segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Quanta gritaria...

Então, a mamãe está resolvendo uns probleminhas
Um filme que começa com três crianças gritando por trinta segundos naquele clima de praça de alimentação de shopping numa tarde de domingo não pode ser bom. E é pior ainda quando você percebe que a gritaria perpassa as quase duas horas de “Projeto Flórida”. Eu não sei como eu sobrevivi. Mas cá estou para falar deste filme. 

Para começo de conversa, “Projeto Flórida” está no Oscar e eu não entendo o motivo. Isso porque a sua única indicação é para um Willem Defoe apenas sendo Willem Defoe. Nada de especial, nada de destacado. Consigo pensar em pelo menos dez papéis mais interessantes que o Defoe fez ao longo da vida. Logo, pareceu-me um exagero essa indicação de coadjuvante. 

E ainda tem as crianças malas. É um filme com a maior reunião de crianças malas da história recente de Hollywood. É de enlouquecer vê-las gritando e fazendo merdinhas o tempo todo. Quer dizer, nem tudo é merdinha. Afinal, colocar fogo numa casa é uma merdona. 

Mas nem tudo é ruim em “Projeto Flórida”. O filme tem umas sutilezas interessantes, e, de longe, a personagem de Bria Vinaite é a mais interessante. Bria faz Hailey, a mãe de Moonie (Brooklynn Prince), a mais espevitada das crianças. Hailey é a história sofrida de uma mulher em que tudo dá errado, mas ela tem que se virar para criar a filha da melhor maneira possível. 

Ela mora com a criança num quarto de motel xexelento na Flórida, no caminho para a Disney, mal tem dinheiro para pagar o aluguel, não consegue emprego, já foi presa, já foi stripper e usa a prostituição como último artifício para tentar dar alguma alegria e manter a filha consigo, antes que o pessoal do serviço social a tire dela. 

A menina, por sua vez, passa os dias todos brincando (e fazendo merdinhas) no motel e no seu entorno, dando pequenos golpes e transformando a sua realidade da forma mais lúdica possível. O importante para ela, porém, é essa relação inquebrantável de amizade com a mãe. Inclusive, elas são muito parecidas nas atitudes e posturas. Natural. 

É uma história dura, quase um cruzamento de “Pequena Miss Sunshine” (2006) com a trama da mãe drogada de Little em “Moonlight” (2016), mas isso é mais explorado apenas no terço final do filme.

Durante toda a projeção o que ficam mesmo são os gritos. Eles vão batucar no meu cérebro ainda durante um tempo. 

Cotação da Corneta: nota 4,5.

Indicações ao careca dourado: Ator coadjuvante (Willem Defoe)

Nenhum comentário: