domingo, 10 de agosto de 2008

Uma tumba de clichês

Em ano de Jogos Olímpicos de Pequim, a indústria cinematográfica não poderia deixar de aproveitar a onda chinesa e usar isso a seu favor. Leia-se faturar alguns milhões de dólares usando o que puder do velho país do outro lado do mundo. Percebendo o filão disponível e a disposição do governo chinês em receber (e investir) em uma mega-produção, a equipe responsável pela franquia da “Múmia” não pensou duas vezes e se mudou de mala e cuia para explorar novos sarcófagos.

“A múmia: tumba do imperador dragão” é um filme absoluta e essencialmente comercial. Um blockbuster nível alfa, digamos assim. Isso não é necessariamente ruim. O filme, agora dirigido por Rob Cohen - os anteriores “A Múmia” (1999) e “O retorno da múmia” (2001) tiveram Stephen Sommers na direção – é uma boa diversão. Funciona perfeitamente para uma tarde de frio e chuva debaixo da coberta. Ou para assistir com toda a família.

Porém, uma coisa me incomoda nesta nova aventura de Rick O’Connell (Brendan Fraser, sempre competente e divertido no papel do herói). São os clichês batidos, os temas já abordados em milhares de filmes em toda a história do cinema. Falo principalmente de dois deles. Primeiro a tal da relação conflituosa/redentora entre pais e filhos com pais lamentando e se perguntando onde erraram na criação das crianças. Em segundo lugar, o velho tema do herói entediado que precisa voltar à ativa para ter um pouco mais de emoção na vida por demais enfadonha. Acho que são dois assuntos que já se esgotaram.

Mas o nobre leitor que me acompanha com alguma freqüência pode lembrar que eu já elogiei os clichês em filmes de faroeste e os considero absolutamente necessários nas aventuras de James Bond. É verdade. Não retiro o que disse. Só acredito que uma aventura tão divertida e leve como a franquia da múmia não precisava disso e podia explorar assuntos mais interessantes.

Nos dois primeiros filmes, a relação entre Rick, sua mulher Evelyn (Rachel Weisz) e o filho do casal, o jovem Alex (Freddie Boath), era de plena união e companheirismo. Por mais que os hormônios da adolescência e do início da fase adulta possam mudar alguma coisa, soou no mínimo como falta de criatividade o aparente conflito entre o agora adulto Alex (Luke Ford) com Rick e Evelyn (no terceiro filme interpretado por Maria Bello).

A trama? A de sempre. Rick ressuscita uma múmia, neste caso a do imperador Han (Jet Li) e seu exército de terracota, e tem que se desdobrar para mandá-la de volta para a tumba antes que ela se engrace e tente dominar o mundo.

A mudança de cenário do Egito para a China não chega a ser problemática na história e o roteiro abre bons espaços para umas tiradas divertidas. Dispensável apenas é o duelo entre filho e pai expondo o lado moderninho de um e tradicional de outro. Como se vê, eu estava de má vontade no cinema.

Outro problema do filme foi a equivocada escolha de Maria Bello para substituir Rachel Weisz, que não quis (pelo menos é o que se diz oficialmente) prosseguir na franquia porque as filmagens desta película seriam longas e em dois continentes, no papel de Evelyn. Maria não convence, não tem o carisma (e nem a beleza) de Rachel, necessários num personagem tão forte e que nunca é uma estepe de Rick na história. Evelyn tem vida própria graças a Rachel e ao destaque que ganhou nos primeiros filmes. Em “Tumba do imperador dragão”, Evelyn é opaca e sem graça. Como a própria Maria Bello.

É lamentável que uma franquia tão divertida tenha cometido tantos equívocos. Quando “A Múmia” foi lançado choveram comparações com os filmes de Indiana Jones. Algo que era merecido e verdadeiro. Rick lembra muito o velho Indy e Frasier parecia ter assumido a vaga de Harrison Ford como herói dos filmes de aventura. No ano em que o sessentão ator retomou as aventuras de Indy em grande estilo, Frasier perdeu espaço. Pelo menos até ele ressuscitar a próxima múmia. Estaria ela no Peru?

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