quarta-feira, 18 de junho de 2014

O relógio parou

Iniesta e Torres no fracasso espanhol
Daqui a 13 dias fará dois anos da última atuação de gala da Espanha. Não é que a seleção não tenha feito bons jogos depois disso. Mas a última atuação daquelas memoráveis que serão lembradas como um dos pontos altos de uma geração que fez história conquistando duas Eurocopas e uma Copa do Mundo foi naquela noite do dia 1º de julho de 2012, em Kiev.

Na ocasião, a Espanha atropelou a Itália numa humilhante goleada de 4 a 0 na decisão da Euro. O time de Vicente del Bosque vinha sendo criticado por apresentar um futebol abaixo do esperado dois anos após o título mundial. Já tinha se classificado para a decisão no sufoco passando por Portugal nos pênaltis enquanto Cristiano Ronaldo olhava para o telão e repetia a palavra “injustiça” com uma carinha de garoto mimado.

Então naquela noite a Espanha atuou com raiva. Itália e Alemanha tinham o melhor futebol da Euro. Os italianos haviam eliminado os alemães na semifinal e chegavam à decisão confiantes no título. Só que a Espanha, como eu disse, estava furiosa e atropelou com um futebol belo, envolvente e que não deixou a equipe de Cesare Prandelli jogar. Foi 4 a 0 (gols de David Silva, Jordi Alba, Fernando Torres e Mata) e poderia ter sido mais. Foi o canto do cisne da maior geração do futebol espanhol.

O tempo é cruel. Dois anos podem não ser muita coisa. Mas quatro são uma eternidade. Enquanto a Espanha vivia aquela noite mágica, um mês antes o Barcelona colocava um ponto final na sua era mais vitoriosa. O técnico Pep Guardiola deixava o clube após a conquista de 14 títulos em três temporadas em um time que fez história e virou base da seleção com nomes como Puyol, Xavi e Iniesta.

O sucesso do Barcelona e seu estilo de jogo comumente chamado de tik-taka, de toque de bola, manutenção da posse de bola e que vai estrangulando o rival lentamente até o golpe fatal que no clube quase sempre era dado por Lionel Messi significou o sucesso da seleção. Assim como o ocaso do clube catalão, que viveu um de suas temporadas mais pobres, também representam o ponto final da geração de ouro da Espanha.

Embora tenha chegado na final da Copa das Confederações, o futebol apresentado pela Espanha no ano passado nunca foi de primeira linha como naquela decisão contra a Itália. Mais uma vez chegou à final após uma disputa de pênaltis, desta vez contra os italianos. Na decisão, veio o tão sonhado confronto dessa geração contra o Brasil. Talvez o único desafio que faltava para o time que bateu todas as grandes seleções do mundo em torneios importantes.

Mas o momento era outro. O duelo chegou tarde demais para Xavi, Iniesta, Casillas, Sérgio Ramos e todos os grandes nomes que construíram a bela história da seleção espanhola. A derrota por 3 a 0 foi amarga e um sinal para Del Bosque. Um sinal que o treinador preferiu não ouvir.

O modelo se apresentava desgastado pela falta de nomes de reposição da mesma qualidade. Principalmente de um novo Xavi, um craque que ditava o ritmo do tik-taka espanhol. Um jogador que é difícil encontrar em qualquer lugar e que poucas seleções têm. Talvez só a Itália com Pirlo e a Alemanha com Schweinsteiger tenham jogador semelhante.

Ao mesmo tempo em que a Espanha se enganava com uma classificação relativamente tranquila nas eliminatórias em um grupo cuja única ameaça real era uma França em reconstrução e que ainda pode surpreender nesta Copa, um novo velho modelo de jogar futebol surgia gritando nos ouvidos de Del Bosque. Era o futebol aguerrido, solidário e de pura entrega do Atlético de Madrid de Diego Simeone. Entrega semelhante podemos encontrar no Chile de Jorge Sampaoli, embora ele também guarde semelhanças com o “futebol total sudaca” da Universidad de Chile treinada pelo mesmo Sampaoli entre 2011 e 2012.

Ou mesmo um modelo de jogar mais vertical apresentado pelos alemães do Bayern de Munique e do Borussia Dortmund. Algo que vem sendo uma tendência dessa Copa. Ou o meio termo exibido pelo Real Madrid campeão europeu.

Mas Del Bosque morreu abraçado ao modelo de um relógio que já começava a emperrar. Um relógio que agora parou de vez.

A eliminação precoce da Copa do Mundo representa o fim da linha para Casillas (33 anos), Xavi (34), Xabi Alonso (32), David Villa (32) e Fernando Torres (30). Só para ficar com alguns nomes consagrados.

Agora, uma nova Espanha precisa surgir. Com 30 anos, Iniesta ainda tem gás e bola para conduzir a equipe para um novo momento. O país ainda tem jogadores jovens talentosos. Agora precisa encontrar um modelo de jogo em que estes novos atletas se sintam bem para executar.

Chile 2 x 0 Espanha

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro

Árbitro: Mark Geiger (EUA), auxiliado por Mark Sean Hurd (EUA) e Joe Fletcher (Canadá)

Gols: Vargas e Aránguiz, para o Chile

Chile: Bravo, Isla, Medel, Jara e Mena; Díaz, Aránguiz (Felipe Gutierrez), Francisco Silva, Vidal (Carmona) e Vargas (Valdívia); Alexis Sanchez. Técnico: Jorge Sampaoli.

Espanha: Casillas, Azpilicueta, Sérgio Ramos, Javi Martinez e Jordi Alba; Busquets, Xabi Alonso (Koke), Iniesta e David Silva; Pedro (Cazorla) e Diego Costa (Fernando Torres). Técnico: Vicente del Bosque.

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