segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Um Star Wars um pouco decepcionante

Segura essa Força, Rey
A Corneta foi para uma galáxia muito, muito distante, esperando encontrar um filme épico e impecável. Mas saiu da seção de “Star Wars - os últimos Jedi” com a seguinte questão: “Precisava ser tão longo? Até porque, se espremer bem, não dá 30 páginas de roteiro”. Verdades precisam ser ditas sobre esse Star Wars de Rian Johnson. E a primeira delas é: não é um grande filme. A segunda é: Quando Kylo Ren (Adam Driver) tornar-se-á um vilão do padrão de Darth Vader?
Sim, o novo Star Wars é reverente ao cânone. Sim, é emocionante ver o Mark Hamill de volta ao papel de Luke Skywalker, da mesma forma que é muito legal ver o mestre Yoda em versão entidade espírita falando alemão. E não deixa de ter um significado especial cada vez que a saudosa Carrie Fisher aparece na tela. Mas o que de fato acontece neste filme? Pouca coisa.
(ATENÇÃO! CUIDADO, QUE A FORÇA ESTÁ COM OS SPOILERS A PARTIR DE AGORA)
São 2h30 de muitos diálogos pobres, frases retiradas de livros de auto-ajuda (vamos ter esperança, tenha fé, a Força ajuda a quem cedo madruga, etc...), irritantes piadinhas Marvel-style que nada tem a ver com a mitologia de “Star Wars” e uma história que não avança muito, não traz grandes embates e nem se alinha para alguma definição momentânea que seja. O tempo todo, o filme é um 0 a 0 para não ferir suscetibilidades e deixar tudo em suspenso para o episódio XIX. Depois do ótimo “O Despertar da Força”, era preciso mais.
Podemos resumir “Os últimos Jedis” da seguinte maneira: Os rebeldes estão sendo massacrados, o governo imperialista está se dando bem, destruindo os rivais e fazendo as reformas da previdência e trabalhista, tem um monte de libriano indeciso sobre o que quer da vida e vários personagens vivendo momentos em que esticam a corda até o limite, a trilha sonora vai acompanhando, a câmera vai ampliando o zoom e.... nada, absolutamente nada de fato impactante acontece nestes momentos. Ou seja, é aquele filme padrão terraplanagem para o que vem pela frente.
Por outro lado, acredite, ainda assim, “Star Wars: os últimos Jedi” é divertido. Cansativo pela sua longa duração, mas legal. Porque é sempre legal ver as naves se pegando no espaço e porque sempre tem um duelo de sabre de luz maneiro. A da Rey (Daisy Ridley) com o Kylo Ren e os capangas do Snoke (Andy Serkis), que esperamos que não tenha morrido, é excelente. E de fato faltam mais momentos como esse. Além de batalhas mais inspiradas.
O filme começa com uma batalha no espaço em que o Poe Dameron (Oscar Isaac) mostra a sua veia Han Solo de desobediência para destruir um cruzador inimigo. Tudo muito bom, tudo muito bem, só que o partido do governo é mais esperto, saca as táticas dos rebeldes e consegue rastreá-los na velocidade da luz.
Aí é que o buraco vai mais embaixo. A nave mãe dos rebeldes precisa usar um escudo defletor para rebater os ataques dos inimigos. O problema é que isso gasta muito combustível e o posto Ipiranga mais próximo é na Constelação de Tatooine. Ou seja, a general Leia (Carrie Fisher) e a almirante Holdo “Big Little Lies” (Laura Dern) estão correndo o risco de emular o Rubinho Barrichello e ter pane seca.
Enquanto isso, Rey vai em busca do elemento que os rebeldes precisam para tentar virar o jogo. São armas? São exércitos? Não. ESPERANÇA. Então tá né.
Ela se dirige até Dragonstone (opa, série errada). Ela vai até Fernando de Noronha, onde Luke Skywalker curte a sua aposentadoria de uma maneira tão largada que ele nem faz mais a barba.
Rey quer fazer o mestrado em Jedaismo, mas Luke tá desiludido da vida, não acredita mais no amor, acha que a religião que seguia não era isso tudo que o pastor Obi Wan Kenobi dizia e não quer saber mais da Força. Só que mesmo não sendo o He-Man, Rey tem a força. O problema é que o treinamento dado pelo Luke é digno de um professor cansado e que não está muito a fim de dar aula. Ele até começa bem com o lance das pedras, bem senhor Miyagi style, mas não dá muito certo. Rey então resolve terminar o mestrado por conta própria na universidade da vida. Mas ela mexe pedras como poucos.
Ah, mas tem outro problema. Rey tem uma espécie de WhatsApp telepático com o Kylo Ren em que eles ficam tendo uma cansativa DR telecinética forçando cada um a entrar para o partido deles.
- Você tem que vir para o PMDB. Nós somos maioria. Temos mais verba, mais soldados, estamos no poder. Estamos fazendo as reformas que a galáxia precisa para o século XXVIII. Junte-se nós. Vamos governar a galáxia numa chapa conjunta. Juntos somos mais fortes!
- Fala sério, Kylo! Aqui no PSOL somos pequenininhos, temos pouca gente, mas confiamos no nosso trabalho de formiguinhas intergalácticas. Vem pro meu lado. Todos os dirigentes históricos que brilharam na galáxia estão comigo. Seu pai, o Han, era um dos nossos líderes, temos Luke, temos Leia...
- Ih, isso tudo é passado, Rey. Quem vive de passado é museu. Eu sou o presente e o futuro desse governo. O projeto “Acelera Galáxia” vai mudar a vida de todos.
- É, não vai rolar. Pensei que pelo cheiro de tinta aqui estava até pintando um clima entre a gente. Afinal, a gente tinha uma conexão com excelente Wi-Fi. Mas você está com ideias muito erradas. Acho que vou aceitar aquele date do Poe. Sorry, Kylo. Você é muito dark and twisted para mim.

