quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

'A chegada', ou 'Interestelar' com miçangas

Amy é a dona do filme
Se você pudesse prever o futuro, você o faria diferente? Essa é uma das questões que surgem bem nos minutos finais de "A chegada", o novo trabalho do diretor Dennis Villeneuve (de bons serviços prestados em "Incêndios", de 2010, e "Sicário", de 2015). 

"A chegada" é um filme de ficção científica com uma vibe "Interestelar". Mas enquanto o trabalho de Christopher Nolan aposta em algo grandioso, belo e intensamente científico a ponto de você explodir os neurônios (escorregadas no amor à parte), o filme de Villeneuve é mais clássico e aposta no que temos de mais primitivo e fundamental: a linguagem. Resumindo, "Interestelar" é para a turma de Exatas que faz prova para o Instituto Militar de Engenharia (IME). "A chegada" é para a turma de Humanas que faz miçangas. 

Tudo começa com o desembarque de 12 naves espaciais em diferentes pontos do planeta. Diante delas, a humanidade reage como sempre reagiu em sua história: com medo ante o desconhecido e pronta para a guerra. 

As maiores nações do planeta, no entanto, resolvem trabalhar em conjunto para descobrir o que os alienígenas querem. Afinal, ninguém estaciona o carro por aí de graça. Para isso contratam a linguista Louise Banks (Amy Adams, a dona do filme) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner) para, cada um na sua área, decifrarem o que significam aqueles grunhidos que os aliens pronunciam. 

Louise é dona de um talento único em linguística. Sabe línguas complexas e estuda muito mais do que o léxico, mas o significado de cada palavra dentro do contexto cultural de cada povo. O governo hesita, mas sabe que precisa dela para saber se iniciará uma GUERRA NAS ESTRELAS ou pode convidar os aliens para o chá das 17h. 

Só que a ignorância é um mal que a humanidade exercita como quem bebe um copo d'água. Enquanto Louise tenta decifrar e, mais do que isso, entrar em contato com aqueles seres estranhos, que parecem lulas gigantes de sete patas, autoridades só pensam em batalhas. Os humanos comuns acham estar diante do apocalipse e descambam para a violência sem fim alimentada pelo desespero. 

Em tempos tão sombrios como o que vivemos, com o avanço de um protecionismo econômico, político e cultural e um retorno à uma espécie de tribalismo da sociedade, Villeneuve dá o seu recado. Só juntos caminharemos. Só unidos evoluiremos. 

É o que Louise tenta explicar na interpretação de Amy Adams. É o que os alienígenas tentam dizer. É preciso unir as 12 peças do quebra-cabeças para entender a mensagem. E só trabalhando juntos isso é possível.

"A chegada" tem muito de científico e de linguística, mas também tem um lado místico, sobrenatural e sensitivo, que mostram que a humanidade sempre se equilibrará entre estes dois polos. Entre estas duas crenças. 

Villeneuve conseguiu um resultado brilhante e ao mesmo tempo tocante. Por isso, "A chegada" ganhará da Corneta uma nota 9,5.

2 comentários:

Azul Hernandez disse...

Sou uma fiel seguidora de Denis Villeneuve. Apesar de não ser um diretor tão reconhecido na indústria do cine, ele é um dos poucos que conseguem boas obras cinematográficas de drama graças ao seu grande profissionalismo. Deve ser por ele que grandes atores como Amy Adams querem participar nos seus filmes. Arrival é o mais recente dos seus trabalhos, um filme que é uma referência do gênero. Seus efeitos especiais estão incríveis, trilha sonora e atuações geram um resultado que consegue captar aos espectadores.

Marcelo Alves disse...

Olá Azul Hernandez,

Também achei o filme brilhante e também sou fã do trabalho do Villeneuve.
Abraço,
Marcelo