sábado, 11 de outubro de 2008

Troféu olho de peroba

É sempre possível ficar impressionado com a cara-de-pau alheia. É que ela nunca tem limites. E no Brasil está sempre pronta para atingir novos estágios. O Brasil é, indubitavelmente, o país de caras-de-pau. E dessa vez não estou falando dos políticos. Falo de Carlos Arthur Nuzman.

Na semana passada, Nuzman convocou uma eleição as pressas, sem oposição, sem data marcada com antecedência, sem muita coisa que existe num regime que seja minimamente democrático. Ele convocou uma eleição para ser aclamado presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), entidade que comanda desde 1995, por mais quatro anos.

No subsolo de um hotel, como se fosse um gangster de quinta categoria jogando pôquer em Chicago, sem a presença da imprensa, Nuzman foi aclamado, aplaudido, homenageado por seus pares, que assim como ele têm como esporte favorito se eternizar no poder, e ficará no comando do COB pelos próximos quatro anos. Ora, quem fica 13, pode ficar 17, não acham?

Mas eu fico feliz que algumas pessoas não ficaram caladas e protestaram. Vejam só, Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e no poder da entidade desde 1989, criticou a eleição. Disse que ela não foi transparente. Tendo Ricardo Teixeira como baluarte da democracia, eu realmente me sinto mais tranqüilo. Já posso até dormir.

É impressionante. Se eu tivesse que lançar o troféu óleo de peroba do esporte brasileiro teria muita dificuldade em saber a quem eu daria o prêmio. Mas Nuzman e Teixeira certamente sairiam na frente.

A cara-de-pau destes senhores, verdadeiros déspotas do esporte nacional não têm fim. Eu poderia dizer que pelo menos Nuzman fez uma eleição. De araque, mas fez. E o Ricardo Teixeira que foi automaticamente reeleito até 2014 quando a Fifa escolheu que o Brasil seria a sede da Copa?

É inadmissível que o comando do esporte olímpico brasileiro esteja na mão de uma única pessoa há tanto tempo. E o mesmo vale para o futebol brasileiro. Se o presidente da República, cargo máximo do país, por melhor ou pior que seja não fica mais do que oito anos no posto, como pode um dirigente de uma confederação ficar 17 ou 25 anos no poder? Que país é esse? Que democracia é essa?

A título de comparação. Desde que Nuzman assumiu o COB, cinco pessoas passaram pelo Ministério do Esporte do país. De Pelé a Orlando Silva, que, aliás, se cala sobre o episódio da reeleição fantasma mesmo sendo o responsável por repassar mais de R$ 700 milhões ao esporte brasileiro. Para ser mais esclarecedor, foram todos os ministros do Esporte que o Brasil teve, pois a pasta foi criada em 1995 durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, Ricardo Teixeira, assumiu a CBF antes mesmo que existisse um ministério sobre o assunto.

Ah, esqueci. O Nuzman deu duas entrevistas esclarecedoras (e estarrecedoras) para a ESPN Brasil que mostram tudo o que ele pensa sobre democracia. Durante o programa “Brasil Olímpico”, ele foi claro, cristalino. Disse com todas as letras: “Eu sou contra limitação de mandato”.

Na semana passada, após a “reeleição”, afirmou que não vê nenhum vantagem em ter um adversário e disse que o vôlei brasileiro quando ele foi dirigente da CBV só evoluiu quando ele “praticamente não tinha oposição. Tanto é que o entreguei campeão olímpico”.

Pode ter entregado o vôlei campeão olímpico, mas o esporte brasileiro sob o seu comando só teve campanhas pífias em todas os Jogos que disputou. Foram quatro Olimpíadas de fracassos retumbantes. Quatro Olimpíadas em que o esporte brasileiro viveu de heróis que lutaram muito para realizarem seus sonhos. Pois não há, nunca houve uma política esportiva para o país.

É lamentável e revoltante que o esporte brasileiro ainda viva na ditadura. Tomado por uma piscina cheia de ratos como magistralmente cantou Cazuza. Quando os “Fidéis” da Barra da Tijuca vão largar o osso? Alternância de poder é regra básica da democracia. Não importa se a gestão é boa ou pífia.

Depois disso tudo, só me resta protestar. Que país é esse? Como dizem as platéias a cada vez que esta música da Legião Urbana é tocada por aqui: “É a porra do Brasil”.





Cazuza - "O tempo não pára"



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