sábado, 16 de agosto de 2025

“Elskling” e o preço da falta de terapia

Helga Guren é o grande destaque do filme
Primeiro longa-metragem da diretora Lilja Ingolfadottir“Elskling” é uma pedrada que em alguns momentos lembra um outro excelente filme norueguês: “A pior pessoa do mundo” (2021). Talvez “Elskling” seja até um pouco mais amargo, mas na essência eles guardam alguma semelhança. Especialmente na busca de suas protagonistas em investigar seus problemas, dramas e dilemas internos.

Aqui, vemos Maria (a espetacular Helga Guren), lidando com um segundo casamento que entra num ponto de desgaste após sete anos. Com quatro filhos para criar e um marido que embora a ame está muito ausente pela natureza do seu trabalho, ela se vê sufocada a ponto de explodir de raiva constantemente.

Por um momento, o filme parece que vai fazer o inventário de um relacionamento que começou tão lindamente como o início do filme mostra, mas que vai acabar terrivelmente como em muitos divórcios. Algo como “História de um casamento” (2019).

No entanto, Ingolfsdottir está mais interessada em ir mais a fundo do que o filme americano e expor a gênese dos nossos problemas. E a solução (spoiler: é terapia).

“Elsklimg” levanta a ideia de que se não cuidamos de nossos traumas de infância, eles serão monstros que baterão na nossa porta em nossos relacionamentos futuros. E isso fica muito claro nas atitudes, medos e inseguranças de sua protagonista.

E se não conseguimos perceber as sutilezas que Guren consegue entregar tão bem, o filme desenha para nós ao mostrar a relação de Maria com a sua filha mais velha e com mãe, num dos pontos de virada do filme que nos faz compreender tão bem como aquela alma está quebrada e precisando de ajuda.

“Elskling” mostra como os traumas ajudam a impor barreiras mas nossas relações e criam dificuldades para que as pessoas consigam se conectar. Nem Maria, nem Sigmund (Oddgeir Thune) são culpados por serem quem são. Foi o ambiente que os fez assim. A dificuldade está em romper as barreiras para que eles possam se reconectar.

De certa forma, “Elskling” é um filme anti-Disney. Se o estúdio americano gosta de vender a ideia mitológica de alguém que é feito para uma outra pessoa e vai cuidar de você e o casal será feliz para sempre, “Elskling” prefere mostrar a vida como ela é: somos almas quebradas, com criações imperfeitas, e precisamos lidar com nossos traumas para fazer esta relação dar certo. Ou seguimos em frente até encontrarmos alguém que esteja disposto a travar esta árdua batalha conosco.

Nenhum comentário: