sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diversão garantida. E só

O pôster do filme

Inspirado em um brinquedo da Disney, “Piratas do Caribe” não poderia ser nada diferente de diversão na sua versão cinematográfica. Se você sabe que nos créditos de produtor está o nome de Jerry Bruckheimer, entenderá que isso significa explosões, perseguições, muito barulho e correria. E é um filme dos estúdios Disney, logo para a família. Sendo assim, não espere que a Penélope Cruz vá mostrar mais do que um segundo de decote no escuro ou as encantadoras sereias não tenham peito. Sim, elas não têm peito! Foram todos devidamente cobertos pela “patrulha dos modos e bons costumes” da Disney. Ah, e o vilão, o ardiloso Barba Negra, cuja lenda de atos cruéis atravessa os sete mares há séculos também entra no clima família porque até um vilão pode ser fofo.

Se você somar isso com um ator carismático e excelente como Johnny Depp, tem a infalível fórmula de sucesso da série cujo quarto filme, “Piratas do Caribe – Navegando em águas misteriosas” chega agora no cinema.

Se o primeiro filme, dirigido por Gore Verbinski, “A maldição do Pérola Negra” (2003), era ótimo em sua originalidade por ter um pirata totalmente diferente do que nos acostumamos a ver no cinema com Depp fazendo um Jack Sparrow como um cruzamento, nas palavras do próprio ator, do guitarrista dos Rolling Stones Keith Richards com Pepe Le Pew, o gambá personagem dos Looney Tunes, muito humor, hilárias perseguições, mas a aposta clara no talento de Depp, os demais apenas se limitaram a repetir a fórmula ampliando aqui e ali algo que tenha dado certo. E dando menos espaço a Depp.

Veio ainda pelas mãos de Verbinski, “Piratas do Caribe – o baú da morte” (2006) e “Piratas do Caribe – No fim do mundo” (2007) com mais explosões, menos Depp e algum humor. Com a franquia nas mãos de Rob Marshall, a aposta de “Navegando em águas misteriosas” é novamente no carisma do ator combinado com um volume de situações cômicas como jamais se viu nos filmes até aqui.

Ri-se bastante no novo “Piratas do Caribe”. Depp está inspirado e quando contracena com Penélope Cruz, que faz Angélica, a filha do Barba Negra (Ian McShane), Geoffrey Rush (Capitão Barbossa) ou pequenos bucaneiros como Scrum (Stephen Graham) e Gibbs (Kevin McNally) encontra boas escadas para as divertidas enrascadas em que se mete e as mais divertidas formas com as quais ele escapa delas.
Depp e Penélope como Sparrow e Angélica

A diversão em “Piratas do Caribe” é garantida. Nem é preciso prometer o dinheiro de volta. Seria preciso uma alma muito melancólica e sem vida para ao menos não simpatizar com o filme de Marshall.

Mas para isso, é preciso relevar o roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio e encarar o filme como várias esquetes estreladas por Depp. O roteiro não tem muita lógica e é cheio de pontas soltas e sem muita explicação, fazendo com que o filme não passe de uma colagem de tipos ligados às histórias e lendas dos piratas e das navegações numa embalagem pop-fashion para viagem.

Tentando explicar. Como mostrado nos estertores de “Piratas do Caribe – no fim do mundo”, a busca agora é por uma tal fonte da juventude que após um ritual com ares de macumba da idade média te promete dar muitos anos de vida em troca dos anos que uma segunda pessoa que beba a mesma água teve e terá. Três tripulações vão em busca do tal prêmio: os espanhóis em nome da Igreja, os ingleses, liderados por Barbossa, que querem o poder, e o grupo do Barba Negra, pirata que busca a tal fonte para sobreviver à profecia de que ele morreria pela espada de um homem sem perna. No caso, Barbossa, que a perdeu numa batalha pelo barco Pérola Negra e agora só é aliado dos ingleses para cumprir a sua vingança.

Além de não explicar como a tal fonte da juventude poderia salvar a vida de Barba Negra, uma vez que ela não promete vida eterna, mas mais alguns anos de vida além do normal, o roteiro ainda coloca no meio disso tudo o nosso herói Jack Sparrow. Aparentemente, ele só está ali porque é o único que sabe o caminho para a tal fonte. Por isso é forçado a embarcar no barco de Barba Negra e mostrar o caminho com sua indefectível bússola. Só não me peçam para explicar, portanto, como os espanhóis também chegam no local.

O filme se resume, portanto, a isso. Alguns querendo ir até a tal fonte e outros não querendo, mas sendo forçados a ir. E no fim todos vão se encontrar nela. Você tinha dúvida disso? 

No meio do caminho, surgem dois personagens que não haviam aparecido na franquia. O Barba Negra e as sereias.

O Barba Negra de Ian McShane está numa versão bem light e politicamente correta para caber num filme da Disney. As sereias são aqueles demoniozinhos encantadores que levam marujos para o fundo do mar, mas todas bem comportadas. Para justificar a presença delas, inventa-se dentro do ritual da fonte da juventude que é preciso beber a água misturada com a lágrima de uma sereia e Serena (Astrid Bergés-Frisbey) será a representante delas nesse sacrifício após cair de amores pelo missionário Phillip (Sam Claffin). Afinal, o que é um bom filme-pipoca sem uma historinha de amor supostamente impossível?

Da mesma forma que não se entende muito bem como tudo começou, o filme termina igualmente meio sem sentido. Só com uma sucessão de algumas boas piadas numa clima cool e divertido e o gancho indicativo que a série continuará. Afinal, você abriria mão de uma mina de ouro que ainda não deu sinais de cansaço para o seu público?

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