domingo, 17 de abril de 2011

Os últimos caldos de Ozzy

Ozzy: 62 anos de muito rock and roll
Vivo repetindo isso aqui. Expectativa representa uma parcela importante de qualquer show ou filme que a gente vá ver. Há três anos despenquei para o HSBC Arena com os dois pés atrás, mas aquela vontade de enriquecer o meu currículo roqueiro preenchendo uma lacuna vazia chamada Ozzy Osbourne.

O Senhor das Trevas tinha 59 anos de muitos excessos, drogas e rock and roll que fariam qualquer ser humano normal estar nesse momento a sete palmos de terra. Mas Ozzy tinha sobrevivido. E como diria o Ronaldinho, “Ozzy é Ozzy”. O cara surpreendeu fazendo um showzaço daqueles para ficar guardado na memória e nas retinas das 12 mil pessoas presentes.

O cara mostrou que o indivíduo sequelado e mero serviçal da mulher Sharon que todos viam no reality show “The Osbournes” na TV era um monstro que transformava aquela forma decadente num deus do heavy metal. Com um alcance vocal surpreendente, Ozzy pulou, ficou andando freneticamente de um lado para o outro batendo palminhas feito uma foca atormentada e comandou o espetáculo com maestria. Tudo isso acompanhado do seu fenomenal guitarrista Zakk Wylde, que não devia nada ao seu antecessor Randy Rhodes, morto em 1982. Tinha cara de última vez, última chance, mas essa primeira vez/despedida que eu vi do Ozzy fora recompensadora e inesquecível.

Mas Ozzy tem pacto com os deuses do rock para se manter conservado até o fim dos tempos, lança bons discos – o mais recente é “Scream” (2010) – e três anos depois daquele show reaparece vivo no Citibank Hall para mais um espetáculo.

Expectativa, muita expectativa. Será que o show vai superar ou ao menos igualar o de 2008? A resposta é não. Isso significa que foi ruim? A resposta é mais uma vez não.

Agora com 62 anos, Ozzy mostra que finalmente (e lamentavelmente) a idade está pesando. Mesmo com o pacto com os deuses do metal que eu citei acima, ele tem que dar uma segurada quando uma música exige um pouco mais das cordas vocais. O refrão de “Bark at the moon”, que abre os trabalhos, e, principalmente, de “Crazy Train”, já no final da peleja, vai todo para o gogó da galera com a devida anuência e regência do tio Ozzy que continua se movimentando de um lado para o outro e exigindo palmas e balançar de braços de um lado para o outro para os seus súditos.

O cantor joga bastante para a galera enquanto começa perguntando: “Are you ready to go crazy?”. Constantemente provoca: “I can hear you” e ao mesmo tempo curte ser adulado a cada grito de Ozzy! Ozzy! da plateia.

Só que como eu disse antes, isso não significa que o show tenha sido fraco. Ozzy é hoje aquele jogador de futebol experiente que busca os atalhos do campo e mostra o caminho necessário para seguir brilhando, pois o palco é o seu habitat natural. Fora dele, é apenas um sequelado que fica em casa limpando cocô de cachorro, como comentou numa coletiva em São Paulo.

De “Bark at the moon” até “Paranoid”, do Black Sabbath, o cara mostra muita competência levantando a galera com os seus clássicos sempre apoiado por uma boa banda. Tommy Clufetos é um animal socando a bateria enquanto o baixista Blasko empolga o povo com seus giros constantes em torno do seu próprio eixo. A banda conta ainda com o tecladista Adam Wakeman, filho do tecladista do Yes, Rick Wakeman.


Ozzy ao lado de Gus G: mandando bem no palco
Já o guitarrista Gus G é competente, sem dúvida, mas é sempre difícil entrar numa posição originalmente ocupada por Tony Iommi e que em seguida passou a ser ocupada por Rhodes e Wylde. E é neste último que ele parece se inspirar em demasia imitando-o demais ao invés de impor o seu próprio estilo. O grego me parece só se sentir plenamente à vontade mesmo na única música do disco novo, do qual ele participou, que Ozzy toca, “Let m hear you scream”.

De resto, ele faz o feijão com arroz sem comprometer a engrenagem do Senhor das Trevas que das 15 músicas do set levou, para delírio da galera, quatro do Black Sabbath, incluindo a instrumental “Rat Salad” no que pareceu uma parada providencial para Ozzy recuperar o fôlego depois de jogar muita água e espuma nele e na plateia em “Mr. Crowley” e balançar muito a cabeça com “Fairies wear boots”, “Suicide Solution” e “War Pigs”, que teve uma execução muito semelhante à do show de 2008.

Com “Iron Man”, “I don’t want to chance the world” e “Crazy Train”, Ozzy faz mais uma parada estratégica para em seguida encerrar a noite com “Mama, I’m coming home” e “Paranoid”, que dessa vez o público carioca pôde ver ser tocada inteira. Afinal, quem não lembra da batalha que Zakk Wylde teve que travar com o público para recuperar sua guitarra jogada por ele mesmo para a galera na inocência de que ela seria recuperada? Voltou puto com um cotoco num fim de show que frustrou os fãs.

Frustração semelhante teve a nova plateia diante da recusa de Ozzy em tocar “No more tears” apesar dos incensados pedidos da galera. Lembremos que em 2008, a música também não estava no repertório, mas Ozzy atendeu a galera. Me pareceu até que ele desejava fazer o mesmo agora, mas senti a banda dando uma amarelada. Talvez Gus G não tivesse ensaiado direito essa. Ficou para a próxima.

Mas dá para dizer que o Senhor das Trevas ainda sabe o que fazer no palco. Melhor para os seus fãs. Tomara que ainda dê tempo de ele voltar ao Rio para mais um show.

Abaixo o set list do Ozzy e alguns momentos emocionantes do show no Citibank Hall:

Bark at the moon
Let me hear you scream
Mr. Crowley
I don’t know
Fairies wear boots
Suicide Solution
Road to nowhere
War Pigs
Shot in the dark
Rat Salad
Iron Man
I don’t want to change the world
Crazy Train
Mama, I’m coming home
Paranoid










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