia.
O que importa é que eu dei mais uma chance para Woody Allen (ou seria para mim mesmo?) e fui assistir “Vicky Cristina Barcelona”, seu mais novo trabalho, que passou por aqui no Festival do Rio – sempre num horário impróprio para um trabalhador, mas isso também é reclamação para outro dia – e agora estréia verdadeiramente no circuito nacional.
E o que posso dizer do diretor de 72 anos? Finalmente não sou mais um pária. O filme é excelente. Arrisco-me a dizer, sem ter conhecimento de sua obra completa (quem tem? São mais de 60 películas), um dos melhores filmes de Allen.
Ele conta a história de duas amigas que viajam para Barcelona para passar o verão. Vicky (Rebbeca Hall), frígida, metódica, sem graça e prestes a se casar com um americano almofadinha (Doug, vivido por Chris Messina) e Cristina (Scarlet Johansson, a musa do diretor, presente em três dos seus últimos quatro filmes), apaixonante, envolvente, imprevisível e com um enorme naipe de decepções amorosas nas mãos.
Completamente diferentes, as duas vão até a cidade espanhola também com objetivos distintos. Vicky quer completar o seu mestrado em cultura catalã e Cristina esquecer traumas passados e passar um tempo se distraindo e se dedicando à sua nova paixão: a fotografia.
Acontece que lá eles conhecem o pintor Juan Antonio (vivido de maneira extrema e deliciosamente canalha por Javier Bardem), que não perde tempo e logo as convida para um fim de semana em Oviedo com boa comida, bom vinho e um sexo a três.
Juan Antônio estava então se recuperando de uma confusa separação de sua mulher, Maria Elena (Penélope Cruz em uma de suas melhores atuações), que simplesmente havia tentado lhe matar. Como o próprio pintor diz, porém, eles foram feitos um para o outro e não foram feitos um para o outro. É um casal explosivo.
Sob protestos de Vicky, as duas vão até Oviedo onde começa o triângulo amoroso que levará Vicky a repensar sua vida completamente “boring”. Mas é Cristina, mais afeita aos sedutores encantos do pintor, que cai nas garras de Juan Antônio e vai morar com ele.
Só que Maria Elena retorna e quer o marido de volta, afinal sempre o amou. Mas vê como extremamente vantajoso manter química do romance entre Cristina e Juan Antônio. Daí para um relacionamento aberto e a três não demora. Quando menos se espera, Cristina se vê envolta em diferentes emoções e tendo relações com Maria Elena, Juan Antônio e com ambos. E não questiona isso. Não há limite para amar.
A partir desse inusitado quarteto amoroso de tonalidades completamente diferentes das usuais e digna de um surrealismo de Salvador Dalí, Woody Allen constrói seu roteiro de ótimas tiradas. Mas é a sua capacidade de captar o espírito da cidade em que filma a grande sacada do diretor. Se “Match Point” e “Scoop” eram quase fleumáticos e com momentos de formalismo dignos da Londres que ele escolheu filmar (até mesmo na hora em que os crimes são cometidos), em “Vicky Cristina Barcelona” ele capta toda a sensualidade da Espanha, principalmente a Barcelona que ele deseja focar, que a própria cidade se torna um vértice dos casos amorosos que ele constrói.
Barcelona, Oviedo, sejam quais forem, são cidades envolventes e que, graças ao excelente roteiro de Allen e às interpretações dos principais atores, cercam o espectador e o enredam na louca trama construída pelo diretor.
“Vicky Cristina Barcelona” é uma aventura de verão de suas protagonistas, uma sedutora viagem pela Espanha, mas, acima de tudo, um clássico de Woody Allen, que mostra estar, mais do que com a câmera, com a pena afiada para escrever um roteiro tão brilhante, embora não cercado de muita sofisticação. E daí? Grandes filmes também são feitos com simplicidade.
2 comentários:
Gostei da crítica, principalmente porque já vi o filme. e digo-lhe mais. a scarlett continua sendo a minha musa número 1, mas está cada vez menos se revelando uma boa atriz.
a rebecca, surpreendentemente, e a penelope, evidentemente, dão um banho nela no filme!
adorei sonho de cassandra, e concordo que match e scoop são superestimados.
abs, fábio balassiano
Não acredito. Alguém que concorda comigo sobre Match Point e Scoop. Pensava que eu estivesse sozinho nesse mundo cinematográfico.
Quanto a Scarlet, eu não sei se ela não é tão boa atriz ou não pegou um personagem que pudesse mostrar mais o seu talento. Gostaria de vê-la atuando num drama e não vivendo as personagens meio avoadas de "Scoop" e "Vicky Cristina Barcelona" para tirar a prova dos nove.
abraço,
marcelo
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