quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Minas Facts - parte II

O belo cânion de Capitólio, onde as pessoas podem passear de barco e nadar/ Marcelo Alves
Depois da parte I do "Minas Facts", chegou a hora da Corneta Travel and Adventures divulgar a parte II desta viagem pela Minas PROFUNDA. Sem mais delongas, vamos às impressões malemolentes de Capitólio e adjacências

1- Capitólio, vocês sabem, é uma civilização avançada no meio do nada na Minas profunda. Mal comparando, é uma espécie de Atlântida mineira. 

2- É em Capitólio que você melhor aproveita o chamado MAR DE MINAS. Sim, gente, eu não estou bêbado. Minas tem mar. Cortesia do incomensurável (até eu pesquisar o tamanho) lago criado a partir do Rio Grande pela usina hidrelétrica de Furnas. 

3- Aliás, é na região que você tem a chance de ver a imponência e a agressividade de uma hidrelétrica. É simplesmente impressionante. Mas não visite a área se tiver marca-passo. Não me pergunte o motivo. Estava escrito lá. 

4- "É tão lindo, gente. É uma coisa de Deus mesmo", disse uma jovem perto de mim diante da beleza do lago entre as montanhas. Fiquei com vontade de dizer que não era coisa de Deus, mas de uma empresa, mas não quis cortar o barato dela. 

5- Tal qual lugares de praia europeus, Capitólio oferece passeios de barco pelo lago. É quando você tem a oportunidade do conhecer um CÂNION. E nadar naquela água verde cristalina em uma temperatura para lá de agradável. 

6- Como nem tudo são flores, esses passeios podem ser muito mal frequentados por uma geração de jovens farofeiros que ficam ouvindo música alta, fazendo arruaça e rebolando em cima de barcos. Por comportamentos assim que os tucanos se afastaram do vale deles, o vale que era o habitat destes pobres animais. Agora, os únicos tucanos que frequentam a área são os da espécie politicus brasilianis.

7- Mas nada foi mais ostentação, ousadia e alegria do que ter visto um casal tomando champagne na cachoeira do cânion. 

8- Falar em ostentação, é falar de uma descoberta impressionante desta viagem. No trajeto pela Minas profunda, vimos áreas pobres, humildes, de classe média. Tudo normal deste Brasil que conhecemos. Mas não estava preparado para um enorme bairro/condomínio de milionários encravado em Capitólio. Chama-se Escarpas do Lago e tem certamente um dos maiores PIBs do Brasil.  São mansões com até seis carros na garagem (Porsches, Audis, Mercedes, etc...), jet skis e lanchas particulares e até áreas para o pouso de helicópteros! (Quando você já não tem um helicóptero simplesmente estacionado no jardim). Eu nunca pisei num lugar cujos contracheques fossem com tantas fileiras de números. 

9- Como dinheiro não compra classe, eu vi um jardim com uma enorme estátua de um leão rugindo. Óbvio que tem gente brega na área. 

10- Precisamos falar sobre as rádios do interior de Minas. Amigo, elas só tocam sertanejo universitário. O tempo todo é o único ritmo, aquele balanço de dor de corno e rimas épicas como a de um cantor que tinha uma música cujo refrão rimava NÉ com QUER e com É. Outra canção rimava BUMBUM com HUM-HUM. (É sério!)

11- Diante desse monopólio rítmico, fui fazer uma investigação antropológica para entender os motivos do sucesso presenciado nas ruas e estradas do interior mineiro. Fui para uma festa de réveillon com um show de sertanejo universitário que aconteceria na pacata cidade de Pimhui (NOVE minutos de fogos #ChupaCopacabana). Fiquei impactado com este mundo paralelo do Brasil profundo, com um povo que conhece todas as letras dos grupos e LOUVA a sofrência com uma emoção daquelas de jogar as mãos para o alto e declamar com os olhinhos fechados. E eu não sabia sequer da existência da dupla em questão. 

12- Mas o que é o sertanejo universitário? Basicamente um ritmo em que as pessoas dançam flexionando os joelhos em 17 graus em dois tempos para cima e dois tempos para baixo, dois tempos para um lado e dois tempos para o outro. Tem aquela levada pop e um número limitado de acordes. Salvo os momentos em que o guitarrista fazia um solinho que surgia meio fora de esquadro no contexto do show, acho que até eu poderia me arriscar como guitar hero de dupla sertaneja. E parece que isso dá dinheiro. 

13- Linguiça parece ser um negócio que mineiro adora. Em todo lugar na estrada você encontra o pão com linguiça (ou melhor, linguiças), todo restaurante tem linguiça e eu vi até uma oferta de pão de queijo com linguiça! Infelizmente, não experimentei. Afinal, pão de queijo tem muita imprensa. Sempre preferi broinha.

14- McDonald's? Lojas Americanas? São lendas em Capitólio. Assim como edifícios e táxis. Isso só existe em novela da Globo.

15- A região tem uma série de trilhas que levam para cachoeiras. Umas bonitas, outras com gente farofeira. É preciso escolher bem para não cair no conto do povão com churrasquinho e Skol litrão. A "Trilha do Sol", por exemplo, é maravilhosa e tem cachoeiras bonitas que surgem após caminhadas por lugares também bonitos. Segundo melhor lugar de Capitólio.

16- Mas é claro que você paga para entrar nas melhores cachoeiras. Não existe banho grátis, amigo.

17- A região não é muito pedestre friendly. Os passeios são distantes. Juntando isso com a cultura rodoviária do Brasil, que não tem trem, nem serviços de ônibus satisfatórios, torna desafiador visitar a cidade sem carro. O que é uma pena. 

18- Capitólio também mostrou ainda não estar 100% preparada para o turismo. Algumas coisas deixam a desejar, como o quesito hospedagem. Falo não apenas pela experiência própria, como pelas críticas que li (e não acreditava até ver de perto) quando procurava lugar para ficar. 

19- Cotação da Corneta
Voltaria para Capitólio? Com certeza. O lugar é bonito e ainda há algumas cachoeiras a explorar. 
Moraria em Capitólio? Não. Nem se eu tivesse dinheiro para viver na Escarpas do Lago. Até porque, se eu tivesse dinheiro para viver na Escarpas do Lago eu viveria em Mônaco. 

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