segunda-feira, 12 de março de 2018

Wakanda forever

Duelo de titãs
Vamos precisar refazer o ranking de melhores filmes de super-herói porque a África chegou chegando para abalar as estruturas e, principalmente, as certezas, da Marvel. “Pantera Negra” tem tudo o que um bom filme de super-herói deve ter e não tem tudo o que não aguentávamos mais ver nos filmes da Marvel.  
São tantos acertos que vamos enumerar alguns deles no textão a partir de agora: 

1- Foi de chorar de emoção toda a caracterização de Wakanda, o mítico país africano de onde vem o rei T’Challa (Chadwick Boseman). Eu não poderia imaginar algo mais perfeito do que o trabalho feito na criação do país rico em vibranium, o tal metal mais poderoso da terra, e altamente desenvolvido. 

2- Eu li uma entrevista do Ryan Coogler, diretor do filme e do ótimo “Creed” (2015), diga-se de passagem, dizendo que ao trabalhar nessa produção, queria mergulhar nas raízes e tradições africanas, entender e refletir sobre o que é ser africano e pensar no que a África poderia ser se suas riquezas não tivessem sido saqueadas por impérios coloniais. Não tenho todo o conhecimento necessário para dizer se ele acertou em cheio, mas a Wakanda que ele nos presenteia é uma nação rica, de alto desenvolvimento tecnológico e vasto conhecimento científico partilhado por todos, com homens e mulheres vivendo em condições iguais e que ao mesmo tempo não foge das suas tradições tribais, das suas cores, dos seus cantos e que exibe uma exuberância da natureza só encontrada num continente como a África. Tudo sem aquela cara de “olha que coisa exótica” para o homem branco olhar encantado como diante de uma experiência antropológica. É apenas e tão somente cultura. 

3- Wakanda é uma sociedade idílica? Talvez. Mas essa é uma obra dos quadrinhos. Contudo, por que seus ideais não seriam possíveis? 

4- Outro acerto maravilhoso está no elenco recheado de bons atores negros que estão se destacando no momento. Chadwick Boseman é um excelente Pantera Negra. Daniel Kaluuya, protagonista de “Corra!” (2017), também está bem como o líder tribal W’Kabi. E ainda tem a Lupita Nyong’o como a Nakia, namorada de T’Challa, e Michael B. Jordan no papel clássico do vilão que quer espalhar o caos pelo mundo (eles sempre querem dominar ou levar caos ao mundo). 

5- Mas de todos, a minha personagem favorita é a general Okoye (Danai Gurira). Ela faz o braço-direito do Pantera Negra, é a líder do Exército de Wakanda, e maneja uma lança de fazer inveja aos melhores guerreiros. Torci muito para Okoye não morrer no filme. Principalmente quando achei que isso estava perto de acontecer. 

6- “Pantera Negra” também é bom por dialogar com uma série de questões da atualidade. Tem menções ao Boko Haram, fala de refugiados, fala sobre o papel e que tipo de protagonismo uma nação rica e próspera deve ter no mundo. Fala sobre o roubo de riquezas e apropriação da cultura e sobre igualdade (ou a busca de uma igualdade de gênero, de raça). Tudo dentro do entretenimento porque isso aqui não é caridade. É para fazer dinheiro. 

6- Com o filme, e um filme tão bem feito, a Marvel também paga uma dívida de ter um personagem negro como protagonista de algo. Convenhamos, a série do Luke Cage é um pouco caída. Faltava um personagem bom num filme bom. Nisso, eles saíram na frente da DC. O “Raio Negro” tinha potencial, mas está começando a cair na mesma esparrela ruim das outras séries da DC. 

7- “Pantera Negra” também tem o mérito de nós apresentar a verdadeira face do Andy Serkis! Nos últimos anos ele foi o Gollum do “Senhor dos anéis”, o Caesar do “Planeta dos Macacos”, o Snoke de “Star Wars”... tudo entidade sobrenatural ou indivíduo pós-darwinista. Um dos dois atores brancos do filme (o outro é o Martin “doutor Watson de “Sherlock” Freeman), ele vive o traficante malucão Ulysses Klaus. Uma pena que não dura muito.

8- Fora tudo isso, o que eu mais queria de Wakanda era tomar aquela ayahuasca púrpura só para ir para a outra dimensão e ver a aurora boreal violeta de lá. Deve ser muita onda. 

9- E no fim eu espero que a Marvel tenha aprendido a lição e finalmente se liberte de sua cansativa fórmula. É possível fazer um filme bom e divertido, que seja entretenimento e que trate de questões relevantes sem usar piadinhas dos Três Patetas ou expressões de tio do pavê. 

10- É isso, amigos. Wakanda forever!

Cotação da Corneta: nota 9

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