sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando a vaga é maior que o título

É curioso como ultimamente no futebol brasileiro tudo gira em torno da tal da vaga na Libertadores. Só se fala nela no início, no meio e no fim do ano. Hoje em dia, ser campeão é um detalhe. O que vale é a vaga na Libertadores. Até o líder Fluminense, a quatro longos passos de ser campeão brasileiro, começou o campeonato com seu treinador Muricy Ramalho dizendo que o objetivo nesse primeiro ano de contrato dele era a... vaga na Libertadores!

Ninguém assume que quer ser campeão. E os tropeços do tricolor, Corinthians e Cruzeiro durante o campeonato mostram realmente que há um esforço concentrado de entrega. Quem vai ceder mais? Bom, isso é papo para outro post. Estou mesmo interessado na vaga na Libertadores.

Vejam só. Os times começam o ano divididos. Cinco deles (em geral, cinco grandes) poupam seus titulares no Estadual porque estão jogando a Libertadores. Os outros sete grandes poupam seus titulares no Estadual porque estão jogando a Copa do Brasil, competição importante porque... dá vaga na Libertadores, ora!

Assim, o Estadual se arrasta até que por acidente alguém é campeão. E alguém tem que ser. Fazer o que? Nesse ano, o azar de levantar a taça do Estadual, que não vale vaga na Libertadores, coube a Botafogo (Rio), Santos (São Paulo), Atlético-MG (Minas Gerais) e Grêmio (Rio Grande do Sul).

Mas peraí, o Estadual não vale nada para os grandes. Para os pequenos eles valem muito porque uma boa classificação significa uma vaga na Copa do Brasil que, afinal de contas, é “o caminho mais curto para a... Libertadores!”

Ou melhor, era. Isso porque a partir deste ano, também conhecido no futebolês como temporada, a Copa Sul-Americana passou a dar uma vaga - adivinhem? – na Libertadores. E aí, a Copa Sul-Americana, o patinho feio que virou cisne repentinamente como num desenho de Walt Disney, passou a ter um interesse incomum. Clubes brasileiros se digladiam não pelo título, mas pela...vaga na Libertadores. E Palmeiras e Goiás estão a quatro jogos desse sonho. Apesar de que, bem, a LDU está aí né. Fluminense e Internacional sabem do que eu estou falando.

Só que a Libertadores não é como coração de mãe. Não cabe todo mundo. Isso gera ciumeira entre os brasileiros que disputam a quarta vaga da festa do Brasileirão. Mais do que isso. Botafogo, Grêmio, Atlético-PR e até o São Paulo estão secando os times verdes envolvidos na Sul-Americana porque querem eles essa vaguinha na Libertadores. E assim atravessamos o ano (temporada) só pensando nela. São cinco vagas, três chances e muitas emoções para conquistar essa vaga. A taça é um detalhe.

Mas esses casos todos nos ensinam lições sobre a vida. Se lidássemos com ela da mesma maneira que no futebol, seríamos mais felizes. Veja o José Serra, por exemplo. Ficou em segundo lugar na eleição. Saiu derrotado, triste, para baixo. Se tivesse uma Libertadores na política, no entanto, ele estaria classificado. E a Marina Silva também, para alegria dos marineiros de plantão.

E aquele (a) amante que você mantém? Aquele (a) que você encontra na hora do almoço naquele motel badalado? Ora, ele é o seu segundo, seu 02, ele é o seu “amor vaga na Libertadores”. Isso desde que o sexo não seja do tipo vaga na Libertadores, né, porque nesse caso, o cidadão tem que ser campeão.

Queria viajar para Barcelona, mas o dinheiro só deu para Buenos Aires? Sorria, é um país de tradição na Libertadores. Seu sonho era encontrar o John Lennon, mas acabou vendo o Paul McCartney? Ora, ele é o seu beatle-Libertadores.

Levando uma vida ao estilo vaga na Libertadores não haveria discussões. O restaurante A está cheio, vamos na segunda, na terceira ou até na quarta opção. Ou aquele restaurante peruano do tipo vaga na Libertadores através da Sul-Americana. Vai ao cinema? Qual filme escolher? Tanto faz. Se o seu parceiro (a) não quer saber da sua opção um, você ficará satisfeito com a opção dois, a opção, tcharããã...vaga na Libertadores. Uma vida ao estilo vaga na Libertadores, portanto, e vejam onde eu quero chegar, acabaria com as discussões de relacionamento que nove entre dez homens detestam. Nessas horas, eles sempre pensam numa saída ao estilo vaga na Libertadores.

A vaga na Libertadores seria a festa dos comunistas, socialistas e toda essa turma que gosta de usar vermelho. Isso porque ela representa uma distribuição maior de felicidade, uma disposição mais igual de satisfação. Onde um sorria, agora sorriem cinco. É o fim do capitalismo selvagem, da competição desembestada para ser apenas o número 1. A felicidade também está em ser segundo, terceiro, quarto... Tenho certeza que Paulo Coelho ou qualquer outro similar ainda vai escrever um livro do tipo auto-ajuda chamado “Vaga na Libertadores”.


E se você estiver fora da Libertadores pense que no ano que vem, ou melhor, na próxima temporada, você terá uma segunda chance, será a sua oportunidade... bem, vocês entenderam.

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