sábado, 13 de novembro de 2021

"Eternos" ficou devendo, mas ainda assim é divertido

Eternos e suas belas fantasias de carnaval
Levar para o cinema os personagens cósmicos da Marvel era um grande desafio. Primeiro, eles nunca foram realmente incríveis nos quadrinhos. E ainda assim era preciso torná-los interessantes e palatáveis para o grande público que não consome e desconhece completamente estas histórias numa narrativa que se enquadrasse no universo cinematográfico do estúdio e pudesse criar uma nova mitologia neste mesmo universo.

“Eternos” (“Eternals”, no original) não consegue atingir todos os ambiciosos objetivos. De fato, se o filme for visto apenas como uma aventura de uma gama de heróis da Marvel, ele até vai bem. Tem uma história tradicional, plot twists, batalhas interessantes e um final em que o bem vence o mal e, entre ganhos e perdas, a vida segue rumo a próxima aventura.

O filme, porém, não é bem sucedido quando vai para além desta camada primeva. Quando tenta discutir o papel dos Eterno na humanidade e sua função durante sete mil anos, quando levanta as capas de uma suposta hipocrisia e de um jogo de peões interplanetário em um xadrez muito maior do universo ele não passa de uma camada um pouco pálida.

É perceptível o esforço do filme em trazer uma camada de importância e construir um filme que se distancia vagamente da chamada fórmula Marvel, trazendo algumas discussões, digamos, sociológicas. E é muito válido que isso seja feito de alguma forma. Mas era preciso fazer tanta coisa neste filme: apresentar e mostrar quem são os Eternos, explicar o que são os Celestiais e os Deviantes, apresentar Dan Whitman, que deve vir a ter um papel importante na futura formação dos Vingadores, explicar por que os Eternos não interferiram na batalha contra Thanos e os demais conflitos da humanidade. Enfim, era muita coisa a fazer em 2h37min. Portanto, essa tentativa de dar um corpo acadêmico ao filme fica em quinto plano e não passa de flashes numa história que precisa seguir em frente nas batalhas e na construção daquele universo. Creio que “Pantera Negra” (2018) tenha sido mais bem sucedido em tentar ir para além de uma trama tradicional de quadrinhos.

Mas dito isso, “Eternos” é bem legal. Nos apresenta uma gama de personagens que no cinema ficaram interessantes em uma trama tradicional que envolve o dilema entre seguir o seu destino ou cuidar da sua família. Mas essa é muito uma perspectiva de um leitor de quadrinhos.

Para alguém mais leigo, “Eternos” parece um filme bastante frio e distante. Confuso com todos aqueles saltos temporários e um pouco vazio, com pouco aprofundamento da maioria dos seus personagens. Ao mesmo tempo em que talvez seja didático demais. Por outro lado, talvez seja fundamental que ele seja didático para o grande público se ver inserido no contexto daquela mitologia.

Falta a “Eternos” também uma assinatura mais forte de sua diretora. Num ano em que Chloe Zhao ganhou um Oscar por um filme tão autoral e excelente como “Nomadland”, esperava-se que “Eternos” tivesse mais da diretora, por mais que Kevin Feige fosse quem comanda a roda da Marvel. O filme não parece muito diferente do que seria sob o comando de outra cabeça. Mas creio que Zhao pelo menos consegue fazer um feijão com arroz satisfatório na construção desta aventura e, eventualmente, implantar as suas ideias em pontos específicos da história.

Narrativamente, porém, o filme falha na trama de Ikaris (Richard Madden). A virada que o personagem ganha soa artificial uma vez que é abordado de forma muito rápida os conflitos entre a fé e a razão entre os Eternos. E depois disso, quando Ikaris hesita não fica muito claro os seus motivos ou soa um tanto quanto um “momento Martha” por ser simplesmente por amor enquanto até ali ele foi intransigente no seu plano a ponto de ter tomado decisões tão drásticas.

O que fica de positivo em “Eternos” é sua aventura, a participação de Angelina Jolie, os personagens interessantes, as boas cenas de luta e a perspectiva de um segundo filme que aprofunde mais suas histórias e desenvolva as consequências dos atos dos personagens neste filme, uma vez que o universo já está estabelecido.

O futuro parece promissor. O presente, porém, ficou entre o morno e o divertido. E com umas boas piscadelas da Marvel para a DC, talvez uma das boas sacadas do filme em seus momentos mais cômicos.

Cotação da Corneta: Nota 7.



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