sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Nem tão chatô assim

Marco Ricca brilha como Chatô
"Chatô" levou vinte anos para ser feito. Foi mais tempo que o "Chinese Democracy", do Guns N'Roses. Foi mais tempo do que "Boyhood" (2014), de Richard Linklater, que ao contrário dos exemplos anteriores, propositalmente levou 12 anos para ser finalizado. Foi tanto tempo que dois atores do filme morreram e aparecem nos créditos como "in memorian".

Quando "Chatô" começou a ser feito, o presidente era Fernando Henrique Cardoso, o Real era uma moeda novíssima e o Fluminense nunca tinha sido rebaixado. Naquela época, ainda existia a Iugoslávia (ainda que só Sérvia e Montenegro fizessem parte dela), enquanto iniciávamos nossas conversas no ICQ com a pergunta "quer teclar?". Ah, as madrugadas que passávamos em claro para pagar mais barato pela internet. Nenhuma saudade. Era um outro mundo de um filme que começou a ser produzido em um século e terminou em outro. 

Diante disso, a Corneta esperava que este filme fosse uma daquelas bombas históricas. Mas era uma obrigação moral ver. Eu ouvi o resultado final do "Chinese Democracy". Tinha que ver como "Chatô" nasceu. 

Polêmicas e processos à parte, recadinhos diretos no fim também, "Chatô" decepciona mais pelo personagem em si do que propriamente o filme. Vivido de forma LISÉRGICA por Marco Ricca, Assis Chateaubriand parece um jagunço sem limites, que se acha dono do Brasil (quiçá do mundo) extremamente poderoso, desbocado, misógino (em tempos de #meuamigosecreto ele ia apanhar em pau de arara da mulherada), canalha, entre outras possíveis alcunhas que fariam esse texto ter 4.533.745 parágrafos. 

Mas Chatô também era um louco até certo ponto visionário que comandou um jornal importante na história do Hell de Janeiro, o Diários Associados, e fundou a TV Tupi do zero. Tudo teve relativo sucesso, tudo não existe mais. Pois a mesma ousadia e porra-louquíce que fez Chateaubriand levantar o seu império de comunicação, ajudou a fazer tudo definhar em dívidas. Pelo menos é o que o filme passa. 

O filme de Guilherme Fontes por vezes parece um episódio dos “Trapalhões”. Tem momentos de comédia exagerada padrão Zorra Total. Tudo ali é exagero, tudo é expansivo e às vezes caricato. E a Corneta acha que não funcionou muito bem. 

Por outro lado, a ideia de contar a história de Chatô através de um ensaio quase onírico com um julgamento de sua vida e sua figura tão controversa num show de TV semelhante ao do Chacrinha ficou muito interessante. Pode causar estranhamento em alguns. Outros poderiam achar o filme doido. Eu mesmo demorei a aceitar esta versão pouco ortodoxa da cinebiografia, mas ao fim achei uma boa sacada do Guilherme Fontes. Estrelinha para ele. 

Outro ponto positivo de “Chatô” é a atuação de Ricca como o personagem principal. Apesar de todos os excessos do personagem, ele é o que melhor encarna o seu papel em um filme cheio de ótimos e conhecidos atores com performances, por vezes, abaixo do esperado. O Getúlio Vargas de Paulo Betti talvez seja o maior ponto fora da curva. Prefiro muito mais a versão do Tony Ramos em "Getúlio" (2014). 

Perto do que se esperava (um filme sem pé nem cabeça com uma história montada de qualquer jeito) até que "Chatô" se saiu melhor do que a encomenda. Mas está longe de ser um filmaço, mesmo sendo lançado numa época cheio de filmes brasileiros meia-boca e comédias blergh. Diante de seus pares, Chatô até se sobressai. Mas na análise da Corneta o filme ganhará uma nota 6.

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