terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Um Robin Hood para esquecer

Que Robin Hoodd é esse?
De tempos em tempos Hollywood gosta de revisitar as lendas da Inglaterra medieval. O problema é que as novas leituras, na tentativa de dar uma visão original a estas lendas, acabam arriscando-se a criar algumas aberrações. Um movimento que volta e meia surge é o de criar o “filme de origem”. A motivação é: a história principal você já conhece. Agora você descobrirá como o personagem se tornou o que ele é. 

Foi assim com o Rei Artur, que gerou um filme constrangedor de Guy Ritchie, agora é com Robin Hood. “Robin Hood - a origem”, tem como objetivo expor “a verdade por trás do mito”, o que é algo um tanto quanto surreal, ou mesmo anacrônico, visto que nunca se soube se realmente Robin de Loxley existiu, bem como a lenda de que ele roubava dos ricos para dar aos pobres. Na verdade, Robin não passa de um mero personagem do folclore inglês.

A saída dada para criar essa origem é tão constrangedora que a vontade que se tem é de largar o filme com pouco mais de meia hora de projeção. Agora estrelado por Taron Egerton, o Eggsy da série de filmes “Kingsman”, Robin é um lorde bon vivant de Nottingham até que se apaixona perdidamente por Marian (Eve Hawson), não mais uma lady, mas uma ladra que ele descobre quando tentava roubar um de seus cavalos. 

Mas a vida pode dar voltas e um dia Robin é recrutado para tornar-se um cruzado e lutar na Arábia, o serviço militar da época. Após quatro anos em que mostra toda a sua “valentia” e “nobreza de espirito” culminando com a tentativa de salvar a vida do filho do mouro John (Jamie Foxx), Robin volta para casa, onde descobre que perdeu a riqueza, confiscada pelo xerife de Nottingham, e a mulher, agora casada com um plebeu de ambições políticas chamado Will (Jamie Dorner). 

O que se segue é um misto do que conhecemos, ou seja, Loxley tornando-se o ladrão Hood, com pitadas de uma história de corrupção política, conspirações com a Igreja, interesses de riqueza com uma guerra infundada, e o povo cada vez mais pobre e morrendo mas minas enquanto os ricos estão cada vez mais ricos. Enfim parece que era preciso “atualizar” a história de Robin Hood traçando paralelos com a vida contemporânea. 

A pergunta que fica é: por que? Por que fazer isso? Talvez por uma tentativa de angariar um novo público. Mas o que levaria o público a se interessar por uma versão de uma história que não convence, com atuações constrangedoras - o xerife de Nottingham de Ben Mendelsohn e a Marian de Eve são tristes e apagadíssimos - um roteiro apavorantemente ruim e até com cenas de ação, que deviam ser o ponto alto deste tipo de filme quando nada mais dá certo, de qualidade questionável. Apenas uma ou duas podem ser consideradas perto de boas. 

A origem de Robin Hood é um fracasso enquanto filme, mas o desfecho da jornada é no ponto em que conhecemos bem. Robin e seu grupo escondido na floresta de Sherwood, um novo xerife de Nottingham que o conhece bem e o roubou a mulher (não vamos comentar a cena bizarra de Dormer com Eve e todo o desenrolar do ciúme patético) e a perspectiva de um segundo filme. Até de uma nova franquia. 

Robin Hood, porém, precisará melhorar demais seu discurso e suas peripécias para ter uma vida um pouco mais longe. O trabalho do diretor Otto Bathurst ficou muito abaixo da crítica. 

Cotação da Corneta: nota 2.

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