sábado, 30 de outubro de 2010

Bálsamo cinematográfico

A auto-ajuda é uma fórmula que dá certo por lhe oferecer tudo o que você necessita para melhorar a sua vida supostamente medíocre. Uma história de auto-ajuda começa com a pessoa em crise e invariavelmente descobrindo que é infeliz. O próximo passo dessa ópera bufa é a jornada de auto-conhecimento que resulta na busca da felicidade. Por fim, você atinge esse estágio máximo a partir de lições ao estilo parachoque de caminhão e é feliz para sempre. Ou quase, pois o livro acabou e não contou o resto da história. O epílogo nunca é divulgado.

Quem escreveu a obra continuou vivendo e ficamos impossibilitados de saber se as regras funcionaram para a pessoa que as ditou no best-seller do momento.

A auto-ajuda é, portanto, um manual para a sublimação da existência. É o Kama Sutra da alma que promete orgasmos múltiplos para quem segue todos os passos. E se você não segue? Será infeliz para sempre, ora. Pois eu (o auto-ajuda) sou o caminho, a luz que guia a sua alma.

“Comer Rezar Amar” é basicamente isso. Mais um livro de auto-ajuda que a partir de três verbos no infinitivo fundamentais para a humanidade sobreviver descreve uma jornada de erros e acertos, equilíbrio e desequilíbrio, até um final regado a glicose numa paradisíaca ilha do fim do mundo.

Não li o livro. Isso são observações do filme do diretor Ryan Murphy que com sua história adocicada atraiu a atenção da musa dos filmes adocicados Julia Roberts e de um dos grandes atores do momento, o espanhol Javier Bardem (claramente se divertindo e relaxado na película).

No filme, Julia é a escritora Elizabeth Gilbert, que, em linhas gerais, descobre que seu casamento com o loser Stephen (o sem sal Billy Crudup) é uma farsa e o posterior namoro com David (o ainda mais sem sal James Franco) é uma bálsamo para que ela não se afogue na vida.

Resumindo, Elizabeth chega a conclusão que sua vida é uma merda e resolve tentar recuperá-la com um “tratamento de choque” para endinheirados. Vai viajar por um ano onde se dedicará a comer na Itália, rezar na Índia e acabará descobrindo o amor em Bali.

Um ano apenas viajando e vivendo de suas economias e das mais variadas experiências. Liz come sem culpa o melhor da culinária italiana, tenta atingir o equilíbrio espiritual a custo de algumas dezenas de mordidas de mosquitos na Índia e em Bali vai visitar o guru que "previra" (muitas aspas, por favor) um ano antes a sua aventura e dissera que ela voltaria para vê-lo. Destino para os que acreditam, coincidência para os céticos.

Não há ninguém melhor do que Julia para interpretar Liz. Ela parece ter nascido para o papel que desenvolve sem tropeços até por não ter tantas exigências dramáticas. É basicamente uma mulher em crise em busca de salvação. E é claro que ela vai conseguir. Do contrário não haveria livro e muito menos filme. Portanto, não estraguei a sua surpresa caso você não tenha visto a película.

Por outro lado, Bardem desfila no papel do brasileiro Felipe o seu talento transformando um personagem simples num show de atuação. Com suas nuances, o Felipe de Bardem se torna um personagem ainda mais rico fazendo com que as aparições do ator se constituam em alguns dos melhores momento do trabalho junto com as belíssimas paisagens filmadas por Murphy. Paisagens que ajudam a tornar a película romântica, simpática e leve. Uma gostosa diversão numa sessão de cinema sem compromisso.


“Comer Rezar Amar” pode ser um bálsamo cinematográfico para alguns ou mesmo mera diversão despretensiosa para outros. É um filme para almas sensíveis ou para todos os que estão a fim de passar as próximas duas horas e meia longe dos pesadelos da vida real. Murphy acertou em cheio na mensagem que queria passar.

Nenhum comentário: