sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cotação da corneta: 'Jurassic World'

Não é fácil alimentar os bichos
Imagine "Jurassic World" como se fosse um bingo. Um bingo desses de quermesse já que em estamos em tempos de festas juninas. Tudo com uma reunião de jovens senhores (as) reunidos marcando com grãos de feijão a cada dezena cantada pela pessoa que o comanda lá da frente com um microfone. Mas ao invés de números, você marca cenas do filme na sua cartela imaginária.

Crianças que tomam decisões erradas (um clássico dos filmes que tenham o nome Spielberg nos créditos) - grãozinho de feijão na cartela.

Personagem clichê que só pensa no trabalho, metódico e não está aberto ao amor - grãozinho de feijão na cartela.

Macho alfa do tipo bombeiro que resolve os seus problemas - grãozinho de feijão na cartela.

Irmãos que aprendem a se amar em meio às dificuldades - grãozinho de feijão na cartela.

Mulheres frágeis que precisam ser salvas pelo herói - grãozinho de feijão na cartela.

Beijo apaixonado entre os mocinhos com trilha sonora marota - grãozinho de feijão na cartela.

BINGO!

Você venceu, Spielberg. Você enquanto produtor executivo e Colin Trevorrow enquanto diretor. Isso porque "Jurassic World" não traz apenas a nostalgia da primeira trilogia, pois também traz a nostalgia de como se fazia o cinema blockbuster nos selvagens e maniqueístas anos 90 (salvo exceções, é claro), época dos dois primeiros filmes de "Jurassic Park". Aí não sabem por que um filme absolutamente normal como o novo “Mad Max” é chamado de feminista. Ainda que não seja. Também, colocam a velha tática da mocinha frágil interagindo com o herói fortão digno de alguns filmes clássicos da “Sessão da Tarde” e do “Cinema em Casa”. Ok, o mau humor acaba por aqui. Já passou.

Jurassic World não é um reboot da velha série. É uma continuação dos eventos que aconteceram 22 anos depois do primeiro filme. Citações ao “Jurassic Park” de 1993 se espalham nas duas horas de filme que vão trazer ao fã aquele sorriso seguido da exclamação de quem viu uma coisa doce: “Ahhhhh!”

Agora o parque situado na ilha Nublar, ali perto da Costa Rica, é um grande misto de Disneylândia com Zoológico. Um sucesso absoluto em que você vê um Sea World da pré-história com o voo do Mesosauro para devorar um tubarão branco, acompanha o Tiranossauros Rex comendo um bode no almoço e interage com dinossauros herbívoros fofos. Em alguns deles você pode até montar. Não é o máximo?

Quem admistra este parque de forma cartesiana e fazendo planilhas até para a hora do almoço é Claire Dearing (Bryce Dallas Howard). Ela é a típica pessoa que se amarra num power point. Mas é ruiva e tem olhos claros. E quem resiste a uma ruiva de olhos claros? Owen Grady (Chris Pratt, o divertido Peter Quill de “Guardiões da Galáxia”) não é um deles. E deixa claro que sempre teve uma queda por essa mulher certinha, ainda que ele seja do tipo mais som e fúria.

Ai, ai, os opostos que se atraem. Tão clichê. Grãozinho de feijão na cartela do bingo.

Owen tem um emprego interessante no parque. É um ADESTRADOR de velociraptors. Sim, galera, vocês vão ter que aceitar que em “Jurassic World” os dinossauros são como cachorros. Mais um pouquinho e eles dão piruetas e se fingem de mortos ao seu comando.

Só que não seria um filme do Spielberg nos créditos se não tivesse crianças. Muitas crianças. Os principais são os irmãos Zach (Nick Robinson) e Gray Mitchell (Ty Simpkins). Eles são sobrinhos de Claire e, claro, vão para o parque para supostamente reforçar os laços familiares com a titia, que não parece muito a fim de amor, fazer bobagens e tomar decisões erradas.

E eles fazem tudo isso no momento de uma crise. O surgimento de INDOMINOUS REX, um dinossauro geneticamente modificado parte T-Rex, parte velociraptor e com características de outros animais da natureza. Ele é inteligente, controla a própria temperatura do corpo, sabe se camuflar e tem instinto assassino. É o RAMBO dos dinossauros.

Indominous foi inicialmente criado para ser a nova atração espetacular do parque que atrairá centenas de milhares de turistas com sua fúria única. Só que esqueceram de combinar com ele. Cansado do cativeiro, o bicho arma uma armadilha para fugir e descobrir como a vida sádica é uma maravilha. Ele não quer se prestar ao papel de nova atração do circo. Ele quer SANGUE. De humanos ou répteis fofos.

A partir daí as cenas se alternam entre pessoas correndo do dinossauro ou caçando o dinossauro. Mas tudo sem momentos muito fortes para não chocar ninguém. “Jurassic World” é um filme família. Não é “Game of Thrones”.

Mas os humanos não têm como vencer Indominous. Até que se chega à conclusão que tudo é uma questão odontológica. É quando o filme nos dá aquele momento "Godzilla" que não precisávamos. Não vou contar o que acontece. Deduzam se vocês viram “Godzilla”.

“Jurassic World” bateu recorde de faturamento em bilheterias e foi espinafrado por um paleontólogo ouvido pelo Globo. Por mais que não tenha pretensões dramáticas, também não precisava tanta canastrice. E nem as cenas de ação são grande coisa. Principalmente em tempos de “Mad Max” e “Vingadores”. Se aquele bingo valesse um ingresso de cinema, talvez a corneta preferisse apostar em outra coisa. No caso do trabalho de Colin Trevorrow, o filme ganhará uma nota 4.

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