quinta-feira, 25 de abril de 2019

A grandiosa season finale dos Vingadores

Oh captain my captain
Foram 11 anos desde que a Marvel deu o pontapé inicial no seu universo cinematográfico. Em 22 filmes e duas décadas desde o primeiro “Homem de Ferro” (2008), a Marvel soube construir uma grande história (em todos os sentidos) de uma forma sem precedentes. “Vingadores: Ultimato” (“Vingadores: Endgame”, no original) é o ponto final desse grande arco narrativo que era a batalha contra o vilão Thanos (Josh Brolin). E o final desta saga com cara de “season finale” teve de tudo. É emocionante, bem feito e bem construído. É feliz e também triste. É grandioso. E não apenas pelas três horas de duração do filme. É por ser épico. É também saudosista, mas igualmente uma homenagem à trajetória de todos estes heróis até aqui.
Os diretores Anthony e Joe Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely. conseguiram com muita habilidade dar o ponto final dessa primeira fase do universo Marvel praticamente sem pontas soltas. É muito difícil amarrar uma história deste tamanho e com tantos personagens. E o resultado foi bem sucedido.
(E ATENÇÃO, A PARTIR DE AGORA TEMOS POTENCIAIS SPOILERS)
A pergunta que fica a partir de agora é: como ficará o Universo Marvel daqui para frente. Do que vemos na tela, algumas respostas vem do filme da Capitã Marvel e do próprio “Ultimato”.
Já no mundo real, ele vem dos negócios. Com a compra da Fox pela Disney, a Marvel receberá de volta personagens cujos direitos ela havia vendido para superar a bancarrota da sua empresa de quadrinhos nos anos 90. Isso significa que nas mãos do mago Kevin Feige – porque é preciso ter poderes de Doutor Estranho para administrar tantos heróis e tantas histórias e conectar todas elas – cairão heróis queridos que não estavam no chapéu do seu Universo Cinematográfico. Em especial, os X-Men e o Quarteto Fantástico.
As primeiras pistas serão dadas por “Homem-Aranha: Longe de casa”, primeiro filme da próxima fase do Universo que, segundo a Marvel se passará pouco tempo depois dos acontecimentos de “Ultimato”. O filme estreia já no dia 4 de julho.
Outras pistas surgiram, como dissemos, do filme da Capitã Marvel, onde há uma menção indireta a Galactus, o devorador de mundos. Galactus poderia ser o próximo grande vilão do novo arco narrativo da Marvel e, assim, ajudar a introduzir o Quarteto Fantástico no universo. Já o que será feito com os X-Men ainda é um mistério e “Fênix Negra” talvez não dê muitas pistas.
Mas o que acontecerá com os Vingadores? A Marvel não dá ponto sem nó. Por mais que “Ultimato” tenha mostrado uma cara de “season finale” para a maioria deles. Em especial Capitão América, Homem de Ferro e Viúva Negra, é claro que sabemos que no mundo dos quadrinhos nada é permanente. Nem a morte. Como aprendemos no lançamento de “Guerra Infinita” lá no início dos anos 90, e com outras histórias como “A morte do Superman”. E o próprio filme dá pistas que se a Marvel quiser traz todo mundo de volta.
A julgar, no entanto, pelos passos que a Marvel dará a partir daqui, os Vingadores podem submergir um pouco. Dar um tempo para o público lembrar com carinho de atores que não mais voltarão aos seus personagens como Chris Evans, que foi um perfeito Capitão América, e Robert Downey Jr., que virou a cara de Tony Stark no cinema e soube incorporar e até melhorar em alguns aspectos o personagem dos quadrinhos.
Pelo que se especula, a tendência é que a Marvel aposte em duas vertentes de história. Uma cósmica capitaneada pela Capitã Marvel (Brie Larson) e pelos Guardiões da Galáxia, e outra urbana, tendo o Homem-Aranha (Tom Holland), por enquanto, como o principal vetor. O Quarteto Fantástico poderia ser a ligação entre os dois mundos. O que será feito dos demais personagens ainda é um mistério. Até porque tudo não passa de especulação. Mas confesso estar ansioso pelo que pode vir a acontecer.
Entre os planos de próximos lançamentos da Marvel, por exemplo, estão os lançamentos de “Viúva Negra”, “Os Eternos”, os segundos filmes de Doutor Estranho, Pantera Negra e Capitã Marvel, além do terceiro Guardiões da Galáxia. O que confirma a alternância entre o cósmico e o urbano.
E o filme?
Especificamente sobre “Ultimato”, tudo sempre foi sobre os Vingadores originais. Tanto que Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Capitão América, Homem de Ferro, Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) sobreviveram ao estalar de dedos de Thanos.
Downey Jr brilhou como Homem de Ferro
Eles são os protagonistas desta história com coadjuvantes de luxo como Homem-Aranha, Pantera Negra (Chadwick Boseman), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Máquina de Combate (Don Cheadle), Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Falcão (Anthony Mackie), Nebulosa (Karen Gillan) e Gamora (Zoe Saldana).
São eles que, ao lado do Homem-Formiga (Paul Rudd) vão traçar o plano ousado de viajar no tempo para recuperar as joias do infinito antes que Thanos a consiga para, aí sim, trazer de volta à vida as pessoas que foram assasinadas pelo vilão.
Um ponto positivo do filme que não é mostrado nos quadrinhos está na reflexão dos atos de Thanos. O filme reflete muito bem o estado de depressão profunda do planeta diante do extermínio de metade de sua população. Isso nunca é mostrado na história original, que vai de uma batalha a outra muito rapidamente. Mas é claro que a história original nada tem a ver com o que foi construído pela Marvel no cinema.
