quinta-feira, 14 de março de 2019

Capitã Marvel ficou devendo

Carol Danvers mal sabe o que a espera
Quando Nick Fury (Samuel L. Jackson), mandou aquela mensagem por um pager adaptado segundos depois do estalar de dedos de Thanos, a expectativa foi lá para o alto. Afinal, há quase um ano aguardávamos a chegada da Capitã Marvel (Brie Larson) como a potencial heroína que iria salvar o dia em um universo que anda com muitos problemas e que foi 50% dizimado pelo vilão. 

E talvez o maior problema de “Capitã Marvel” (Captain Marvel, no original) seja essa expectativa gerada. Aliado, também, a outros fatores. Por exemplo, o patamar que alguns filmes da Marvel atingiram há alguns anos. O trabalho da diretora Anna Boden e do diretor Ryan Fleck infelizmente não pode ser colocado na mesma prateleira de filmes como “Pantera Negra” (2018), “Vingadores: Guerra Infinita” (2018), “Capitão América: Soldado Invernal” (2014), “Capitão América: Guerra Civil” (2016) e “Guardiões da Galáxia” (2014), só para ficar em alguns filmes das fases 2 e 3 do Universo Cinematográfico da Marvel. Também não é melhor que “Mulher Maravilha” (2017), só a título de comparação com o que de melhor a DC criou nestes últimos anos. 

De fato, “Capitã Marvel” é um filme todo conduzido em banho maria. É pouco inspirado, suas cenas de ação estão longe de figurar entre as melhores já produzidas pela Marvel e deixa de explorar aspectos importantes da narrativa em torno da qual a heroína foi inserida.

Fica a pergunta: Por que ao invés de mostrar a enésima história de origem com os mesmos elementos cansativos que já vimos em outros filmes de origem, “Capitã Marvel” não foi direto ao que interessa? No caso, a guerra entre Skrulls e Krees, uma das histórias mais clássicas nos quadrinhos.

É compreensível a necessidade de apresentar a personagem. Afinal, até então, no cinema, Carol Danvers (Brie Larson) nunca havia sequer sido mencionada. Mas o velho arco “Quem eu sou realmente? – De onde eu vim? – Qual a minha função no mundo? – Por que estou fazendo isso? – O que estão me escondendo? – Finalmente me redescobri” parece uma fórmula cansativa que nos deixa com a impressão de que esta história poderia ser melhor contada de outra maneira. Ou pior, passa a impressão de ser um filme preguiçoso.

Claro que olhando para tudo o que a Marvel construiu até aqui, fazer o filme da Capitã Marvel neste formato foi um risco bem calculado. O estúdio apostou no tardio ineditismo de ter uma mulher protagonista de um filme de super-heróis dele, enquanto se viu ultrapassado pela DC neste ponto, que lançou bem antes o filme da Mulher Maravilha. E as cifras se multiplicando a cada dia no cinema, mostram que a Marvel, pelo menos do ponto de vista econômico, tinha tomado a decisão certa. Esperamos que agora ela tenha a ousadia de seguir em frente e fazer o filme da Viúva Negra, tão desejado desde “Os Vingadores” (2012).

Porém, “Capitã Marvel” acaba por ser um filme um pouco anódino. Tem uma primeira parte confusa que remete a flashbacks para tentar situar quem é Carol Danvers, um meio com uma longa redescoberta e acertos de contas e um fim em que faltou a figura de um vilão que realmente a confrontasse enquanto ela descobria todo o potencial dos seus poderes. Para uma raça de guerreiros, porém, os Krees desistiram muito facilmente de enfrentá-la só porque ela impede algumas ogivas de atingir a Terra.

A impressão que fica é de que “Capitã Marvel” serviu mais como um filme como “Homem-Formiga e Vespa” (2018). Enquanto este situou para o espectador onde estava Scott Lang quando Thanos estalou os dedos, aquele serviu para dar um panorama bastante generalizado de quem é a Capitã Marvel antes do inevitável confronto com Thanos em “Vingadores: Ultimato”. Todo o melhor parece ter ficado para um eventual segundo filme. Em especial a Guerra Kree-Skrull.

Sobre Brie Larson, a atriz pareceu ter sido uma escolha acertada para o papel. É uma boa atriz que não chega a ter uma atuação estupenda, mas tem qualidades para o desenvolvimento da personagem daqui para a frente. E a parceria com Samuel L.Jackson funcionou bem no filme. Vamos ver como será agora que ela irá se inserir em "Vingadores: Ultimato".

Outro ponto positivo é a trilha sonora. Como “Capitã Marvel” se passa nos anos 90, o filme trouxe uma coleção de sucessos da década com canções de Garbage, No Doubt, Nirvana, R.E.M. Foi uma viagem no tempo e cheio de referências à década, da rede de locadoras Blockbuster aos filmes do Tarantino. Mas algumas canções pareceram um pouco deslocadas. Não fez muito sentido “Come as you are” enquanto Carol se confrontava com a Inteligência Suprema Kree.

“Capitã Marvel”, portanto, ficou devendo. É uma diversão ok, mas ficou a impressão de que o melhor ficou guardado para o futuro.

Cotação da Corneta: nota 6.

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