sábado, 7 de agosto de 2010

Jogos de poder em Buckingham

Nada como sair de casa e ver um filme do qual não se tem expectativas e ser positivamente surpreendido. Esta foi a sensação que experimentei após assistir à “A jovem rainha Vitória”, ainda em cartaz em pouquíssimos cinemas. O filme que concorreu a três Oscars em categorias técnicas e ganhou apenas o de figurino tem mais do que roupas e belas paisagens da Inglaterra na Era Vitoriana.

Ele pode ser encarado primeiro como uma bonita história de amor, que foi se construído entre a rainha Vitória (Emily Blunt), coroada aos 18 anos, e o príncipe Albert (Rupert Friend) com o passar dos anos e a espera dele por um casamento que sonhava desde que começou a conhecê-la. Vitória e Albert parecem ter vivido felizes até a morte dele aos 42 anos de febre tifóide.

Mas o trabalho de Jean-Marc Vallée também pode ser encarado como um interessante filme sobre os jogos e manipulações políticas. Podemos notar como até a rainha, uma inexperiente soberana, ficou a mercê daquela disputa de poder entre os partidos ingleses.

Uma disputa que começa bem antes de Vitória completar 18 anos, quando a sua mãe, manipulada por Sir John Conroy (Mark Strong), tenta fazer a vontade deste de instituir uma corregência por mais sete anos até que ela completasse 25. Tudo para que Conroy pudesse mandar. Não deu certo, abrindo espaço para a chegada ao poder de Lorde Melbourne (Paul Bettany), primeiro-ministro bastante influente junto à jovem a ponto de conseguir indicar e aprovar todos os “cargos” no Palácio de Buckingham. Nada perto de diretorias de estatais que estamos acostumados a ver loteadas por aqui, mas damas de companhia e outras acompanhantes que estão sempre perto da rainha e por isso são boas fontes de informação e de influência sobre a soberana.

Sua confiança em Melbourne é tão grande, que Vitória, num erro grave de sua reinado, chega a rejeitar a indicação do primeiro-ministro do partido rival eleito pelo povo. Uma medida que é protocolar, já que a soberana jamais deve rejeitar o desejo do seu povo. As conseqüências são graves. Protestos e um atentado que quase mata Albert em uma bala que tinha a direção certa de Vitória.

Assim, os jogos de poder e de influência envolvendo de políticos a parentes próximos da rainha num país que já vivia uma monarquia parlamentarista são o que há de mais interessante em “A jovem rainha Vitória”. O filme se ocupa em mostrar não apenas a sua história de amor, mas o seu amadurecimento num reinado que foi marcado por ser o mais longo da história (63 anos, de junho de 1837 a janeiro de 1901), período em que a Inglaterra passou por grande crescimento populacional, mudanças econômicas, culturais, sociais e a Revolução Industrial. A partir do seu reinado, nascia uma nova Inglaterra.

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