sábado, 2 de agosto de 2008

Terapia em família

Já virou chavão dizer que Philip Seymour Hoffman é um grande ator. Embora sua consagração midiática só tenha vindo em 2006, ano em que ganhou o Oscar de melhor ator por “Capote” (2005), Seymour Hoffman sempre fez grandes trabalhos invariavelmente em papéis em que não era o centro das atenções, mas as roubava pelo talento. Falo de produções como “Boggie Nights” (1997), “Magnólia” (1999) e “Quase Famosos” (2000). O ator, de 40 anos, também salva filmes fracos, como “Missão Impossível III” (2006), e meias-bocas, como “Jogos de Poder” (2007), da tragédia completa.

Com um enorme talento e a capacidade de transitar incólume entre filmes “de arte” e produções pipoca, Seymour Hoffman realiza mais um grande trabalho em “A família Savage”.

Ao lado de outra excelente atriz, Laura Linney, ele vive um dos irmãos Savage que diante da triste doença do pai, que sofre de demência, tem que decidir o que fazer com ele. Acontece que Lenny Savage (Phillip Bosco) não foi o exemplo de pai ideal e todos esses conflitos do passado retornam quando Jon e Wendy se reencontram para juntos buscarem a melhor e menos culposa saída para o pai.

Uma decisão difícil pela qual muitos passam, mas que todos, se pudessem, gostariam de evitar. Ao colocar alguém que você ama numa casa de repouso ou asilo há sempre a sensação de estar abandonando alguém, se livrando de um peso, e de ser alguém horrível. O que não é verdade. É apenas o atestado da incapacidade de cuidar de uma pessoa que já não é mais tão independente numa vida que exige demais de você. Contudo, não deixa de ser uma decisão psiquicamente dispendiosa.

Enquanto passam por esse drama, Jon e Wendy reavaliam suas próprias vidas. Jon tem medo de se casar, mesmo já estando na casa dos 40, o que o faz abandonar a namorada polonesa, Kasia (Cara Seymour), obrigada a retornar à Europa por causa de um visto vencido. Wendy vive um caso com um dramaturgo casado e a vida dupla acaba a levando a consumir os mais variados tipos de remédios, de analgésicos a antidepressivos.

Mas todas as difíceis situações são retratadas com um fino humor que arranca gargalhadas de uma platéia que certamente se identifica com eles em diversas situações. Mérito, claro, da excelente química entre os dois atores, que dominam a película e a colocam em seus bolsos sem muito esforço nem caras e bocas. Apenas sendo gente como a gente.

“A família Savage” tinha tudo para ser um filme triste, melancólico mesmo, sobre este difícil momento na vida e os problemas causados por uma escolha. Mas no fim acaba sendo um filme interessante pelo tom natural com que trata estas situações e sem qualquer mão pesada da diretora e roteirista Tamara Jenkins na condução da história. Acaba se tornando uma mensagem para olharmos para nós mesmos e buscarmos soluções mais práticas para as nossas questões.

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