domingo, 3 de agosto de 2025

“Sirât” e a fragilidade do ser humano

Logo na início de “Sirât”, o diretor Oliver Laxe exibe uma mensagem que explica o título do filme. Sirât vem a ser uma expressão que vem da tradição islâmica e significa uma ponte. Ponte esta descrita como fina como um fio de cabelo e mais afiada do que uma espada.

Basicamente, ela seria uma metáfora para a dificuldade em seguir o caminho certo e o nível de precisão necessária para alcançar o seu destino.

Eu devia ter prestado mais atenção a este detalhe no início, pois ele me deixaria mais preparado para tudo o que veria nas duas horas seguintes.

Filme que conta a história de um pai e um filho que saem por raves que acontecem no deserto do Marrocos em busca da filha/irmã desaparecida, “Sirât” é um filme que nos leva a refletir sobre a fragilidade do ser humano e como determinadas escolhas nos direcionam para os mais diferentes destinos.

É também um filme que questiona e coloca em perspectiva a sensação de segurança que eventualmente podemos ter.

Estou pisando um pouco em ovos para escrever aqui, pois este é um raro filme em que falar sobre eventos que acontecem na tela podem prejudicar a experiência.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes neste ano, “Sirât” nos faz pensar. Demorei um pouco a compreender a sua vibe, embora tenha gostado de cara das cenas tão cruas e cheias de textura das raves e também das imagens bem bonitas do deserto. Um deserto que evoca beleza e horror, em que perigo está sempre à espreita aguardando uma decisão equivocada. O deserto é como a morte com quem os homens jogam xadrez, se eu puder evocar uma imagem de “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman (1957).

O uso do som também é uma das ferramentas mais relevantes no filme. E quase um personagem na história.

Ainda estou digerindo o filme, mas quanto mais penso, mais gosto do filme.

Nota 7,5/10.

O relacionamento como equação matemática em “Amores Materialistas”

Pedro Pascal é o destaque do filme
Se “Amores Materialistas” fosse escrito e dirigido por qualquer outro diretor, corria um grande risco de virar uma comédia romântica medíocre igual a muitas que vemos por aí no cinema. Mas Celine Song filma com tanta beleza e elegância, que eleva este filme a um outro patamar cinematográfico.

Segundo filme da diretora sul-coreana e sucessor do excelente “Vidas Passadas”, “Amores Materialistas” conta a história de Lucy (Dakota Johnson), uma matchmaker que trabalha para uma empresa que organiza encontros entre pessoas para formarem casais baseados nos gostos e, especialmente, nas exigências de cada um.

Enquanto atravessa entre a crise e o sucesso no seu trabalho, Lucy se vê entre dois homens, o ricaço Harry (Pedro Pascal) e o garçom e ator amador, e também seu ex-namorado John (Chris Evans).

Lendo esse enredo, o filme soa tão pobre quanto o personagem de Evans, mas Song aproveita os clichês das filmes românticos para refletir sobre uma série de situações bem comuns no dia de hoje.

“Amores Materialistas” fala sobre como o ser humano virou um número descartável, como o amor está sendo visto mais como uma equação matemática que envolve mais uma performance a partir de um conjunto de posses do que como encontrar alguém que melhor combine com você.

O filme também fala sobre como o ser humano não passa de mercadoria no jogo do amor determinado pelos algoritmos (ou boxes) da empresa de Lucy, que não deixa de ser como os aplicativos de encontros de hoje em dia.

O filme emana uma frieza matemática que parece se encaixar perfeitamente com o jeito como Dakota Johnson atua. No entanto, quando ela precisa ter uma virada emocional, “Amores Materialistas” não se sustenta, pois ela não convence quando precisa ter um tom diferente da mulher fria que (supostamente) sabe fazer perfeitamente a matemática do amor. Chris Evans também não vai muito além com o seu galã romântico pobre apaixonado por uma mulher que é out of his league.

Do trio principal, o melhor é Pascal. Ator que está aparecendo em muitas produções populares recentemente, Pascal parece não ter medo de ficar com a imagem saturada. E acaba sendo difícil se cansar dele, uma vez que o ator sabe fazer seus personagens crescerem sempre com interpretações no tom certo. O seu Harry nos engana no início até mostrar que têm mais em comum com Lucy do que imaginávamos.

“Amores Materialistas” só não consegue fugir do desfecho padrão das romances. E da lição no final de que o amor nem sempre é uma equação exata.

Nota 7,5/10.