domingo, 8 de maio de 2011

Dorian Gray

O túmulo de Wilde em Pere Lachaise/Marcelo Alves
“O retrato de Dorian Gray” é um dos meus livros favoritos. É por isso que na única vez que pisei em Paris na vida tive que visitar o túmulo de Oscar Wilde em Pere Lachaise. Tudo bem que objetivo maior era ir até a meca dos roqueiros, o túmulo de Jim Morrison, mas também estava ansioso para ver o de Wilde que, como você pode ver na foto desse post é cheio de marcas de beijo de mulheres (é o que dizem) que vão visitar a sepultura do escritor e reverenciam aquele que, como diz no epitáfio, “foi o melhor homem que já viveu”.

Assim, você pode entender o tamanho da minha expectativa para ver o filme baseado na obra de Wilde. Ela é inversamente proporcional a minha decepção com a película.

Dirigido por Oliver Parker, de “Otelo” (1995), “O retrato de Dorian Gray”, o filme, tem como mérito cenas que são muito fiéis ao livro. Há momentos em que a obra de Wilde está ali transposta para a tela com cada fala, sem qualquer adaptação. Ponto para ele.

O problema é que enquanto o diretor e o roteirista Toby Finlay tiveram esse cuidado em manter alguma fidelidade, por outro lado a película peca em duas questões fundamentais: na essência do livro e na escalação do ator que faz o personagem principal.

O pôster do filme
“Dorian Gray” é basicamente uma histórica com três personagens centrais. O que dá nome ao livro/filme é um jovem que chega em Londres meio perdidinho e vai viver a vida em toda a sua intensidade e periculosidade aproveitando-se de ter um desejo de não envelhecer subitamente atendido. Há ainda o pintor Basil (Ben Chaplin), que nutre especial paixão por Dorian e faz do retrato do jovem a sua obra-prima, porém amaldiçoada por aquele desejo já dito aí em cima. Ao invés de Dorian, é o quadro que envelhece (e espero que isso não seja segredo para ninguém, já que o livro de Wilde é bastante popular).

O terceiro vértice desse triângulo é lorde Henry Wotton (um excelente Colin Firth, apesar do mico da barba falsa), o mais misterioso da trinca que por vezes dá a impressão de ser um demônio rondando a cabeça de Dorian, mas por outro lado aparenta querer realizar, através de Dorian, seus desejos reprimidos por um casamento desprezível e insignificante. Em meio a essa contradição, Wotton teme, mas também fica intrigado com o incrível talento de Dorian para não envelhecer. A pergunta que ele sempre faz é: “Qual é o seu segredo?”. No que Dorian responde: “Se eu te contasse, teria que te matar”.

Pois bem, enquanto Colin Firth é um show à parte e Ben Chaplin não compromete o filme, até porque o seu papel é o menor dos três, Ben Barnes é uma decepção como Dorian Gray. Canastrão, não tem a densidade dramática para as transformações pelas quais o seu personagem passa e se perde no filme, nunca encontrando o tom necessário para o seu Dorian. Como resultado, o cidadão que vê o filme por vezes se pega torcendo por Firth, quando não deveria ter esse tipo de sentimento por ninguém, pois não há heróis e vilões perfeitamente definidos na história. Um dos segredos do livro de Wilde, e que o filme também mostra, é exatamente o caminho contrário que Dorian e Wotton tomam e acabam se cruzando nessa estrada.

Ben Barnes, que não tem muitos trabalhos marcantes (os filmes das Crônicas de Nárnia são os mais conhecidos), não soube encontrar o tom necessário, transformando Dorian numa caricatura mimada que se perde onde deveria haver um debate sobre a vaidade e a eterna busca pela beleza.

Outro problema do filme é o tratamento de thriller/terror que ele ganha de Parker. Sinceramente, não me lembro de o livro ter esse clima tão enfatizado principalmente no momento em que ele mostra as transformações do quadro. No filme, porém, há sempre uma trilha sonora típica de “scary movies” para subir o tom de medo e horror. A história já tem um desfecho dramático, terrível e assustador. Não precisa de um reforço para tornar o filme um terror cult.

Por isso “O retrato de Dorian Gray” decepciona. Embora a história do livro seja fantástica, o filme não retrata isso na sua plenitude, embora reserve bons momentos como o retorno de Dorian, ainda jovem, a uma Londres em que todos aqueles que ele conheceu estão velhos e acabados e ficam espantados com o seu estado de conservação.

Tirando esta belíssima cena e um ou outro bom momento, o filme de Parker infelizmente é burocrático. Terei que esperar uma nova versão minimamente a altura do livro.

2 comentários:

Unknown disse...

Um filme muito sexy em geral, é uma adaptação interessante para mim faz-me lembrar de uma nova série chamada Penny Dreadful que leva esses personagens clássicos como Dorian Gray e Frankenstein que o torna mais interessante.

Marcelo Alves disse...

Ainda não tive a oportunidade de ver a série, Sofia. Mas vou dar uma olhada nela.

Obrigado!

marcelo