quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Esse grego tem problema (ainda bem)

Você mal perde por esperar a minha vingança
Tem um maluco relativamente novo no pedaço. Ele é grego, mas não é tão difícil falar o nome dele. Chama-se Yorgos Lanthimos. Isso não é nada para quem já teve que escrever PAPASTATHOPOULOS, o nome do zagueiro do Borussia Dortmund. Mas como eu dizia, não sei o que dizer sobre Lanthimos. Só sentir.
Só vi dois filmes dele, mas agora desejo ver toda a sua curta filmografia. As únicas coisas que eu posso dizer dos filmes que eu vi é:
1- Ele gosta de histórias que incomodam, causam desconforto e te deixam bolado dentro do desconforto.
2- Ele gosta de títulos de filmes com nomes de bichinhos (lagosta, cervo... sabe lá qual será o próximo)
3- Ele tem obsessão pelo Colin Farrell, pois ninguém é perfeito.

Mas poucas vezes eu saí de um cinema tão embasbacado e pensando: “Cara, você foi longe demais”. Mas eu logo censurei esse pensamento. Não há longe demais para a arte. Então, “cara, você esticou a corda dos limites com esse “O sacrifício de um cervo sagrado”.
(E A PARTIR DE AGORA, AVANCEM POR SUA CONTA E RISCO PORQUE É UMA MANADA DE SPOILERS)
Falemos o português claro, “O sacrifício de um cervo sagrado” é uma história sobre ciência e macumba e no que você acredita. Eu poderia ser pedante-místico-moralista e dizer que é uma PELÍCULA sobre a lei do retorno e de como sempre pagamos pelos nossos pecados. Dizer que nunca um filme foi tão longe em sua ousadia ao expor os conflitos de um homem, um profissional e um pai que definha em desespero até encontrar uma saída sobre uma escolha tão difícil e inimaginável. Eu poderia buscar metáforas em Derrida, Nietzsche, Platão...
Mas é tudo BALELA.

No fundo, é um filme sobre ciência e macumba. Porque tudo começa com um jovem muito esquisito. Aliás, o filme todo é formado por gente esquisita e que anda e fala de um jeito meio robótico, frígido e monocórdico. Até a menina quando canta parece ter a emoção de uma BJORK. Um prato cheio para o Colin Farrell. Sem muito esforço ele consegue uma atuação digna, pois basta fechar a cara e falar.
Então, o Farrell vive um médico cardiologista que vai sendo stalkeado na vida real por um menino misterioso chamado Martin (Barry Keoghan). Martin é um jovem curioso que fica querendo saber tudo da vida de Steven (Farrell), da família, do casamento com a Nicole Kidman, etc....
Steven até então achava que o menino só estava perturbado pela perda do pai. Mas a coisa fica esquisita quando surge do nada a... ALICIA SILVERSTONE. Eu não sei vocês, mas acho que a última vez que vi a Alicia Silverstone foi em “Batman e Robin” (1997). Enfim, Alicia vive a mãe de Martin, dá em cima de Steven com um papinho de que “você tem mãos lindas e tal”, mas Steven dribla a moça e avisa: “Para com isso! Eu sou casado e amo a minha mulher! Eu pego a Nicole Kidman!!”. É quando ela responde: “Pelo menos experimenta a minha torta de limão”? (Aparentemente não era uma metáfora).
Steven declina da proposta. Mal sabia ele que aquela torta de limão seria o menor dos seus problemas. Nos ultimas seis meses, Martin estava preparando uma vingança. Uma macumba sinistra, magia negra pesada que faria os dois filhos e a mulher de Steven caírem doentes. Primeiro perderiam os movimentos, depois a vontade de comer. Por fim, chorariam sangue. E eles só melhorariam quando o médico assassinasse um membro da família. Tudo porque o moleque perdeu o pai na mesa de operação do médico.
Steven diz que isso é bobagem. Que não acredita em galinha morta e farofa na encruzilhada, mas vai vendo os filhos caírem e não há exame que dê jeito ou ache uma maneira de curar as crianças. Enquanto isso, Martin segue pregando a sua vingança travestida de metáfora bíblica: olho por olho, dente por dente e spaghetti se come enrolando o macarrão e jogando na boca.
Steven sofre, chora, vê suas convicções científicas sofrerem abalos tectônicos... mas no fim, sabe que o seu destino está no acerto de contas espiritual com a vingança de Martin. É o famoso aqui se faz, aqui se paga. Para Yorgos Lanthimos é muito mais legal quando o vilão vence no final (acrescente áudio de risada maléfica de Dr Evil).
Agora eu quero ver os outros filmes desse maluco.
Cotação da Corneta: 8,5.

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