segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mais do que uma banda

Eddie Vedder/ Site do Pearl Jam
Parece não existir algo que seja impossível para Eddie Vedder. Há seis anos, eu conversava com um amigo e nós chegávamos à conclusão de que nem o próprio Pearl Jam conseguiria superar uma apresentação tão perfeita quanto a que viramos na Apoteose naquele dezembro de 2005. Era a primeira vez da banda no Brasil para uma turnê que passou por diversas capitais e terminaria com pouco mais de 2h30m de um show espetacular que ficaria marcado na memória das 40 mil pessoas que estiveram no local.

“Sambódromo, eu lembro muito bem daqui”, disse o vocalista, se esforçando para falar português durante o show da noite de domingo no mesmo lugar seis anos depois. Lembrou e para recompensar os seus cerca de 35 mil fãs presentes, os anos de espera e todas as emoções que todos viveram naquela noite, Vedder tratou de se esmerar junto com o seus colegas de banda – Mike McCready (guitarra), Stone Gossard (guitarra), Jeff Ament (baixo) e Matt Cameron (bateria) – para tornar aquela noite ainda mais inesquecível.

E conseguiu. Em 2h40m e 30 músicas, o Pearl Jam repassou a sua carreira de nove discos de estúdio, pouco mais de uma centena de álbuns ao vivo e algumas compilações na apresentação que marca os 20 anos de carreira da banda comemorados com disco, documentário dirigido por Cameron Crowe (que ainda não estreou no cinema aqui, mas passou no Festival do Rio), e biografia. É o “Pearl Jam Twenty”.

Mike McCready e Jeff Ament / Site do Pearl Jam
Em uma carreira tão rica e como o show não costuma ter muito mais do que três horas, é claro que sempre vão faltar músicas. Eu gostaria de ter escutado “I am mine”, “World Wild Suicide”, “Porch” e “Animal”, mas tirar qual do set? Não dava para trocar nada. Só acrescentar. Vedder fez com que tudo fosse perfeito de “Unthought Known”, a canção que abriu os trabalhos, a “Yellow Ledbetter”, a que fechou o show com as luzes da Apoteose já acesas e aquela vontade de não ter que ir embora.

Aos 46 anos, perto de completar 47 daqui a um mês e meio, Vedder continua cantando com a alma, como eu gosto de dizer. Seu jeito emotivo de cantar, segurando com as mãos no microfone e com os olhos fechados reforçam a imagem messiânica que os fãs veem no cantor embora ele mesmo não leve isso muito a sério. O resultado são milhares de marmanjos com camisas pretas da banda ou blusas de flanela, um ícone da estética grunge, chorando copiosamente e/ou imitando o cantor ídolo. Enquanto isso, o vocalista olhava feliz para a plateia entre um gole e outro em uma de suas garrafas de vinho que no final do show foi dividida com os fãs do gargarejo. Só faltou alguém dizer que era o sangue de Vedder, o salvador.

Todos querem ser Eddie Vedder e o cantor retribui esse carinho dando tudo de si no palco. Ao seu lado, McCready é o responsável pela maior parte dos solos que fizeram a marca do Pearl Jam. Com frequência dialoga com Gossard levando o público ao delírio enquanto Cameron e Ament completam um quinteto que está entre os mais azeitados do rock.

Delírio é uma palavra que poderia ser frequentemente repetida ao longo da noite. Foram poucas as músicas que tiveram alguma recepção fria. Três, talvez quatro. Na maioria das vezes, muita emoção e letras na ponta da língua, por mais que isso possa parecer impossível diante das difíceis letras do cantor. “Jeremy” ganhou um coro até quando a banda já tinha deixado o palco para uma pausa. “Given to fly” e “Do the evolution” foram cantadas a plenos pulmões, assim como músicas do “Ten”, o disco que tem duas décadas celebradas neste ano. Além de “Jeremy”, foram tocadas “Even Flow”, “Alive”, “Black” e “Why Go”. Do mais recente álbum, “Backspacer” (2009), vieram, além de “Unthought Know”, as ótimas “The Fixer”, “Got Some” e “Just Breathe”, cantada por Vedder apenas no violão. Faltou apenas “Johnny Guitar” para ficar perfeito.

Entre a primeira e a 30ª canção, o Pearl Jam não deixou passar nada. Lembrou todas as fases da sua carreira e ainda fez uma surpresa. “É a primeira vez que cantamos essa música”, disse Vedder, antes de começar a tocar “Mother”, do Pink Floyd. Este foi um dos três covers da noite, que teve ainda “I believe in miracles”, dos Ramones, logo após “Come Back”, música que o cantor explicou ter sido feita em homenagem ao seu amigo Johnny Ramone (“Sinto falta dele todos os dias”), e “Keep on rocking in the free world”, o clássico de Neil Young que o Rio não viu em 2005. Esta e “State of love and trust”, foram aquisições sonhadas pelo público carioca, que finalmente pôde ver a banda tocar as duas músicas ao vivo.

Foi uma noite perfeita que já tinha começado muito bem com o X, banda punk de Los Angeles que Vedder trouxe para abrir os shows do Pearl Jam no Brasil. Noite perfeita e agora sim insuperável. Será?

Abaixo, o set list e alguns momentos inesquecíveis do show. Durante a semana vou colocando mais vídeos aqui enquanto for encontrando no YouTube.


Set list: “Unthought Known”, “Last Exit”, “Blood”, “Corduroy”, “Given to fly”, “Nothingman”, “Faithfull”, “Even Flow”, “Daughter”, “Habit”, “Immortality”, “The Fixer”, “Got Some”, “Elderly woman behind the counter in a small town”, “Why Go”, “Rearviewmirror”. Primeiro bis: “Just Breathe”, “Come back”, “I believe in miracles”, “State of love and trust”, “Off the Earth”, “Do the Evolution” e “Jeremy”. Segundo bis: “Mother”, “Betterman”, “Black”, “Alive”, “Rockin’In the free world”, “Indifference” e “Yellow Ledbetter”.

"Jeremy"
"Given to fly"
"Black"
"I believe in miracles"

Um comentário:

Anônimo disse...
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