domingo, 22 de agosto de 2021

"Um lugar silencioso: parte II" é uma decepção

Um filme que não sai do lugar
Quando foi lançado em 2018, “Um lugar silencioso” conquistou público e crítica com uma ideia inventiva que possibilitava usar os recursos de som e silêncio numa história de terror passada em um mundo pós-apocalíptico. Ao explorar bem os recursos técnicos e construir um filme muito tenso e com monstros assustadores, porém cegos, que “farejavam” suas vítimas pela sensibilidade que tinham com o mínimo barulho que ouviam, o filme agradou muitas pessoas.

Embora tivesse uma história que se fechava em si mesma, era inevitável que no mundo atual do cinema marcado por dezenas de sequências, prequels e construções de sagas, que o filme ganhasse uma continuação. É uma pena que “Um lugar silencioso: parte II” (A quiet place: part II, no original) seja tão pobre de ideias, convertendo-se uma verdadeira decepção quando colocado em comparação com o primeiro filme.

(ATENÇÃO QUE A PARTIR DE AGORA TEREMOS SPOILERS).

“Um lugar silencioso: parte II” se passa quase imediatamente após os acontecimentos do primeiro filme. Passaram-se apenas cinco dias em relação ao dramático final da história anterior, que terminou com a morte de Lee (John Krasinski, também diretor e que participa do roteiro desta sequência).

Mas antes temos um longo e um tanto quanto desnecessário flashback que não serve para muita coisa a não ser apresentar o personagem de Cillian Murphy. Ali conhecemos Emmett, aparentemente um amigo da família com contatos no exército, mas nada disso será usado mais a frente. Fica a impressão de que Emmett é a figura masculina da vez na ausência de Lee.

Enquanto isso, acompanhamos a tentativa de Evelyn (Emily Blunt) de sobreviver junto com seus três filho. Entre eles Regan (Millicent Simmonds), que dias atrás (no filme anterior para os espectadores) havia descoberto um ponto fraco das criaturas alienígenas, que dá aos humanos uma pequena vantagem na tentativa de exterminá-las.

O maior problema desta sequência é a falta de ideias novas. Se fosse apenas um capítulo de série, daria para dizer que era um bom episódio que continua a história em questão, mas andando de lado, sem avançar muito. Como na verdade é um filme, é um pouco triste ver que ele não avança em praticamente nada na história. Os personagens continuam tendo que fugir sem fazer nenhum barulho, os humanos continuam se escondendo dos alienígenas em silêncio, Evelyn continua tendo que cuidar de um bebê que neste mundo é uma verdadeira bomba relógio e a tensão e os truques do primeiro filme apenas se repetem no segundo.

Do meio para o final do filme, Regan descobre o que pode ser uma solução para destruir as criaturas. Uma ilha de onde uma estação de rádio transmite em looping uma única música. Ela decide ir lá, Emmett a acompanha, a família se separa e parece que teremos uma busca de uma solução para a trama. Ao chegar na marina a procura de um barco, um grupo é atacado pelos monstros e descobrimos que as criaturas não podem nadar. Uma informação que poderia ser relevante, pois isso converteria a ilha numa zona de segurança deste mundo pós-apocalíptico. Mas a informação não é usada como uma forma de os humanos levarem vantagem na luta pela sobrevivência. Pelo contrário, um barco surpreendentemente — ou melhor, convenientemente — chega a deriva com um monstro justamente até a ilha. Soou como um recurso barato de filme B para levar o monstro até lá. Este foi o maior exemplo da falta de ideias que este filme tem. No jogo de forças entre humanos e monstros, não é possível que o roteiro tenha sido tão empacado e ausente de ideias que fizessem avançar a história.

O que fica de bom de “Um lugar silencioso: parte II” é apenas a repetição dos recursos do primeiro filme. O personagem do Cillian Murphy revela-se quase desnecessário em uma história que fica empacada e não traz nada além do que já não foi visto. Para ver mais do mesmo não era necessária uma continuação.

Cotação da Corneta: nota 6.



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