terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Um Juno para adultos

“Amor sem escalas”, horroroso título em português para “Up in the air”, é um “Juno” (2007) para adultos. No lugar dos dilemas da jovem Juno MacGuff (Ellen Page), que engravida do namorado sem estar preparada para isso e resolve entregar o bebê para um casal que procurava uma criança para adotar, entra a história de Ryan Bingham (George Clooney vivendo algo como George Clooney), homem de meia idade rico e solteiro que passa a vida viajando pela sua empresa para demitir pessoas pelos Estados Unidos e que nunca teve qualquer relação minimamente duradoura.

Claro que é um “Juno” um pouco mais turbinado. Se o trabalho anterior do diretor Jason Reitman custou US$ 6,5 milhões (e arrecadou US$ 200 milhões nos cinemas), “Amor sem escalas” chegou às salas depois de um investimento de US$ 25 milhões. Muito desse dinheiro deve ter sido dado pela American Airlines, que ganha generoso merchandising em 1h49m de película.

Mas como eu falava, o novo trabalho de Reitman é uma tentativa de repetir a fórmula de sucesso de “Juno”. Como o seu último filme, é basicamente uma comédia dramática que usa um roteiro, digamos, descolado e simpático. Mesmo com a ausência da roteirista Diablo Cody, o espírito que Reitman e Sheldon Turner impuseram à adaptação do livro do escritor Walter Kim é o mesmo da ex-stripper que faturou o Oscar em 2008. São diálogos rápidos, frases curtas e tiradas engraçadinhas que fariam qualquer pedra de gelo no mínimo dar um sorrisinho de canto de boca. A trilha sonora também é bem escolhida e de qualidade, embora inferior ao trabalho anterior.

O desfecho do filme também é semelhante ao de “Juno”. Quando você imagina que ele vai ser aquela lição de moral, aquela renovação dos valores tradicionais, ele dá uma guinada de 180 graus para mostrar que se o cinema imita a vida, ele não pode ser tão mentiroso com uma conclusão semelhante ao paraíso na terra. E nem precisa ser o inferno de Dante. Ou seja, Reitman pode ter se vendido para a American Airlines, mas pelo menos manteve algumas convicções.

Como “Juno” e por causa de suas qualidades semelhantes, “Amor se escalas” também é um filme agradável. É daqueles trabalhos que nunca estarão naquela lista de 50 filmes da sua vida, mas que você sempre vai se lembrar de uma sessão agradável no cinema.

E ainda tem Vera Farmiga, bela atriz de 36 anos, que engole Clooney quando contracena com ele através de sua Alex Goran e a sem sal e bobinha Natalie Keener vivida por Anna Kendrick. Alex é o caso de ponte aérea de Clooney nas andanças pelos Estados Unidos enquanto Natalie é a companheira de trabalho sonhadora de Clooney que em nome da economia (o filme tem a crise econômica como pano de fundo) quer diminuir drasticamente o número de viagens da empresa de Ryan, que passaria a demitir os funcionários on-line. Natalie é mala. Alex é o desejo de qualquer homem.

Como curte a sua vida de falcão solitário, Ryan não gosta nada dessa mudança tecnológica na empresa e a carrega a contragosto para o mundo real. Aos poucos, os dois vão vendo os lados bom e ruim a partir do ponto de vista de ambos, contudo nada que possa mudá-los profundamente. Mas digamos que o frio Ryan passe a querer viajar menos depois de tantas experiências.

Se “Amor sem escalas” repetirá o sucesso comercial de “Juno” e também será laureado com um Oscar, só saberemos no futuro. Mas pelo menos o novo trabalho de Reitman é divertido. Isso ele prova que sabe fazer bem.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, melhor ator para George Clooney, melhor atriz coadjuvante para Vera Farmiga e Anna Kendrick, melhor diretor para Jason Reitman, melhor roteiro adaptado para Jason Reitman e Sheldon Turner

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