O filme, portanto, traz algumas reflexões importantes na sua primeira hora. A primeira é desmistificar a teoria da “evolução natural” de Thanos. Para o vilão, ao dizimar metade do universo, os sobreviventes encontrariam prosperidade e fartura. O que se vê, no entanto, são cinco anos de planetas em conflito, dor e profunda tristeza. Cinco anos de pessoas tentando se reerguer depois de terem visto existências ceifadas de uma forma abrupta e cruel.
Já os heróis precisam lidar com o sentimento da derrota que afeta a todos das mais diferentes maneiras. O Capitão América e a Viúva Negra estão ainda mais sem rumo. O Thor convive com o fracasso de ter falhado não apenas em proteger a Terra, mas também Asgard. O Gavião Arqueiro está numa jornada de vingança e mortes contra bandidos que sobreviveram a Thanos como forma de compensar a perda de sua família.
O Homem de Ferro, por sua vez, reconstruiu a sua vida a partir da derrota, o que nos traz a outro ponto: ele tem o que perder nessa jornada pelo tempo. Vale a pena sacrificar tudo para salvar a vida de bilhões de pessoas? Por outro lado, este não é o papel dos heróis?
A partir da segunda hora, é traçado o plano de recuperar as joias, o que nos leva a uma jornada saudosista sobre os últimos dez anos do Universo Marvel. Ao defrontarem-se com suas imagens no passado, os heróis, e nós mesmos, vemos o passado e o presente entrarem em conflito. E aí ficam algumas pontas soltas que embaralharam toda a história como a conhecemos. Por exemplo, Loki (Tom Hiddleston), não vai preso, mas desaparece. Tudo para que a Marvel possa construir outras linhas temporais. O que acontece quando o Capitão América fica preso em definitivo no passado? É impossível imaginar que ele tenha tido uma vida pacata e feliz com Peggy Cárter (Hayley Atwell).
Nesta jornada saudosista vemos a participação de uma série de coadjuvantes que acompanhamos com carinho nos últimos anos. A maga de Tilda Swinton, Jane Foster (Natalia Portman), a mãe de Thor (Rene Russo), Hank Pym (Michael Douglas). Todos ganham uma ponta, uma fala, enfim, são homenageados por suas participações no Universo Marvel. É emocionante acompanhar tudo e, ao mesmo tempo, excitante ver que eles, de fato, mexeram de tal forma na linha do tempo a ponto de tornarem passado e presente nebulosos.
É de onde eu extraio uma fala de Thanos no terceiro ato do filme. Quando ele diz que a consciência do que aconteceu torna aquilo real mesmo que nem todos tenham consciência daquilo. De fato, Thanos matou estas pessoas e elas estiveram ausentes por cinco anos. É de fato elas voltaram a vida para enfrentar um Thanos de cinco anos antes, um Thanos “inevitável”, mas para que o futuro sombrio possa ser evitado. Mas muitas alterações foram feitas na linha temporal. Definitivamente, eles não seguiram a regra do Homem-Formiga. E ao embaralhar as cartas, a Marvel sabe que pode fazer o que quiser a partir de agora, pois nem tudo pode ter acontecido.
Donde vem o terceiro ato. A batalha contra o Thanos de 2014. É um confronto épico do jeito que nós esperávamos. Mais uma vez, o Capitão América ganha um enorme e merecido destaque. Ele mais uma vez é a metáfora do homem comum que enfrenta o maior de todos os desafios com bravura, mesmo desconfiando de que a derrota é iminente. Pois o seu adversário é infinitamente mais poderoso que ele.
Mas o Capitão luta com a garra que se espera dele. E ganha uma homenagem e tanto ao conseguir empunhar o martelo de Thor. Está foi uma bonita referência a uma história dos quadrinhos de quando o Capitão, em uma batalha ao lado do Thor, consegue erguer o Mjolnir pela primeira vez. A inscrição no martelo de Thor diz que apenas os homens puros de coração e espírito podem erguê-lo. Além do próprio Thor, o Capitão América foi o único que conseguiu tal proeza. E essa referência no filme ficou incrível. Nos quadrinhos, quando isso acontece, é quase como se um laço eterno de amizade entre os dois tivesse sido selado pelo gesto. Aqui tem um significado semelhante e ajuda a eternizar estes dois símbolos dos Vingadores.
O Thor, aliás, é outro que ganha destaque na batalha. Assim como a Capitã Marvel, que surge no segundo momento deus ex-machina do confronto para salvar os Vingadores da derrota. O primeiro é quando o Doutor Estranho traz toda a cavalaria de heróis ressuscitados.
Tudo é muito bem coreografado é visualmente incrível. E culmina com o desfecho que todos esperavam.
O que fica de “Vingadores: Ultimato” é que a Marvel segue inigualável no comando do cinema de entretenimento. O desfecho dessa jornada ainda atiça a curiosidade sobre os próximos passos do estúdio. Há projetos de séries de TV no Disney+ do Loki, Feiticeira Escarlate e Falcão e Soldado Invernal, novos filmes a surgir ainda este ano e não sabemos como ficarão os heróis cortados da Netflix (Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro e Jessica Jones). Eles não tinham muita relação com o universo do cinema, mas tenho esperança que possam ser aproveitados. Mas parece-me que essa nova jornada tem tudo para ser tão bem sucedida quanto a que agora se encerrou.
Cotação da Corneta: nota 9.

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