domingo, 20 de julho de 2025

Book Review: “O Cavaleiro dos Sete Reinos”, George R. R. Martin

“Egg servia Dunk havia um ano e meio, embora às vezes parecesse vinte. Haviam escalado o Passo do Príncipe juntos e cruzado as areias profundas de Dorne, vermelhas e brancas. Um veleiro os levara de Sangueverde à Vila Tabueira, onde compraram passagem para Vilavelha na galé Senhora Branca. Tinham dormido em estábulos, estalagens e valas, dividido o pão com irmãos santos, putas e pantomimeiros, e seguido uma centena de espetáculos de títeres, Egg mantinha o cavalo de Dunk bem cuidado, sua espada longa afiada, sua cota de malha livre de ferrugem. Era tão boa companhia quanto qualquer homem poderia desejar, e o cavaleiro andante começara a pensar nele quase como em um irmão menor.” (pág. 170)

Somos extremamente necessitados do fim numa relação quase tóxica com a ideia de completude. Uma espécie de colecionismo virtual que, por vezes, nos cega para a beleza da jornada e do fato de que histórias são pequenos extratos de uma vida — fictícia é claro — sobre a qual nunca saberemos tudo. Nem das nossas próprias vidas sabemos tudo.

Depois de ler “Fogo e Sangue” (2018) e agora “O cavaleiro dos sete reinos” eu me sinto em paz com o mundo de Westeros criado por George R.R. Martin. Talvez o escritor nunca entregue os dois livros finais da saga de Gelo e Fogo. Mas está tudo bem. Quão rico e fascinante é o mundo criado por Martin. Quão bem escritas são suas histórias. Eu fico satisfeito em ler extratos de Westeros. Das tramas palacianas as aventuras mais comezinhas, há sempre algo de muito interessante a ler.

“O cavaleiro dos sete reinos” aposta exatamente neste último ponto. O livro narra histórias menores vivida por um cavaleiro andante sui generis e de um passado invulgar e seu jovem escudeiro que tem um segredo importante a guardar. A relação e a dinâmica de poder e aprendizado deles é muito interessante ao mesmo tempo em que os diferentes backgrounds também tornam seus diálogos um deleite a parte. Até pelo que não é dita.

Enquanto eles evoluem vagando pelos Sete Reinos, vamos acompanhando pequenos extratos do que está acontecendo naquele momento em Westeros e do que aconteceu nos últimos 90 anos. É quase como montar um quebra-cabeças de Gelo e Fogo.

“O cavaleiro dos sete reinos” reúne três histórias. Todas elas de construções inortodoxas o que só torna o livro mais interessante. Além da escrita deliciosa, a força do livro também está na ausência de heroísmo e na aleatoriedade da vida do homem comum.

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