sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Que jogada certeira

Que roubada que você se meteu, hein?
Acho pôquer um jogo muito maneiro. Coisa de gente rica né. Eu me sentiria com mais dinheiro se eu jogasse pôquer, mesmo que minhas apostas tivessem o peso de um croissant de amêndoa e um pão de Deus. Mas eu entendo tanto de pôquer quando de física quântica.
Aaron Sorkin fez uma bela tentativa de me fazer aprender o jogo, mas eu continuo não entendendo BULHUFAS. Só acho que uma jogada que tenha o nome de Royal Straight Flush devia ter a maior pontuação em todos os jogos de carta possíveis.
Ainda bem que “A grande jogada” não é um filme apenas sobre pôquer. É um filme sobre ousadia, sobre apostar contra a banca e ver no que dá. É também sobre Freud e sobre orgulho.
É um filme também do Aaron Sorkin. Quem viu “A rede social” (2010) e “Steve Jobs” (2015) sabe que ele é VERBORRÁGICO a ponto de quase ser impossível acompanhar as legendas. Tem aqueles cortes secos e você fica meio que disputando corrida com as letrinhas. Mas no fim tudo dá certo, porque os filmes do Sorkin são muitas vezes divertido.
(E AGORA VAMOS A UM FLUSH DE SPOILERS)
“A grande jogada” conta a história de Molly Bloom (Jessica Chastain, a senhora quase absoluta do filme). Ex-atleta de esqui, ela tem que abrir mão da vida na neve por causa de uma lesão na coluna. Mas, vocês sabem, ganhar está no sangue de qualquer atleta muito competitivo.
Diante disso, Molly vai para Los Angeles decidir o que quer da vida. Ela não sabe se casa, se compra uma bicicleta, se vira advogada... Até que na night ela descobre uma mina de dinheiro chamada pôquer.
Maluca, obsessiva e muito mais inteligente que eu, Molly logo aprende todos os fundamentos do jogo, as artimanhas, os blefes e os tiques dos atletas da alta roda. Queria ter uma filha assim.
Aos poucos, ela vai se tornando a grande dama da jogatina (e aí de você se chamá-la de princesa). E tudo sem infringir a lei. Mas andando bem na margem dela. BEEEEEEM na margem.
É claro que quanto maiores as apostas de Molly, maior a chance de dar merda. E quando ela se mete com os russos.... aí ferrou né. Pô, Molly, uma mulher tão inteligente como você não pode dizer que não era suspeito um dinheiro vindo de uns caras com nomes com fim OFF E OV que jogavam despretensiosamente no Brooklyn. Isso fedia num nível...
Claro que o FBI bateu na porta dela. E ela foi bater na porta do Idris Elba. Elba ainda não é um agente secreto, mas veio para salvar o dia no papel do advogado Charlie Jaffey. No início ele reluta. Não quero me envolver com você. Você é fria. Mas Molly sempre entra para ganhar. De alguma forma consegue convencer o advogado a trabalhar para ela. Só não sabe ainda como pagar os US$ 250 mil de honorários.
No momento pré-tribunal, o filme transforma-se em um filme sobre a honra. Os advogados de acusação oferecem imunidade se ela contar tudo o que sabe sobre quem esteve jogando nas suas mesas. Molly se recusa e diz que só tem uma coisa que presta na vida: seu nome. Bate o pé e diz não. “Eu não sou uma personagem de James Joyce, mas sou uma Bloom de respeito”.
Aí o filme vai para a Sessão de Terapia. Porque o pai dela, o Larry Bloom (Kevin Costner), resolve falar umas verdades. “Você só organizou essa porcaria toda aí para ter o prazer de ter os homens no cabresto. Você gosta de dominar os homens. Porque você não gosta do seu pai porque eu tinha uma amante”. Molly só diz: “Você está de sacanagem? Lavação de roupa suja a essa hora?”
O paizão responde: “Eu sou terapeuta, freudiano na veia. Você desprezou Freud na infância e agora ele veio te assombrar”.
Eu não consegui engolir muito bem a explicação psicanalítica para Molly ter se tornado quem é. Porém, se foi assim que aconteceu na vida real, paciência né?
Ah, faltou contar isso. Molly Bloom existia mesmo, teve esse império do pôquer mesmo e há quem diga que o jogador X, vivido por Michael Cera no filme, era o Tobey Maguire (daí a piadinha no roteiro: “Ele era o meu super-herói”, pois Maguire já foi o Homem-Aranha). E sabe que outras celebridades já estiveram na mesa de carteado de Molly? Leonardo Di Caprio, Matt Damon, Ben Affleck, Pete Sampras... Pelo menos é o que dizem na boca pequena. Molly mesmo nunca revelou as identidades de quem jogou com ela, como o filme mostra.
“A grande jogada” é uma boa diversão, tem uma Jessica Chastain brilhando, tem um Idris Elba muito bem, mas Sorkin já nos entregou filmes melhores. Eu acho, por exemplo, “Steve Jobs” (2015) e “O homem que mudou o jogo” (2011) trabalhos mais interessantes. Porém, o filme valeu cada centavo. Não chega a ser um royal straight flush, mas passa por um full house.
Cotação da Corneta: nota 7,5.

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