sexta-feira, 29 de maio de 2015

Cotação da corneta: 'A incrível história de Adaline'

'How you dooooin' Adaline?'
Já imaginaram como seria incrível viver para sempre e com uma aparência jovem? Parece legal né? Mas Adaline Bowman (Blake “Gossip Girl” Lively) não curte muito esse lance Peter Pan na Terra do Nunca. Enquanto muitos procuram formas de preservarem a juventude fazendo até carteirinha de sócio proprietário no clube dos cirurgiões plásticos (juro que não estou mandando indiretas!), Adaline não precisa se preocupar com isso. Ela tem a mesma aparência de uma mulher de 29 anos, embora tenha 107.

É isso mesmo, queridos leitores da corneta. "A incrível história de Adaline" conta a supostamente extraordinária trajetória de uma mulher que nunca fez uma visita ao Pitanguy. Simplesmente porque ela não tem, nem nunca terá, rugas, pés de galinha ou PAPADA.

Adaline é o Benjamin Button que deu certo. Chegou a um estágio na vida em que parou. Curiosamente, e aparentemente quando apresentava a sua mais EXUBERANTE beleza. Méritos de Blake.

Mas nada disso surgiu por acaso. Ela virou imortal e parou no tempo depois que foi atingida por um raio no meio de uma tempestade quando estava jogada na água após um acidente de carro (é, vocês vão ter que acreditar nisso para continuarem vendo o filme). Ali naquela água mega gelada de um inverno americano, ela tomou um raio na cabeça e não morreu como qualquer pessoa normal faria. Pelo contrário. Ficou imortal. E jovem para sempre.

Acontece né? Ela podia ter virado o Flash de saias. Ou a Tempestade. Mas só foi acometida por uma Síndrome de Dorian Gray. Com a vantagem de nem ter um quadro que envelhece por ela.

Que maravilha ser para sempre jovem. Mas não é bem assim. É aí que o filme que, convenhamos, é bem meia-boca, ganha alguns pontos. O trabalho de Lee Toland Krieger nos leva a fazer uma reflexão sobre o quanto é importante manter o ciclo da vida e do quanto seria complicado e doloroso interromper este ordem natural das coisas.

Isso porque Adaline sofre. Ela tem que viver se mudando e trocando de identidades para que as pessoas não desconfiem que ela não envelhece e não tem sequer um fiozinho de cabelo branco. #inveja

E o grande paradoxo de sua existência é o seguinte: Adaline vive décadas e décadas, acompanha momentos históricos da humanidade, mas não tem uma vida. Não constitui uma família, pois seus potenciais pretendentes vão envelhecer e até a sua filha agora se parece com a sua avó. A morte passa a ser uma companheira frequente dela, pois todos os amigos que vai fazendo por décadas vão ficando pelo caminho pela ordem natural da vida. Suas melhores companhias passam a ser os cachorros, que Adaline frequentemente têm que trocar porque eles também morreu.

Adaline sequer pode tirar selfies para postar no Face. Aliás, ela sequer pode ter um Face. Que vida horrível.

Essas questões são interessantes, mas... é claro que ia surgir um bonitão na história para bagunçar a vida certinha e programada de Adaline. Quando ela preparava uma mudança para a sua nova identidade numa fazenda em Oregon, surge Ellis (Michiel Huisman), um barbudinho hipster cheio de más intenções com ela e com aquela conversinha "are you doing" (Joey eterno) que já sabemos que 90% das mulheres do cinema caem.

Adaline age como aquele tipo de mulher que diz não o tempo inteiro, mas no fundo quer sim. Aquele sorrisinho "investe mais que eu tô gostando" denuncia isso. O cara se sente encorajado. Até que consegue levá-la para sair após uma piada péssima sobre beisebol que nem eu que gosto do esporte consegui entender. Eu não disse que ela estava a fim?

O primeiro date é um fracasso completo. Nos subterrâneos de São Francisco, onde estão fazendo escavações e acham um barco do tempo em que Adaline era uma criança. Mas ela curte, dá uma nova chance e o cara a leva para casa onde ele cozinha um delicioso cachorro-quente gourmet.

Convenhamos, está mais difícil acreditar nessa relação do que no raio que atingiu Adaline e não a matou. A moça também acha difícil a aposta na relação, mas não pelos mesmos motivos da corneta. Afinal, ela tem aquela questão de quem nunca vai precisar dar entrada na aposentadoria na Previdência.

Tomada por angústias, Adaline terá que medir se deseja esse amor impossível, voraz que a consome por dentro ou se permanecerá no seu plano de desaparecer do lugar em que mora a cada dez anos. E a figura do pai de Ellis, William Jones (Harrison Ford), acabará sendo importante para fundamentar as suas escolhas. Ele será responsável por uma virada interessante na história.

"A incrível história de Adaline" tem seus bons momentos e tem uma Blake Lively que age como uma lady do início do século XX em pleno século XXI. Mas o desvio do filme para uma coisa meio conto de fadas e o fato de a história, por vezes, não convencer muito, depõe contra. Assim, o trabalho de Lee Toland Krieger vai ganhar uma nota 5,5 da corneta.

Nenhum comentário: