terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Mais do mesmo de Woody Allen

Kate Winslet está muito bem no papel
Woody Allen é uma instituição. Amado por muita gente, ele costuma ser daqueles tipos que se usa a arrogante frase: “um filme ruim de fulano é melhor do que muita coisa por aí”. Como se ele pudesse ter privilégios por conta de sua produção cinematográfica e sua história. E como se tais privilégios fossem relevantes ou necessários para ele. Na verdade, Woody Allen atingiu há algumas décadas um status de que não precisa de elogios e ninguém sendo condescendente com ele. Este é, portanto, apenas mais um texto sobre “Roda Gigante”

Perfeita metáfora de sua carreira cinematográfica recente - por vezes você está por cima, por vezes por baixo - “Roda Gigante” pode ser visto de duas formas sob um mesmo prisma. É um filme nostálgico de um homem com seus recém-completados 82 anos que aposta em interpretações teatrais com uma pegada, ou diria até, um olhar, para os filmes da Hollywood dos anos 40 e 50. 

E isso pode ser bom ou ruim, dependendo do gosto do freguês. Apesar da brilhante interpretação de Kate Winslet, uma grande atriz que brilha em quase todos os projetos que participa, “Roda Gigante” soa particularmente aos meus ouvidos como um filme monocórdico com estilos de interpretação que parecem não caber nos dias atuais. Confesso ser um pouco irritante certos tons histriônicos. Mas isso é um gosto puramente pessoal. 

Se eu tivesse que avaliar a produção recente de Woody Allen dentro da metáfora da roda gigante, diria que o seu mais novo filme está no meio do trajeto. Nem no topo de um “Meia-noite em Paris” (2011) ou “Match Point” (2005), nem lá embaixo de produções como “Magia ao luar” (2014). 

“Roda Gigante” tem méritos. Além de Kate Winslet brilhando solo como Cate Blanchett em “Blue Jasmine” (2013), ao viver uma garçonete de meia idade aspirante a atriz que trabalha num marisqueiro, tem um casamento infeliz com Humpret (Jim Belushi) e se envolve com o salva-vidas do posto 7 de Coney Island, há uma boa participação de Juno Temple, como Caroline, filha de Humpret que está marcada pela máfia e volta para casa depois de denunciar o marido, Frank Damato, para o FBI para encontrar um esconderijo e refazer a vida. 

Mas Justin Timberlake não convence como narrador dessa história e aspirante a escritor e autor teatral, que quebra a quarta parede para conversar com o espectador, mas não diz nada de muito relevante nesta história agridoce com pegada de fábula moral. 

Se nostalgia é a marca do filme, os fãs de “Sopranos” reconheceram dois atores muito queridos. Steve Schirripa e Tony Sirico que faziam Baccala e Paulie na série, vivem justamente dois mafiosos na película de Allen que, embora tenham nomes diferentes, interpretem como os velhos personagens da série da HBO. Até a característica risada do Paulie é usada pelo ator em sua pequena participação. Impossível imaginar que isso não foi de propósito. 

Assim gira a “Roda Gigante” de Woody Allen, um filme que está longe de ser brilhante, mas que pregará com desenvoltura para os já doutrinados. Ainda que ele tenha menos daquele humor característico do diretor. É um trabalho que alinha com “Café Society” (2016) e não é exatamente marcante na filmografia do diretor. 

Cotação da Corneta: nota 7


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