domingo, 22 de agosto de 2021

Viúva Negra e a despedida de Scarlett Johansson da personagem

Scarlett se despede em belo filme
A Viúva Negra sempre foi uma personagem querida e popular dos fãs de quadrinhos. Pelo menos desde o primeiro filme dos Vingadores, lá em 2012, um filme solo da personagem era desejado. A Marvel demorou demais. Mas antes tarde do que nunca. “Viúva Negra” (Black Widow, no original), primeiro filme da fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel, finalmente chegou aos cinemas após diversos adiamentos causados pela pandemia de Covid-19. A longa espera e os diversos contratempos foram compensados por um trabalho que, embora controverso entre os críticos, eu me alinho entre os que gostaram do filme.

“Viúva Negra” é bem escrito, bem dirigido, tem uma história muito legal, tem boas atuações de seus atores, tem excelentes cenas de ação. Em resumo, é a Marvel mais acertando do que errando. “Viúva Negra” se coloca entre os pontos altos do longo universo desenvolvido pelo estúdio e deixa como questionamento qual seria o potencial deste filme se tivesse sido lançado primeiro num momento mais próximo ao tempo em que ele passa, ou seja, após “Capitão América — Guerra Civil” (2016). Em segundo lugar, sobre o que ele teria feito de bilheteria num mundo normal em que todos podem ir ao cinema.

Nunca saberemos. O que é certo é que o filme dá certo em quase todos os seus aspectos e, num momento em que a Marvel lança séries que não atingiram o potencial esperado, “Viúva Negra” mostra que o estúdio ainda tem boa lenha para queimar e aquecer o coração de seus fãs.

Não é por acaso, aliás, que “Viúva Negra” tem entre suas escritoras a mesma Jac Schaeffer responsável por “WandaVision”, a melhor das três séries da Marvel lançadas até aqui no Disney Plus (as outras são “Falcão e o Soldado Invernal” e “Loki”). Junto com Eric Pearson e Ned Benson, Schaeffer aqui acerta de novo ao investigar o passado da personagem estrelada por Scarlett Johansson criando um filme que é sobre famílias despedaçadas que estão tentando se acertar, mas também sobre vingança, passagem de bastão e que se mostra relevante dentro do universo transmedia da Marvel, explicando pontas da personagem que ficaram perdidas ao longo das fases do estúdio (finalmente sabemos o que aconteceu em Budapeste entre Natasha e Clint Barton), e dando à personagem a importância que ela têm dentro dos Vingadores, com suas camadas e sua história complexa.

E neste contexto, Scarlett entregou uma de suas melhores atuações no papel de Natasha. Tudo isso sendo muito bem assessorada por Florence Pugh (Yelena Belova), uma estrela em ascensão, David Harbour (Guardião Vermelho), que surge como o alívio cômico do filme, e Rachel Weisz, que faz Melina Vostokoff, que os fãs dos quadrinhos conhecem como a Dama de Ferro. Além deles, temos um Ray Winstone inspirado como Dreykov, sendo a sua cena com Natasha na parte final uma das melhores do filme.

É ima pena que Scarlett não deve retornar à personagem. Não apenas porque conhecemos o seu destino, revelado em “Vingadores: Ultimato” (2019), mas porque a tendência é que a Marvel a substitua por Pugh. Infelizmente. Acho que as duas podiam conviver juntas, pois Scarlett se mostrou tão importante quanto Robert Downey Jr, Chris Evans e Chris Hemsworth na construção deste Universo do estúdio. Sua Viúva Negra é tão relevante quanto o Homem de Ferro, o Capitão América e o Thor, interpretado pelos três atores aqui citados.

Mas o legado de Natasha tem tudo para continuar com Pugh, Harbour e Weisz, que esperamos que retomem seus personagens em futuros filmes.

Lamentos à parte, “Viúva Negra” pega a personagem num momento completamente quebrada. O filme se passa imediatamente após os acontecimentos de “Guerra Civil”, em que os Vingadores se dividiram por causa do Tratado de Sokovia. A família de Natasha está rompida enquanto ela é forçada a procurar a sua família falsa russa na busca por finalizar uma missão do passado: acabar com o Salão Vermelho, onde mulheres são treinadas cruelmente para virarem assassinas de aluguel de Dreykov.

O filme aqui aproveita para tocar em questões importantes como o tráfico de mulheres e a invisibilidade de jovens que vivem à margem da sociedade e são “recrutadas” para servirem à uma organização que, no fundo, não deixa de ser terrorista, influenciando em toda a geopolítica do planeta com suas ações.

É na tentativa de resolver estas questões do passado, de entender o papel do que Natasha conhece como família, embora sua construção tenha sido muito falsamente criada dentro de um departamento de espionagem do governo russo nos Estados Unidos, que a personagem buscará forças para encontrar a paz interior que precisa para ajudar a resolver o problema com a família que a adotou, a dos Vingadores. E o resto da história nos conhecemos muito bem.

Assim, o filme se equilibra entre acenar para grandes temas e investigar a intimidade de uma personagem que está num momento de reconstrução para poder finalmente se reerguer.

Talvez a única crítica que se possa fazer ao filme seja o papel do Treinador. Um vilão B, mas que dentro deste grupo está entre os mais legais da Marvel, com um poder de copiar tudo de quem ele está enfrentando, merecia um tratamento melhor do que a ideia que lhe deram para o cinema. O Treinador podia voltar em outro contexto, pois ele tem um potencial a ser explorado.

Cotação da Corneta: nota 9.



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