Enquanto isso, o Finn (John Boyega)... o que faz o Finn nesse filme a não ser fracassar, levar uma volta do Benício del Toro e ganhar um beijo da japonesinha? Ah, ele acerta as contas com a chefona do aquário dos stormtroopers. Um duelo que não foi exatamente emocionante.
Até que chegamos ao momento que prometia ser épico. A batalha no planeta sal, onde a meia dúzia de rebeldes que ainda existe tenta sobreviver. Está tudo pronto para ser uma vitória arrasadora do governo. Os caras levaram um canhão da Estrela da Morte e tem milhares de soldados enquanto os rebeldes são tão poucos que cabem numa kombi.
Kylo Paterson não quer saber de poesia e lirismo. Libera o Metallica e grita: “Kill ‘Em all! No mercy!”.
Tudo ia correr bem para o lado negro da força. Mas se isso acontecesse, não teria outro filme. Então surge Luke Skywalker. Andando de boa pelo sal sem qualquer preocupação com a pressão alta. Afinal, Jedis são senhores do equilíbrio.
O mesmo não se pode dizer dos Vader Boys. Kylo fica possesso! Manda descarregar todas as metralhadoras em Luke, que sorri e limpa a poeira do casaco. Aí o Kylo enlouquece. Desce e parte para a porrada. O problema é que ele não é um mestre. Com apenas alguns movimentos de “Matrix”, Luke não se abala e parece até que beberia um cafezinho se estivesse a mão.
Até que ele cansa. Desliga o sabre de luz, pois a bateria devia estar acabando. Kylo vê a chance e ataca com força e vitalidade. Os fãs prendem a respiração e temem pelo pior. Temem pelo mesmo que aconteceu com Han Solo. Temem pelo fim de Luke. O PAVOR nos acomete até a ALMA.
Mas só quem é um Jedi nível master sabe o que é ser um Jedi nível master. Luke vira para o Kylo, a gente, a sociedade e o governo e diz: “Pegadinha do malandro! Glu -glu!”. Foi seu último ato antes de virar poeira lá em Fernando de Noronha e entrar de vez para a categoria das entidades Jedis. Luke não é mais um corpo, mas de repente volta como espírito. Luke, você realmente é alma desse filme.
“Star Wars: os últimos Jedi” podia ter entregue um pouco mais. Mas Rian Johnson tem o mérito de estar clareando o terreno e passando o bastão para uma nova geração de heróis e vilões tornarem-se protagonistas, renovando a saga e mantendo a franquia firme e forte na cultura pop. Naturalmente, como a resistência foi dizimada, é de se esperar que uma nova geração de personagens e heróis apareça no próximo filme, que provavelmente se passará muitos anos à frente. Espera-se que Poe torne-se o líder que Leia gostaria que ele fosse e que Rey passe a treinar uma nova geração de Jedis.
O filme atual não chega a ser brilhante, mas ao menos promete que algo realmente interessante pode vir a acontecer. Pelo menos essa é a minha ESPERANÇA. No fundo, não é sobre isso que “os últimos Jedi” fala?
Cotação da Corneta: nota 6,5.


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