segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Lisboa facts - semana 2

Uma bela ruas de Lisboa/Marcelo Alves
Duas semanas em Portugal e o semanário da Corneta lusitana tem mais uma série de informações irrelevantes para compartilhar com seus 17 leitores. 

1- Finalmente eu passei pela experiência de ir ao cinema em Lisboa. E descobri que é mais difícil ler legenda de filme em português de Portugal do que ler texto acadêmico na mesma língua. Alguma expressões são ininteligíveis para mim. Por sorte, era um filme americano e aquele passado distante na Cultura Inglesa me salvou. Mas imagina quando eu quiser ver um filme iraniano? 

2- Contudo, nada no cinema português é mais bizarro do que ter intervalo no filme. Intervalo! E é tão curto que mal dá para ir ao banheiro. Também é desnecessário acender as luzes cinco segundos antes do filme acabar. 

3- By the way, "Bade Runner 2049" é maravilhoso. Denis Villeneuve é um puta cineasta. Que belíssimo filme. 

4- No início, eu vi uma pessoa. Depois foram duas. Em seguida, três. Quando eu cheguei a umas 25 pessoas diferentes acho que já posso configurar como tendência na irresponsabilidade que é escrever no Facebook posts com nenhum compromisso com a veracidade dos fatos. Então, como o português curte esse lance de jeans com o joelho rasgado no que chamarei de "raladinho style". Se eu faço isso, o meu joelho congela no inverno. 

5- Por falar em estilo, esbarrei na semana de moda de Lisboa. Entrei meio sem querer no meio daqueles fashionistas e senti a pressão quando um cara me pediu para eu fazer uma foto num grupo que tinha uma suposta modelo. Pelo menos ela fazia carão para a foto. Imagina o meu medo dessa foto dar errado.

6- A língua até aqui não tem sido um grande problema (menos no cinema). Mas aquele à onde brasileiro fala Á e aquele Ó onde brasileiro fala Ô ainda gera interrogações. Aprende, Marcelo, é COMBÓIO e não comboio. É ADUREI ao invés de adorei. E outro dia que quando eu precisei tirar uma xerox e um senhor me disse para ir na Casa das Bandeiras e eu entendi Casa das Madeiras? 😂😂

7- Um jornal aqui disse que o atacante Gabigol podia voltar ao Brasil poucos meses depois de chegar ao Benfica. O motivo? Ele não estaria adaptado a Lisboa. Amigo, eu como arroz de pato no bandejão da faculdade a 2,65 merkels. Imagina você que tem dinheiro e pode gastar inacreditáveis 13 merkels por um prato de bacalhau todo dia. Se não se adaptar a Lisboa, vai se adaptar a onde?

8- Eu aprendi nesta semana que o lisboeta é conhecido como ALFACINHA. Mas não é porque ele é verde, sem graça e coadjuvante em qualquer salada. Tem um componente histórico aí. Vamos a ele. 

9- A etimologia remonta ao século XIX por conta de uma citação do escritor Almeida Garret em "Viagens na minha Terra", mas reza a lenda que a história é mais antiga e vem do hábito de os lisboetas comerem muita alface (o que é uma verdade. A única coisa que eu comi sem alface aqui foi sorvete). As más línguas, porém, dizem que se deve ao hábito que os lisboetas tinham no passado distante de não se movimentarem muito, não saírem de casa, não irem para a night. Parece que eles eram meio paradões e só saíam para ir para a missa. Mas há quem também tenha o argumento militar. Durante a ocupação dos mouros entre 711 e 714, a alface teria sido o único alimento disponível aos habitantes da capital. Difícil acreditar nisso, mas imagina você passar três anos só comendo alface? Aposto que foi a fase mais fit de Lisboa. 

10- E como eu fui buscar toda essa história vegana? Acredite se quiser: tudo graças a Madonna. É porque estava no lide de um jornal local que a minha vizinha um pouco mais famosa não demoraria a virar alfacinha, pois estava perto de conseguir o atestado de residência e o visto de permanência no país. Madonna, inclusive, teve uma audiência com a Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Souza, para agilizar a sua autorização. Quem pode, pode né. Eu preciso muito virar amigo da Madonna para também ter acesso a essas facilidades. 

11- Por falar em comida (alface não tem muita graça, mas é comida), Lisboa tem o nome de supermercado mais fofo do universo. Chama-se Pingo Doce. É tão maravilhoso esse nome, que só pode ser um marketing de guerrilha para fazer você consumir mais. "Vou no Pingo Doce. Ahhhhh, esse nome! Compra uma barra de chocolate!". 

12- Pequenas decepções. O kit kat aqui não é tão maravilhoso quanto em outros lugares. É uma versão com mais leite e mais cacau e não tem o mesmo sabor. Falta algo. Mas diante disso, a gente aceita o que tem. Tem também um salame de chocolate que tinha a maior pinta de versão local da palha italiana. É gostosinho, mas não tem a mesma qualidade da palha italiana. Pelo visto, terei que ir até a Itália, onde o doce deve se chamar apenas palha. 

13- Em compensação, o Milka de Óreo.... Jesus and Mary Chain! Vicia mais que droga pesada. 

14- Portugal, vocês sabem, é um país católico. Diante disso, seus doces têm uma pegada e, muitas vezes, sabor divinos. Tem queijinho de Deus, tem toucinho do céu, tem pão de Deus. Tudo tentação para te transformar num gordo dos diabos. 

15- É giro. Essa gíria é mara. Até a minha professora de "Estética dos Media", que é toda classuda e parece uma lady, e dá aulas que são verdadeiras odes a Immanuel Kant, não resistiu e falou que um texto de Baudelaire era giro. Só faltou dizer que Baudelaire era maneiro.

16- Por falar nas aulas, é incrível como os professores aqui falam num tom quase joãogilbertiano. Ninguém fala alto. O aluno que fique em silêncio e preste atenção. Nenhum professor em Portugal deve ter problemas nas cordas vocais. 

17- Estou preocupado com a brasileirização de Lisboa. Eu já vi tapioca e pipoca sendo vendidas no metrô, já vi brigadeiro... Só falta coxinha e cajuzinho. Aí será o caos. 

18- Nas livrarias, a literatura estrangeira é chamada de literatura traduzida. Acho uma expressão mais simpática e acolhedora. 

19- Continua calor. Graças aos deuses. Que fique assim para sempre. #Medodoinverno,#Thewinteriscoming.

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