sábado, 22 de dezembro de 2018

Aquaman, mais uma flopada da DC

Momoa é um bom Aquaman, mas merecia outro filme
Marvel x DC é praticamente a versão dos quadrinhos do Emilinha x Marlene dos rádios no século passado. Claramente, porém, a Marvel sempre levou muita vantagem neste confronto. Simplesmente porque suas adaptações são melhores, mais bem feitas e, principalmente, têm roteiros infinitamente melhores. 

É incrível que num momento em que a tecnologia é tão avançada a ponto de criar cenários incríveis e ótimas cenas embaixo d’água, talvez o que “Aquaman” tenha de melhor, a DC não consiga alguém decente para escrever uma história minimamente simples que não evoque problemas freudianos com pai ou mãe, e situações constrangedoras. Os roteiros são o maior calcanhar de Aquiles das produções da DC. Se “Batman vs Superman” (2016) tinha aquela cena constrangedora dos dois heróis resolvendo uma briga só porque descobriram que tinham o mesmo nome da mãe, em “Aquaman” fomos apresentados ao monstro sozinho e com depressão. Sozinho e isolado do mundo nas profundezas do mar sem fim, Karathen aqueceu o coração só porque Arthur (Jason Momoa) conversou com ele. 

- Ohh, você conversou comigo. Que lindo. Em mil anos, nunca ninguém fez isso. Pode levar o tridente para você. 

Este é apenas um exemplo de como “Aquaman” é flopado, embora tivesse grande potencial. 

De um modo geral, a estética brega-kitsch estabelecida por Zack Snyder também cansou. E, sejamos francos, nunca deu muito certo na série de filmes da DC. Os melhor trabalhos nesse sentido foram justamente o “300” (2006) e o “Watchmen” (2009), talvez um dos melhores filmes baseados em quadrinhos. 

Juntando isso aos momentos dignos de um cinema que não se pratica mais - o que foi aquele beijo do Aquaman na princesa Mera (Amber Heard) no meio da guerra? - sobra muito pouco a elogiar sobre o filme. 

Mas tentemos alguns momentos. Por exemplo, as cenas embaixo d’água são realmente muito boas e bem feitas. Os efeitos especiais idem. Todo o combate na Sicília também é um ponto alto. Toda a estética e o design de Atlântida, uma civilização extremamente avançada em relação à humana, também ficaram muito bem feitas, embora, por vezes, Atlântida pareça um refugo de “Avatar” (2009) com pitadas de "Carbono Alterado" (2018). 

Por outro lado, é cansativa demais a busca do Aquaman pelo tal tridente mágico. Era necessário mesmo mostrar em detalhes e com tempo generoso todos os povos dos sete mares? Se fossem mais comedidos daria para economizar pelo menos meia hora de filme. E ainda havia a trama paralela do Arraia Negra (Yahia Abdul-Mateen II), um vilão da superfície que desse um gancho para um segundo filme. 

Por falar em vilões, o rei Orm (Patrick Wilson) é de um constrangimento que só a DC nos proporciona. Ele tem birra porque tem um meio-irmão mestiço, quer iniciar uma guerra com a superfície com base num suposto ataque muito mequetrefe. Além de se tornar o Senhor dos Oceanos, que ambições têm Orm ao querer iniciar uma guerra com a superfície? Quer ser o senhor do planeta? Afinal, não dá para acreditar nesse papo de que os homens estão poluindo planeta e é preciso agir antes que seja tarde. E tudo parte de uma raiva do meio irmão, a quem ele culpa pela morte da mãe, enfim, tudo muito mal contado. 

Por falar na relação de Atlanna (Nicole Kidman) com seus filhos, surge outro problema da DC. A falta de cuidado com o que chamamos de transmídia storytelling. Este é outro momento em que a Marvel anda dando um banho na rival. Durante o filme, a princesa Mera cita que o Aquaman precisa reclamar o trono ou o irmão iniciará uma guerra. E lembra da sua importância ao derrotar o Stepenwolf, dando a entender, portanto, que o filme se passa após os acontecimentos da “Liga da Justiça”. Até aí tudo bem. O problema é que em “Aquaman”, Arthur diz que não pisa nunca mais em Atlântida por causa do que o povo fez com a sua mãe. Só que de pisou lá em “Liga da Justiça” para falar e lutar contra o Steppenwolf. 

Além disso, em “Aquaman”, fica claro o amor e a devoção de Arthur pela mãe desde sempre. O problema é que em “Liga da Justiça”, ele fala de Atlanna com rancor, como se tivesse sido abandonado (“Sua rainha me deixou na porta da casa do meu pai”). Mas em “Aquaman”, é mostrado que ambos tiveram uma convivência na infância de Arthur e o claro amor entre eles, além da devoção que perdurou para sempre. Ou seja, o multiverso da DC tem buracos e contradições. E não é bem amarrado. E isso se evidencia ainda mais pela falta de planejamento para os próximos passos. 

James Wan não entregou o Aquaman em todo o seu potencial, mas Jason Momoa pareceu-me muito bem no papel principal. Deu a impressão de ter sido a escolha acertada, apesar do visual macho alfa bombado ser bem diferente do Aquaman original. 

Mas a DC segue devendo uma sequência de grandes filmes nesta sua nova fase. O único mesmo que merece todos os elogios continua sendo “Mulher Maravilha” (2009). 


Cotação da Corneta: nota 5


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