quinta-feira, 2 de junho de 2016

Precisamos falar sobre Julia

Clooney e Julia: dupla de estrelas
Filmes sobre crise econômica, fraude bancária e negociatas em geral estão ficando tão comuns quatro os filmes de super-heróis. Quem se aventurou nesta empreitada agora foi a diretora e Jodie Foster.  Atriz consagrada, vencedora de dois Oscar por "Acusados" (1989) e  "O silêncio dos inocentes" (1992), Jodie ainda está engatinhando e buscando um estilo próprio. "Jogo do dinheiro" é o seu quarto filme e mostra alguém em busca de uma mensagem que seja entendida pelas massas. 

Pelo menos essa é a interpretação que eu faço quando ela usa atores consagrados no elenco (George Clooney e Julia Roberts), ambos vencedores de Oscar e chamarizes de bilheterias e telespectadores.

Mas Jodie parece ainda precisar lapidar um talento por trás das câmeras. Em "Jogo do dinheiro" ela peça pelo excesso de mensagens que quer passar. Aponta o dedo em várias feridas e não aprofunda nenhuma delas. O filme tem: 

1. Críticas à imprensa e à espetacularização da tragédia
2. Uma postura combativa contra os tubarões de Wall Street
3. Tenta fazer uma análise sobre como pessoas comuns são afetadas por manipulações bancárias escusas e coisas como a quebra de bancos e fundos de investimento (sim, já vimos esse filme)
4. As denúncias de fraude no mercado financeiro.

Talvez se pegasse dois itens e o explorasse bem, Jodie tivesse mais sucesso. Em meio ao show que um sequestro do apresentador de TV Lee Gates (George Clooney sendo George Clooney como sempre) protagoniza, sobressai-se a forte crítica aos programas de TV que exploram a boa vontade do espectador comum garantindo o paraíso dele e de sua família. Afinal, como diz a produtora Patty Fenn (Julia Roberts), "nem jornalismo nós fazemos". Uma frase dura escrita pelos roteiristas que bate fundo no coração dos jornalistas que por ventura possam se sentir afetados. Eu não vou vestir a carapuça.

E aqui precisamos de uma pausa para falar de Julia Roberts. Quando ganhou um Oscar por "Erin Brockovich" em 2001, Julia era uma atriz de comédias românticas que tinha feito um trabalho certeiro para faturar o seu careca dourado depois de anos como uma das queridinhas de Hollywood. 

Os anos se passaram e a atriz continuou fazendo aqui ou ali um filme do gênero água com açúcar e de pouca sustança - "Comer, Rezar, Amar" (2010) e "Larry Crowne - o amor está de volta" (2011), para ficar em dois exemplos -, mas agora ela os alterna com produções dramáticas em que exibe um talento que faz com que "Erin Brockovich" não seja apenas um tiro certeiro e aleatório, mas o pontapé inicial de alguns trabalhos interessantes. 

Falo de "Álbum de Família", filme pelo qual ela recebeu uma indicação ao Oscar como atriz coadjuvante, em 2014, e até "Olhos da Justiça" (2015), um trabalho prejudicado pela ruindade generalizada desta versão pífia de "O segredo dos seus olhos" (2006). 

Não é que ela tenha virado uma diva, uma dama do teatro como Fernanda Montenegro. Mas hoje, aos 48 anos, Julia é uma atriz melhor e que me faria pagar um ingresso para vê-la (desde que não seja em filmes como "O maior amor do mundo"). 

Em "Jogo de poder", Julia é quem brilha como a diretora do programa que tem que manter o show no ar enquanto um maluco está tentando atacar o apresentador e o sistema financeiro americano por tabela. 

Em meio a todas as denúncias de Jodie Foster, é a atriz quem encarna com equilíbrio o exemplo discutível de jornalismo praticado pela emissora e até o bom jornalismo que investiga que houve algo de errado e fraudulento com o fundo de investimento citado na película. É pouco para "Jogo de poder" ser um grande filme. Mas como diversão despretensiosa de um sábado à tarde, ele pode satisfazer. "Jogo de poder", portanto, ganhará uma nota 6.

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