terça-feira, 28 de março de 2017

Ah, como era bom aquele tempo...

O importante é que emoções eu vivi
O que você faria se tivesse roubado muita grana dos seus amigos e fugido do país? Eu não voltaria para casa nunca mais. Mas Mark Renton (Ewan McGregor) achou que 20 anos era o suficiente para os velhos fellows esquecerem aquela pequena diferença e voltou para Edimburgo (Edimbrá no sotaque local). 

Renton é um grande filho da puta. Mas seus colegas Sick Boy Simon (Jonny Lee Miller), Spud (Ewen Bremner) e Begbie (Robert Carlyle) não ficam nem um pouco atrás. E karma é uma parada muito séria. Duas décadas depois do primeiro "Trainspotting" (1996), quando o quarteto de degenerados aprontava poucas e boas na capital escocesa e entornava heroína como se fosse água no deserto, a vida não se mostrou solidária com eles. 

"Trainspotting 2" mostra o grupo de mal a pior. Renton, que havia fugido para Amsterdã (e querem que eu acredite que ele se livrou das drogas logo em Amsterdã), ficou com uma mulher por 15 anos, tem um emprego ruim e voltou para a Escócia porque perdeu ambos. Sua única vitória foi sobre as drogas. Spud, coitado, está cada vez mais sequelado e afundando na heroína. Begbie está preso. Aliás, está na cadeia há 20 anos desde que quebrou tudo naquele quarto de hotel em Londres. Já o pobre Simon virou um golpista em uma relação sem sexo com uma prostituta búlgara chamada Verônika (Anjela Nedyalkova). Seu sonho? Abrir um bordel para ela. Ou seja, está claro que Verônika vai dar uma volta nele. 

É neste cenário nada amigável que Danny Boyle nos reapresenta os personagens que aparentemente andavam afastados desde a trairagem de Renton. E tanto Simon quando Begbie mostram que guardaram algum rancor daqueles tempos. Isso só faz mal às pessoas. Não repitam isso na vida, crianças. 

"Trainspotting 2" é um acerto de contas e uma viagem nostálgica aos acontecimentos do primeiro filme. Aquele sotaque esquisito da Escócia está lá, os cabelos são quase os mesmos, a trilha sonora mudou, mas continua ótima.... porém, a vida dessa galera... Quanta diferença!

São muitas as referências ao filme de 1996. Que vão das lembranças daqueles tempos selvagens ao retrato de uma melancolia dos personagens e uma saudade daquele passado. Mas lá dentro cada um tem ainda uma fagulha dos velhos tempos. 

"Trainspotting 2" é uma viagem que será melhor aproveitada se vista logo depois do primeiro filme para refrescar a memória. Como a memória dos quatro personagens é refrescada de tempos em tempos no filme. 

Boyle fez um trabalho que os fãs certamente vão gostar. Ele é esporrento, berrante, cheio de mágoa, mas também uma reconciliação de uns caras que fizeram muita coisa errada na vida, mas de um jeito até certo ponto torto tentam se perdoar pelo passado e seguir em frente à partir de um ponto em que todos juntos voltam a não ter nada. 

Numa era do cinema marcada pela nostalgia, reboots e retomada de velhas histórias, Boyle acerta em equilibrar o passado com o presente e apresentando um olhar para o futuro. "Trainspotting 2" é, acima de tudo, uma ótima viagem com uma trilha de primeira embalando tudo. E nunca é demais ouvir de novo, em nome dos velhos tempos, Iggy Pop e seu "Lust for life". O filme de Boyle, portanto, ganhará da Corneta uma nota 7,5.


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