quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Palhaço

“Eu faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir?”, questiona o palhaço Benjamin (Selton Mello) numa frase cortante que resume o seu sentimento de crise existencial, insatisfação e sensação de que não faz parte do mundo em que vive. Benjamin está cansado. É um adulto sem carteira de identidade, que não tem endereço fixo, um amor, nem um sentido para a vida. O circo do seu pai, Valdemar (Paulo José), toma todo o seu tempo, suga a sua vida, mas ele não está dando conta. Precisa parar. Parar nem que seja para voltar a um ponto inicial revigorado. Ou não. Buscar outra vida que o deixe mais feliz.

A jornada de Benjamin é o tema central do novo filme de Selton Mello como diretor, “O Palhaço”. Longe da melancolia do seu primeiro trabalho, o ótimo “Feliz Natal” (2008), a nova película de Selton, que também assina o roteiro com Marcelo Vindicato, parceiro do primeiro trabalho, é mais revestida de ternura e uma homenagem ao trabalho de circo e ao artista em geral do que o primeiro parágrafo deste texto pode sugerir.

Sim, “O Palhaço” tem drama. Mas também sabe ser divertido e engraçado. Mostra o valor de sentimentos como amor, amizade e companheirismo e emociona. Pacote completo para todas as idades e gêneros.

De volta a Benjamin. Herói numa trajetória de autoconhecimento, ele é o palhaço Pangaré, artista de circo que junto com o seu pai, o palhaço Puro Sangue, percorre pequenas cidades do interior do Brasil levando o riso às comunidades como a atração principal do circo Esperança. Um nome curioso e contraditório com o momento vivido inicialmente pelo personagem de Selton.

A cada cidade Benjamin tenta descobrir o nome do maluco local, da zona, e do prefeito e sua mulher, sempre cortejados no número principal de sua rotina de fazer rir. Longe do picadeiro, ele tem que administrar um circo que tem seus problemas e com funcionários com suas demandas como qualquer outro lugar pequeno e que vive em dificuldades financeiras se apresentando para plateias minguadas.

Benjamin acha que não está dando conta. Anda com uma maltratada certidão de nascimento, a única prova que ele existe legalmente. Quer tirar uma carteira de identidade para finalmente poder comprar um ventilador à prestação e mudar de ares. Está cansado de andar pelo interior numa máquina caindo aos pedaços e lidar com as corrupções dos tipos bizarros de cada local. Quer se estabilizar, encontrar um amor e dar início a uma nova fase na vida. Está infeliz.

É assim que ele toma a difícil decisão de abandonar o seu pai e a sua família do circo. Distante daquela realidade é que Benjamin vai perceber que aquela é que é a sua vida. Sente saudades da estrada e de fazer as pessoas rirem. E descobre que ser palhaço é que o torna especial e único.


“O Palhaço” é uma bonita homenagem de Selton ao trabalho do artista de circo e todos aqueles que lutam diariamente contra as dificuldades para viver da sua arte. É um filme terno e de muita sensibilidade do ator que vem se transformando num diretor capaz de contar ótimas histórias de uma forma simples e objetiva. Um belo trabalho.

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