sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Cotação da corneta: 'O jogo da imitação'

Cumberbatch e seu olhar 43
Da próxima vez que você fizer cara feia nas suas aulas de matemática ou perguntar pra que serve ficar fazendo cálculos de infinito ou raiz quadrada lembre-se de uma coisa: matemática ganha guerras. Pois é basicamente essa a lição que nós recebemos do belo filme (vou logo explanar que o filme é bonzão), "O jogo da imitação". Nele, Benedict Cumberbatch... bem, consigo imaginar gritinhos histéricos de meninas quando escrevo esse nome. Acalmem-se Cumberbitches!

Mas como eu ia dizendo, nele Benedict Cumberbatch, nosso futuro Doutor Estranho e atual melhor Sherlock Holmes do momento, vive o matemático Alan Turing. Este veio a ser um gênio que criou uma máquina capaz de decodificar o sistema Enigma, uma parada muito sinistra usada pelos nazistas para realizar ataques na II Guerra Mundial. Esta máquina sensacional e totalmente excelente poderia ser considerada uma espécie de avó dos computadores. Turing, inclusive, é considerado um dos pais da ciência da computação. Corneta é cultura, meus caros.

Com o seu brinquedinho, Turing ajudou os aliados a vencer a guerra. Sem ele, não haveria a Batalha de Stalingrado, desembarque na Normandia no dia D (pelo menos é o que o filme diz) e a filmografia de Steven Spielberg sofreria baixas consideráveis.

Resumindo, o cara foi um herói de guerra atuando de uma cidadezinha do interior da Inglaterra chamada Bletchley. A questão é que Turing tinha um problema que era considerado grave naqueles tempos ainda mais preconceituosos: era gay.

Naquela época, ser homossexual no Reino Unido era considerado crime com pena de prisão ou um tratamento hormonal violento que prometia reverter o que era chamado de "doença". Sim, o mundo já foi ainda mais idiota. Em um ano, Turing sofreu com as consequências desse tratamento hormonal e acabou vindo a falecer em junho de 1954. O filme de Morten Tyldum encampa a tese de suicídio, o que ainda é contestado. Ele também toma outras liberdades em relação à história real para tornar o filme mais, digamos, hollywoodiano.

Cumberbatch compõe um Turing com todas as características de gênios incompreendidos. Manias, tiques, arrogância, presunção, sensação de não fazer parte daquele mundo e viver num mundo particular, isolamento, dificuldade de se socializar, enfim, um personagem típico de concorrente ao Oscar que ele é. Só não sabemos se vai ganhar, pois neste ano temos outro personagem no estilo gênio com dificuldades e que tudo supera para atingir o seu objetivo, o físico Stephen Hawking, interpretado por Eddie Redmayne, em "A teoria de tudo". o ator ganhou o Globo de Ouro e parece ser favorito ao Oscar. A corneta ainda não teve tempo de conferir se ele é essa última cocada da festa junina mesmo.

Contracenando com Cumberbatch, há um verdadeiro catadão de algumas das principais séries do momento. Temos Charles Dance, o Twyn Lannister, de “Game of Thrones”, que faz o comandante Denniston. Rory Kinnear, o primeiro-ministro inglês de “Black Mirror”, que faz o detetive Robert Nock, policial que prende Turing nos anos 50, e Allen Leech, que faz um dos auxiliares de Turing e ainda manteve algumas das características do Tom Branson de “Downton Abbey”. Quem ver o filme, vai entender o que eu quis dizer.

Junto com essa turma, está Keira Knightley, com aquela mesma atuação que conhecemos. Uma mistura de Anna Karenina sofrida + mocinha de Jane Austen e cuja indicação ao Oscar soou como exagero (mais um, vão computando). É apenas ok. Nada que não tenhamos visto ela fazer igual. No filme, ela faz Joan Clarke, que viria a ser uma importante parceira de Turing e o ajudaria a se enturmar com a equipe de trabalho dele.

"O jogo da imitação" lembra para mim um pouco "Uma mente brilhante" (2001), filme vencedor de quatro Oscar, entre eles o de melhor filme de 2002. Isso porque o trabalho de Ron Howard também falava de um matemático, John Nash, famoso por ter desenvolvido a Teoria dos Jogos. Nash também era genial, antissocial, mas sofria de uma doença real, a esquizofrenia.

O filme de Morten Tyldum é igualmente muito bom. Não é à toa que recebeu oito indicações ao careca dourado. Entre elas a de melhor filme. Não sei se vencerá no dia 22 de fevereiro (é provável que não), mas da parte da corneta "O jogo da imitação" ganhará uma nota 8.

Indicações ao Oscar: filme, ator (Benedict Cumberbatch), atriz coadjuvante (Keira Knightley), diretor (Morten Tyldum), roteiro adaptado (Graham Moore), edição, trilha sonora original e design de produção.

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