domingo, 16 de novembro de 2008

Da caipirinha a cerveja em sete anos

Muitos podem não concordar comigo, mas eu acho o R.E.M. uma das melhores bandas do mundo em atividade. Em 28 anos de carreira, os americanos de Athens, na Geórgia, colecionam bons discos – o mais recente dos 21 álbuns, “Accelerate”, lançado neste ano – e sempre fazem shows que ficam no imaginário de quem os presencia.

Mesmo que você não seja fã da banda, a apreciaria ao vê-la tocar. No palco, eles são simples, sem rodeios, mas extremamente competentes. Um telão é o que há de mais “luxuoso” na arena que reúne o vocalista Michael Stipe, o guitarrista Peter Buck e o baixista Mike Mills, acompanhados pelo guitarrista Scott McCaughey e pelo baterista Bill Rieflin. Os cinco fazem o que há de melhor deles com o mínimo de esforço, que pode parecer até não muito empolgante, ou meio blasé para quem olha de fora, mas basta observar os rostos felizes da platéia para ter a certeza que o show é excelente.

No sábado passado, assisti ao segundo show do R.E.M. no Brasil. Foi a primeira vez que eles vieram ao país desde aquela espetacular apresentação no Rock in Rio de 2001, um dos melhores shows daquele festival, talvez só inferior ao do Neil Young. Sete anos mais velhos, Stipe, 48 anos, Buck, 51, e Mills, 49, mantêm a mesma vitalidade e a disposição para experimentar de tudo. Não é a toa que dessa vez Stipe resolveu dispensar a caipirinha de outrora se arriscar bebendo uma cerveja nacional. “Não sei como se fala. Itapaiva. Muito bom”, diz o vocalista, num marketing espetacular para os donos da marca, que, porém, não é muito cultivada entre os especialistas no assunto.

Em turnê de lançamento do novo disco, o R.E.M. fez, obviamente, um set list bastante diferente do que o apresentado no Rock in Rio. O que não os impediu de brindar a galera, composta por muitos que ainda lembravam e estiveram no show de 2001, com clássicos da banda como “One I Love”, “Losing my Religion”, “Everybody Hurts” e “It’s the end of the world as we know it (and I feel fine)”. Todas acompanhadas por um empolgado público que respondia a todos os estímulos feitos por Stipe. Se ele pedia para cantar, o público respondia. Uma resposta, a galera estava lá. Aplausos eram sempre e merecidamente constantes.

Não é a toa que Stipe e a banda pareciam realmente felizes em voltar. O vocalista agradeceu a todo o momento o carinho do público brasileiro e, com uma imagem do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, no telão pediu desculpas pelos últimos oito anos de governo Bush. “We are fucking happy”, disse ele, sobre a vitória de Obama.

A política, aliás, não esteve presente apenas na reverência a Obama. No set list, foi incluída “Exhuming McCarthy”, do disco “Document” (1987), que traça um paralelo entre a perseguição política aos esquerdistas feita pelo senador Joseph McCarthy nos anos 50 – bem reproduzida no filme “Boa Noite, Boa Sorte” (2005), de George Clooney – e uma espécie de "americanismo" da era Ronald Reagan (1981-89), quando os americanos acreditavam estar por cima da carne seca. Com um gravador na mão, Stipes reproduzia a discussão entre o então advogado do Exército americano Joseph Welch e McCarthy: “Have you no sense of decency, sir, at long last? Have you no sense of decency?”. Era como se Stipe estivesse dizendo o mesmo para Bush e sua era do terror.

Em duas horas, o R.E.M. desfilou sua competência em 24 excelentes canções, a maioria delas dos discos “Accelerate” e “Automatic for the people” (1992), um dos grandes clássicos da banda. Deste álbum, a banda tocou “Drive”, “Ignoreland”, a já citada balada “Everybody Hurts”, cantada em coro por um emocionado público que encheu satisfatoriamente a HSBC Arena, “Sweetness Follows”, “Night Swimming” e “Man on the moon”, uma das melhores do R.E.M. que fechou brilhantemente o espetáculo.

Com músicas de dez discos diferentes, reverenciou, portanto, seu passado, mas sem qualquer sentimento de nostalgia. De “Accelerate”, a platéia ouviu as boas “Living well is the best revenge”, que abriu os trabalhos, “Man Sized Wreath”, “Hollow Man”, “Horse to Water” e a ótima “Supernatural Superserious”. Eu, que não havia escutado ainda o disco novo, fiquei com uma ótima impressão de que “Accelerate” lembra o que há de melhor do R.E.M.

De “Reveal”, lançado meses depois da última apresentação no Rio, a banda trouxe a excelente “Imitation of Life” e “She just wants to be”. Deu espaço ainda para canções novas pinçadas de coletâneas ou trilhas sonoras, como “Bad Day”, tirada do “Best of R.E.M. 1998-2003”, que mais parece uma nova “It’s the end of the world as we know it”, e outra grande canção, “Great Beyound”, do disco “Man on the moon” (1999), trilha do filme de mesmo nome de Milos Forman estrelado por Jim Carrey sobre a vida do comediante Andy Kaufman, que morreu em 1984.

Houve ainda espaço para momentos intimistas, como quando a banda se reuniu num canto do palco para cantarem para si sob os olhares da platéia, “Let me In”, e para um barulho de qualidade com, por exemplo, “What’s the frequency Kenneth?”. Que grande canção esta.

“Nós somos o R.E.M. e viemos aqui para fazer música”. Assim, Stipe anunciou a banda. Ao final do show, ninguém teve dúvidas de que o R.E.M. faz mais do que música. Eles produzem canções e espetáculos que se tornam clássicos.

Foi difícil demais selecionar os vídeos para colocar aqui. Tirei algumas, fiquei com pena de não ter colocado outras, mas, de qualquer maneira, se estiverem interessados, o show inteiro está no youtube. Aproveitem.

“Man on the Moon”


“The Great Beyound”


“Losing my religion”


“What’s the frequency, Kenneth?”



“Exhuming McCarthy”

2 comentários:

Anônimo disse...

eu só fico com pena do stipe! beber itaipava faz mto, mas mto mal à saúde!
fazer média com o público, e com os patrocinadores, tem disso. beber essas porcarias aí...
abs e o show deve ter sido ótimo mesmo.
fábio balassiano

Anônimo disse...

Acho que ele não quis fazer média com os patrocinadores. Acho até que a Itaipava não patrocinava o show. Deram para ele e ele experimentou e gostou. Seja como for, foi um showzaço.
abs,
marcelo