domingo, 4 de março de 2018

E se eu votasse no Oscar?

Hoje é o grande dia, amigos. Foi para isso e só por isso que trabalhamos o ano todo cornetando filmes. Hoje é o dia de falar mal do Oscar! E dessa vez eu não sei como vou ver porque a minha diferença de horário para La La Land está em oito fucking hours!
Mas enquanto a festinha não chega, vamos aos comentários malemolentes para animar este domingo. Afinal, Corneta é vida.
1- O candidato a papa-carecas dourados da vez é “A forma da água”, aquela fábula lírica sobre zoofilia. São 13 indicações. Logo, é improvável que o filme de Guillermo del Toro não saia pelo menos com um prêmio de consolação do tipo “melhor edição de som” para poderem colocar no cartaz no futuro a frase: “vencedor de xx Oscar”.
2- “A forma da água”, inclusive, tem chance de ganhar o maior prêmio da night. Seria um 7 a 1 para a Casa Branca de Trump ver um gordinho barbudo de Guadalajara levar o maior prêmio do cinema americano. Logo, seria divertido.
3- Porém, se me dessem o poder do voto (e eu não sei porque ainda não fizeram isso), o melhor filme iria para “Dunkirk”. É o filme mais interessante, mais inventivo e o que me deixou mais EMBASBACADO quando vi.
4- Contudo, acho improvável que “Dunkirk” vença. É um filme absolutamente branco, um filme Omo dupla ação, e que foi criticado por ter excluído os soldados indianos que participaram da guerra e também estiveram naquela batalha. E todos sabemos que a política e mandar recados são dois elementos importantes da festinha. Hollywood já apanhou por ter um Oscar branco, está apanhando com as denúncias de assédio e eles precisam mandar o recado da diversidade para a gente fingir que acredita.
5- Todavia, o prêmio estará muito bem dado se for para “Três anúncios para um crime”, o meu segundo favorito na categoria principal, ou “Trama Fantasma”. Se der “A forma da água”, “Me chame pelo seu nome” e “Lady Bird” será fofo. Se der “Corra!” será uma bela surpresa. Qualquer outro resultado, podemos dizer categoricamente que será um ERRO.
6- Principalmente se der “The Post”. Um filme muito abaixo da média neste grupo dos nove indicados. E, aliás, fica aqui o recado dado há dois anos, antes da aberração de “Spotlight”. Se “The Post” vencer eu não quero ouvir falar em vitória do jornalismo, bicampeonato do jornalismo, viva a imprensa, vamos trazer o Pasquim de volta, e frases como “a prova que o mundo não vive sem bons repórteres e sem a nobre função do jornalista” e coisas do gênero. Se “The Post” vencer não será uma vitória do jornalismo. Será uma derrota do cinema.
7- Inclusive, dois vacilos dessa premiação foi não ter incluído “Eu, Tonya” e “Blade Runner 2049” entre os indicados a melhor filme. Os outros vacilos foram a ausência de Dennis Villeneuve entre os indicados para diretor, a de Armie Hammer (“Me chame pelo seu nome”) entre os indicados a ator coadjuvante, e, eu diria até que o Tom Hanks (“The Post”) merecia uma indicação como ator.
8- O prêmio Corneta de diretor, obviamente, vai para Christopher Nolan (“Dunkirk”).
9- Entre os atores, o meu voto vai para Daniel Day-Lewis (“Trama Fantasma”). No desempate, considerei muito mais desafiador criar do nada uma figura irascível e intragável, mas com uma série de camadas interessantes como o estilista Reynolds Woodcock do que imitar uma celebridade como Winston Churchill, já vivida por tantos atores com muita competência. Ainda que o trabalho de Gary Oldman seja brilhante e não será uma aberração se ele vencer. Porém, o que ele mostrou de verdadeiramente novo?
10- Sally Hawkins fez o que talvez seja o trabalho da vida dela. Seria legal se ela vencesse o prêmio de atriz. Mas o meu voto vai mesmo para Frances McDormand que é uma verdadeira TITÃ em “Três anúncios para um crime”.
11- Ator coadjuvante? Sam Rockwell, o policial Dixon em “Três anúncios para um crime”. Mas não seria de todo ruim ver o Christopher Plummer vencer, pois ele é a única coisa realmente interessante em “Todo o dinheiro do mundo”. Willem Defoe? Não sei o que está fazendo entre os indicados.
12- Atriz coadjuvante? Allison Janey, a mãe de Tonya Harding em “Eu, Tonya”. Mas Octavia Spencer tem a minha medalha de prata.
13- Roteiro original? Gosto da história de “A forma da água”, dos diálogos, dos personagens. Mas dos cinco, a ideia mais legal é a de “Corra!”, que ganha o meu voto. Roteiro adaptado? É muito picareta da minha parte votar nisso porque eu só conheço os quadrinhos do Wolverine. Mas como eu duvido que todos os que votam tenham lido as obras originais, votarei em “Me chame pelo seu nome”. Mas se “Logan” vencer eu ficarei pessoalmente bem feliz.
14- Filme estrangeiro, minha categoria favorita. Não vi “O insulto”. Então como esse DVD não chegou na minha mesa, meu voto vai para o russo “Sem amor”.
15- Design de produção? Eu não entendo nada de design de produção. Desde que não ganhe o medíocre “A bela e a fera” está tudo bem. Figurino? Desde que não ganhe o medíocre... enfim, vocês sabem. Tudo porque é inaceitável que “A bela e a fera” ganhe o direito de ter um futuro cartaz escrito “vencedor de xx Oscar”.
16- “Mystery of love”, de Sufjan Stevens, do filme “Me chame pelo seu nome”, é tão absurdamente linda que todas as outras canções deviam se retirar da disputa. Principalmente “Remember me” (“Viva - a vida é uma festa”), que nem devia estar lá. Já a trilha sonora eu vou me abster porque nenhum dos indicados me pareceu verdadeiramente marcante.
17- Animação? “Com amor, Van Gogh”, que tem o meu voto, e “The Breadwinner” são tão superiores aos demais que eu não consigo imaginar outro vencendo. Pior que pode realmente acontecer. Afinal, “Viva” ganhou o Globo de Ouro. Aí como eu vou levar animação a sério?
18- Edição? “Em ritmo de fuga”, por favor. Edição de som e mixagem de som? “Dunkirk”, por favor. Fotografia? “Blade Runner 2049”. Efeitos visuais? “Blade Runner 2049”. Maquiagem e cabelo? Não acredito que essa categoria ainda existe.
19- Queria muito que a cerimônia hoje durasse duas horas. Dá para fazer. Basta ter vontade política.
20- Mas espero que pelo menos dessa vez acertem todos os envelopes da premiação. 

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