quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A vida é dura

A história é quase real, mas a neve é fake
Vou definir para vocês em um tweet o que é "Joy", o novo filme de David O. Russell: A fábula de uma mulher guerreira que tem uma família que não vale nada, mas inventa um esfregão revolucionário e vai vendê-lo no Polishop.

Pronto. Você poderia parar aí e seguir a sua vida. Você poderia dizer: Ah, gostei. O mundo precisa de mulheres de força, protagonistas em histórias inspiradoras. E aí você vai ao cinema e é recompensado por uma boa atuação de Jennifer Lawrence e de Robert de Niro (impagável). 

Ou você pode dizer: humm, se eu quisesse uma fábula ficava em casa lendo Esopo ou vendo um DVD da "Branca de Neve e os sete anões". Parece-me uma bomba. 

Além disso, Jennifer Lawrence e Bradley Copper de novo juntos??? Será que eles estão se pegando? Ok, "Trapaça" (2013) era até divertido, uma boa "Sessão da Tarde", mas "O lado bom da vida" (2012).... Bom, pelo menos parece que eles não dançam nesse filme (é verdade, eles não dançam). 

Como diria uma amiga minha quando lava as mãos e manda eu tomar minhas próprias decisões difíceis e assumir as responsabilidades delas: "It's up to you". 

Aqui vão algumas impressões sobre "Joy", já adiantando que eu não sou particularmente um fã de David O. Russell. Ok, "O vencedor" (2010) é ótimo, "Trapaça" é muito bom, mas "O lado bom da vida" não me convenceu. Assim como este novo filme do diretor. 

Além do tweet do primeiro parágrafo, "Joy" também pode ser visto como uma ode ao capitalismo. Pois só no capitalismo você fica tão no vermelho quanto Joy e continua fazendo o dinheiro girar.

Basicamente, o filme conta a história de uma mulher que abriu mão de estudar numa boa universidade de Boston para cuidar da família. Os pais (De Niro e Diane Ladd) estavam se separando. Ela conheceu um cantor de boteco venezuelano (Edgar Ramirez), ele mandou um "How you doinnn'" para ela e logo depois eles se casaram. Mas o casamento fracassou depois de dois filhos. Só que eles viraram ótimos amigos que vivem na mesma casa. 

É isso mesmo, na casa maluca de Joy, o ex-marido vive no porão dividindo-o com o pai, que se separara da mãe. Esta por sua vez vive há sete anos sozinha no quarto vendo a mesma novela (meu Deus, que novela dura tanto tempo?) e não gosta que nenhum homem entre lá. Ela ainda tem uma meia-irmã invejosa que adoraria derrubá-la. 

Há diversos personagens cômicos, poderia ser uma boa comédia. Mas o drama de Joy é real. Ela inventa coisas, cria, tenta ganhar a vida honestamente enquanto se equilibra entre dívidas e os problemas da casa. É uma guerreira e é a sua jornada de superação e dor que acompanhamos. Tudo narrado pela sua avó. 

Joy inventa um esfregão revolucionário para as donas de casa, mas precisa produzir e vendê-lo. Lida com parentes e patentes, gente querendo destruí-la, empresários inescrupulosos. É preciso muito jogo de cintura para viver essa vida e ainda cuidar das crianças. Mas a televisão... A televisão pode tornar any ordinary people em star. 

Acredito que o filme não consegue se equilibrar bem entre a comédia e o drama. Nem se definir sobre o que deseja para si. É muito comédia de um lado (a família quase caricata) e muito drama do outro (tudo dá muito errado para Joy até ela começar a se acertar). 

Poderia ser uma comédia dramática e não ter nenhum problema, mas o drama de Joy é tão sério, tão palpável, que não dá para rir tanto assim. Você sofre com ela enquanto ri dos demais personagens. Você pode ver como um mérito de Russell. Mas para mim não funcionou muito bem. 

É apenas uma opinião pessoal. Talvez "Joy" possa agradar você como talvez "O lado bom da vida" tenha agradado. Para a corneta, no entanto, o filme não atingiu plenamente o seu objetivo. Ainda que, por causa de alguns méritos, ele vá levar uma nota 6.

Indicação ao careca dourado: melhor atriz (Jennifer Lawrence)

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