sábado, 2 de outubro de 2010

O festival de novo

Mais um ano, mais um festival de cinema do Rio e mais uma vez vou implicar com ele. Não é de hoje que falo que o festival do Rio não é para quem trabalha. Faltam opções de horário e de lugares para que as pessoas possam ver realmente os filmes que gostam sem ter que fazer sacrifícios para isso. Afinal, eu não consigo conceber que diversão tenha que vir do sacrifício.

Por conta disso, pela enésima vez não conseguirei ver os filmes que mais desejava dessa maratona toda. Os deste ano seriam: “Film Socialisme”, do Godard, e “O retrato de Dorian Gray”, adaptação do livro de Oscar Wilde. O primeiro, pelo menos, tem distribuição garantida nos cinemas brasileiros nos próximos meses. Do segundo ainda não ouvi ou li nada a respeito.

Este blog não me deixa mentir sobre o meu fascínio pelo cinema. Ele praticamente não existiria se eu não fosse tão fanático pela sétima arte. Contudo, mais uma vez passarei praticamente em branco neste festival. Pelo menos já igualei a marca do ano passado e consegui assistir a um filme.

E foi uma bela escolha. Indicado para dois Oscar neste ano, “A última estação” conta a história dos últimos dias de vida do escritor russo Lyev Tolstoi (Christopher Plummer) – 1828-1910 - , quando ele abre mão de todos os bens em nome de uma vida mais simples sem o luxo do qual ele então se envergonhava e que resultava em brigas com sua amada esposa Sofya Tolstoi (Helen Mirren), que queria manter os privilégios da família conquistados graças ao trabalho do escritor de “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”. Nascia o embrião de sua doutrina tolstoiana de resistência sem violência e igualdade entre as pessoas que após consultar o vasto mundo da internet descobri que influenciou gente como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

O filme conta com um elenco de primeira. Além da dupla de protagonistas que foi responsável pelas duas indicações ao Oscar como ator coadjuvante e atriz, há ainda o sempre ótimo Paul Giamatti e James McAvoy que vivem o grande amigo de Tolstoi, Vladimir Chertykov, e o secretário deste e aprendiz de escritor, Valentin Bulgakov.

Os duelos entre Mirren e Giamatti, que vivem inimigos na tela, são especialmente deliciosos, e a grande atração de um filme que sabe dosar bem drama e humor ao mesmo tempo em que não deixa de ser uma bonita, apesar de conflituosa, história de amor que durou até a morte do escritor russo.

Amor que também desafia picuinhas de uma doutrina que nem o próprio Tolstoi parecia levar a sério a partir da paixão do jovem Bulgakov por Masha (Kerry Condon). A ele bastava a essência de suas ideias e não pormenores como a necessidade ou não da castidade tão defendia por Chertykov, que estava mais preocupado em criar um mito quase divino para Tolstoi do que em reverenciar a genialidade que o escritor já tinha independentemente de quaisquer conceitos mundanos.

Mais do que reverenciar um escritor genial e amado pelos russos, “A última estação” é um belo e divertido mergulho na história de um gênio que aparentemente fazia questão de ser normal e igual a todo mundo. Pelo menos é isso que o bom filme de Michael Hoffman deixa transparecer numa sessão de cinema muito bem garimpada ao meio as dificuldades de se assistir a um festival de cinema. Apesar da minha implicância, só por esta película o festival do Rio já valeu a pena.

Abaixo um vídeo interessante com imagens do real Tolstoi na Rússia.

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