segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O canto do cisne de Redford

Redford e sua classe para roubar bancos
Há alguns meses, Robert Redford anunciou que estaria se aposentando. Seu último filme como ator seria “O cavaleiro com arma” ("The old man & the gun, no original), trabalho em que o ator de 82 anos interpreta a história real do assaltante de bancos Forrest Tucker. 

O papel de Tucker, que viveu toda uma vida de crimes e escapou de 17 prisões até a sua morte em 2004, é o canto do cisne de um ator que sempre foi conhecido por sua classe e altivez aliado aos conhecidos olhos azuis que estamparam as telas dos cinemas por mais de cinco décadas. 

“O cavaleiro com arma” é um filme delicioso de acompanhar e feito sob medida para Redford brilhar. O diretor David Lowery aproveita todas as sutilezas, o minimalismo e o meio sorriso de Redford para contar uma história incrível com um estilo clássico de filmar, que emula os grandes filmes dos anos 70. 

Redford está impecável e merecia uma indicação ao Oscar, prêmio, aliás, que ele só venceu uma vez como diretor por “Gente como a gente” (1980). Ele ainda foi indicado como ator por “Golpe de mestre” (1974), e como diretor e pelo filme “Quiz Show - a verdade dos bastidores” (1994). 

A história de Tucker é tão improvável que é até difícil acreditar que tenha sido real. Ele roubou mais de uma centena de bancos em sua carreira de crimes. Tudo sem dar um único tiro - há quem diga que ele sequer tenha disparado a sua arma - e sempre usando a mesma abordagem. Sendo gentil, cavalheiro e sorrindo e acalmando as vítimas impassíveis diante de suas feições idosas e seu termo impecavelmente cortado. 

Redford encarna brilhantemente este tipo sedutor que usa tão bem as poucas palavras que profere da mesma forma que tem uma irresistível arte para roubar bancos. A vida do crime era a maior prazer para Tucker, que aparentemente só se sentia livre na eterna briga de gato e rato com a polícia. Tanto que não conseguiu sossegar na vida pacata com a sua terceira esposa, Jewel (Sissy Spacek). 

Lowery também aproveita o filme para fazer uma homenagem a Redford. Ao ilustrar as cenas de diferentes fugas de Tucker, o diretor usa cenas de filmes antigos do ator, numa jogada brilhante, bem como um belo trabalho de pesquisa. 

O sucesso do filme, que lhe rendeu até uma indicação ao Globo de Ouro de ator, pode ter feito Redford repensar a sua aposentadoria. Pelo menos é o que diz o diretor do filme. Mas se este foi mesmo o seu último trabalho como ator, que belo capítulo final teve a sua cinebiografia. 

Cotação da Corneta: nota 7,5.

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