domingo, 20 de julho de 2025

Book Review: “A glória e seu cortejo de horrores”, Fernanda Torres

“Fui feliz no começo, aos vinte, e também aos trinta, quando larguei o teatro e emendei uma sequência de sucessos na televisão. Famoso, vivi o apogeu da minha arrogância. Comi muita gente, gastei mais do que devia, humilhei subalternos, acreditei em destino. Não mais. O contrato polpudo me transformou num ator preguiçoso.” (Pág. 29)

A história de ascensão e queda de Mário Cardoso é a de muitos artistas que conhecem a fama e se perdem no meio do caminho de suas vidas profissionais. Narrada com elegância, tons de sarcasmo e um molho tipicamente carioca, “A glória e seu cortejo de horrores” é uma deliciosa tragicomédia brasileira. Ou melhor, carioca.

No livro, Fernanda Torres navega por um oceano que lhe é bem conhecido. A vida de um ator no Brasil e suas diferentes fases no teatro, na TV, no cinema. Seus altos e baixos, suas glórias, seus fracassos. Torres conhece cada pedaço dessa realidade. Seja pelo que viveu, seja por colegas de profissão com quem conviveu. E este trunfo faz com que “A glória e seu cortejo de horrores” soe tao verdadeiro, tão autêntico, mas ao mesmo tempo com um toque saltimbanco que tire o livro suficientemente fora da ficção documental.

Comparativamente com seu romance anterior, “Fim”, Torres manteve o cenário, este Rio de Janeiro purgatório da beleza e do caos, mas olhando um pouco mais para a Zona Norte, o subúrbio, e todas as suas idiossincrasias. De certa forma, ela expandiu o Rio em “A glória e seu cortejo de horrores”. E as diferenças sociais, demográficas e de classe entre os bairros viram pano de fundo para o estado de espírito e financeiro do seu Mário Cardoso.

Além de uma atriz de primeira grandeza do Brasil, Torres reafirma em seu segundo livro o quanto é uma escritora fascinante. Demorei a ler seus livros apenas para agora desejar que ela crie ainda mais histórias. Torres é uma cronista do Rio de Janeiro moderno e ler as suas histórias é como vivenciar a vida pulsante e as contradições de uma cidade tão única como o Rio de Janeiro.

Por mais paradoxal que possa parecer, o livro é uma bonita tragédia carioca.

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